PT retira urgência da reforma política
- Posted by: Ass. Imprensa
- Posted in Beto na Mídia
- Tags:
O GLOBO
O GLOBO, 10/03/2004
PT retira urgência da reforma política
Deputado da base pede convocação de Dirceu para falar de Waldomiro
BRASÍLIA. Ainda sob o efeito do escândalo Waldomiro Diniz, o governo enfrentou ontem mais um dia de paralisia no Congresso. Com um agravante: a tensão que toma conta do Senado invadiu a Câmara dos Deputados e a oposição ameaça obstruir os trabalhos se não for instalada a CPI dos Bingos. Já inquietos com a queda do PIB e com o tímido ritmo para atendimento de
emendas parlamentares, três partidos aliados – PTB, PL e PP – se rebelaram ontem contra a decisão do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), de dar caráter de urgência para a reforma política. O PT, depois, acabou retirando as assinaturas do pedido de urgência para a reforma política.
Os presidentes e os líderes dos três partidos saíram de um almoço na casa do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, anunciando a obstrução da pauta da Câmara até que João Paulo mude de idéia.
Os líderes do governo procuraram os rebelados.
– Fomos usados. No momento de adversidade, apoiamos o governo. Agora, o partido do presidente se une aos adversários contra nós – disse o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE).
– Entre ser governista e ser deputado, preferimos ser deputados. Porque a reforma, do jeito que está, não permitirá que eu seja deputado – disse o líder do PL, Sandro Mabel (GO).
Miro: Sou contra o mérito da reforma política Na reunião com o líder do governo, Miro Teixeira (sem partido-RJ), os aliados insistiram em alertar para o risco de o governo levar a crise do
Senado para a Câmara.
– Não façam isso comigo! Sou contra o mérito da reforma política. Mas não podemos misturar o assunto. Não podemos nos dividir aqui. Esta Casa não pode se dividir – disse Miro.
PL, PTB e PP conseguiram tirar a reforma política do regime de urgência, manifestando-se contra dois pontos em especial: financiamento público e lista fechada.
– O Waldomiro erra e o povo é que paga pela eleição dos deputados? – perguntou Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Não bastasse a indignação com a reforma política, incluída em regime de urgência sem que a base fosse consultada, os aliados se queixaram da dificuldade para liberação das emendas. O vice-líder do PT, Professor Luizinho (SP), reconhece que o cronograma de liberações talvez não seja iniciado na semana que vem:
– Vou conversar com o ministro Aldo (Coordenação Política). Mas se adiar uma semana, o mundo não pode cair por causa disso.
O vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), disse que o governo precisa sair do imobilismo e negociar com a oposição a votação das medidas provisórias que trancam a pauta da Câmara dos Deputados:
– Jacaré parado vira cinto ou sapato. Tá na hora de o governo andar.
Falta de acordo atrapalha a instalação de comissões
Além do excesso de MPs, outro problema atrapalha as votações de projetos de interesse do governo na Casa: a falta de acordo para a distribuição das comissões permanentes entre os partidos.
Com isso, além de não conseguir votar projetos, os deputados também não podem trabalhar nas comissões, uma vez que elas nem sequer foram instaladas.
Durante a convocação extraordinária de janeiro, o presidente da Câmara e os líderes partidários negociaram a alteração de pontos do regimento interno da Casa.
Já a Comissão Mista de Orçamento se transformou num campo de batalha entre governo e oposição e mesmo entre partidos da própria base aliada. Ontem, foi feita mais uma tentativa frustrada de votação do Plano Plurianual (PPA).
Para complicar ainda mais o quadro, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), da base do governo, apresentou requerimento convocando o chefe da Casa Civil, José Dirceu, para prestar esclarecimentos sobre a eventual interferência de seu ex-assessor Waldomiro Diniz na elaboração do PPA.
– É preciso que o ministro explique a ação de Waldomiro Diniz no Orçamento. O comparecimento de José Dirceu é necessário até mesmo para reduzir as pressões que pesam sobre ele no Congresso – disse Ricardo Barros.
Catia Seabra, Isabel Bragae Valderez Caetano