Nova dor de cabeça para Lula: Miro deixa cargo
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O Globo, 25/03/2004
Nova dor de cabeça para Lula: Miro deixa cargo
O deputado Miro Teixeira (sem partido-RJ) anunciou ontem que deixou a liderança do governo na Câmara. A decisão do deputado, revelada ontem pelo GLOBO, surpreendeu a base aliada e foi recebida pelo Palácio do Planalto como mais um problema na atual crise política. Segundo assessores palacianos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está conformado com a decisão de Miro e passou a analisar a escolha de outro nome para a função.
Miro deve formalizar sua filiação ao PPS ainda esta semana. A disputa pela vaga de líder do governo na Câmara já começou.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), confirmou que as negociações para que Miro entre no partido estão bem avançadas.
– As chances de Miro ir para o PPS são quase plenas. Faltava ele falar com algumas pessoas e com o governo, o que já aconteceu – disse Freire.
Freire disse que Miro deve integrar a direção nacional do PPS e que sua entrada no partido pode acontecer ainda esta semana, antes do Congresso Nacional do partido, que começa sexta-feira, em São Paulo.
PPS, PSB e PT também querem Miro
O candidato mais forte no Planalto para ocupar o cargo deixado por Miro é o deputado Professor Luizinho (PT-SP), vice-líder do governo. Contra ele, segundo um ministro, pesa o fato de ser do PT de São Paulo, que já tem uma grande representação no governo federal, e de ter um temperamento muito explosivo.
Outro nome em análise é o do deputado João Hermann (PPS-SP). Também foi cogitado o nome do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça.
O PSB defende o nome do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo.
Miro ontem disse que precisa se dedicar à reestruturação de sua vida
partidária.
– Estou procurando um novo partido e não quero criar constrangimentos ao
governo.
O PSB ainda tinha ontem esperança de ter Miro em suas fileiras. Os socialistas gostariam que ele se tornasse o principal nome do partido no Rio de Janeiro. Os socialistas estão sem uma grande liderança no estado desde que o ex-governador Anthony Garotinho foi para o PMDB.
– O convite já foi feito e está de pé – disse ontem o líder do PSB, deputado Renato Casagrande (ES).
Os problemas do Miro são os de todo o governo
O PT também vai insistir para que Miro se filie ao partido. Em conversas com líderes do PT, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, defendeu o empenho do partido para atrair Miro.
Apesar do momento político ruim para o governo, muitos líderes aliados viram a saída de Miro como uma solução para melhorar o relacionamento entre a Câmara e o Palácio do Planalto. Segundo esses mesmos aliados, Miro ficava contrariado por ter de cuidar dos problemas cotidianos da liderança, como os pedidos de nomeações feitas por parlamentares.
Muitos desses compromissos haviam sido assumidos por Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil flagrado cobrando propina de Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Era de Waldomiro a tarefa de negociar barganhas nas votações em troca de liberações de emendas dos parlamentares.
– Miro é muito experiente, mas não estava resolvendo os problemas corriqueiros da liderança. Ele deve deixar o cargo para alguém com um pouco mais de paciência para assumir os deputados – disse o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE).
Segundo aliados, a saída de Miro mostra que o governo está com grandes problemas.
– Está tudo muito ruim. Os problemas do Miro são os mesmos de todo o governo: não existe articulação política. Falta mais diálogo entre parlamentares e o governo. Os ministros não dão retorno, não atendem deputados. Ninguém fala conosco. A insatisfação é grande. Isso está virando uma epidemia – observou o líder do PTB na Câmara, deputado José Múcio (PE).
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Uma curta permanência
O deputado Miro Teixeira (sem partido-RJ) assumiu no dia 26 de janeiro o posto de líder do governo na Câmara prometendo diálogo com a oposição e rigor no cumprimento dos prazos de tramitação da emenda constitucional que altera a reforma da Previdência, a PEC paralela. Ele ficou menos de dois meses no cargo. Ao assumir, cogitou a possibilidade de se filiar ao PT.
Miro substituiu o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que assumiu o comando da coordenação política como ministro.
Antes da liderança do governo, Miro era o titular do Ministério das Comunicações e foi sucedido por Eunício Oliveira.