Governo Federal Hora de retomar as rédeas

Mar 26 2004
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Zero Hora

Zero Hora, 26/03/2004

Governo Federal Hora de retomar as rédeas

É preciso retomar as rédeas da bancada governista. Esse foi o enfoque da reunião de emergência que entrou madrugada adentro na residência do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), na quinta-feira. Se o vinho chileno Gran Tarapaca, o filé ao molho madeira e o macarrão com camarão desceram bem para os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Aldo Rebelo (Coordenação Política), as queixas da base do governo no Congresso amargaram o paladar dos representantes do núcleo da Presidência da República.

A primeira conclusão foi óbvia: é urgente a escolha do novo líder na Câmara, lacuna que causou uma paralisia na Casa e reforçou os ataques da oposição. A decisão deve ocorrer até terça-feira. Definido o novo líder, reuniões como a de ontem devem se repetir a cada semana. O tom é de saudosismo, de um tempo em que governo atropelava a oposição nas votações no Congresso, esbanjando ampla maioria. Não é à toa que além de Dirceu, Palocci e Rebelo, participaram do encontro os agora ministros Eunício Oliveira (PMDB) e Eduardo Campos (PSB), líderes de seus partidos à época em que a agenda do governo fluía com facilidade no Congresso.

– Time que não treina perde força física e o jogo – afirmou durante o encontro o deputado gaúcho Beto Albuquerque, um dos mais cotados para exercer a função de líder do governo.

Desfilando com desenvoltura nos corredores do Congresso como se já estivesse imbuído da nova tarefa, Albuquerque criticou a falta de rumo dos governistas, acusando-os de ingenuidade ao importar a pauta da oposição.

A referência de Albuquerque se deve às críticas à política econômica desferidas por setores do PL, do PMDB e até do PT. Durante a reunião, Palocci disse compreender as insatisfações, mas pediu cautela nas críticas diante do que chamou de fragilidade da economia brasileira. Em troca do apoio, Palocci prometeu liberar as emendas de parlamentares, apagando um dos focos de insatisfação da base. O outro é mais fácil de o Executivo resolver: a falta de atenção para com os parlamentares. Eles se queixaram da demora de até três meses para serem recebidos por um diretor de quinto escalão do governo. Reorganizar a coordenação entre o Executivo e a base será uma das funções do novo líder, tarefa na qual Miro Teixeira fracassou. Na corrida pela sucessão, o PT largou na frente e lançou o nome do deputado Professor Luizinho (SP) para o cargo. No Congresso todos apostam em Albuquerque. Além de mais trânsito entre a oposição, a escolha do socialista resolve outro problema: afasta-o da disputa à prefeitura de Porto Alegre.

– Se o governo for esperto, resolve dois problemas num lance só – comentou um parlamentar.

KLÉCIO SANTOS/ Agência RBS/Brasília