Governo desconfia de aliados e busca oposição
Apr
01 2004
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Folha de S. Paulo
Folha de S. Paulo, 01/04/2004
Governo desconfia de aliados e busca oposição
As últimas rebeliões dos partidos governistas na Câmara dos Deputados
levaram o Palácio do Planalto à conclusão de que não pode depender só dos
aliados em votações importantes. Pressionado por legendas governistas que
aproveitaram a crise política para cobrar verbas e mais espaço na
administração, o Planalto vai fortalecer a relação com setores dos
oposicionistas PFL e PSDB com o objetivo de ter um seguro para situações
como a atual.
A Folha apurou que o Planalto acredita ter hoje uma base aliada na Câmara
muito mais instável do que tinha no ano passado, quando as reformas
tributária e da Previdência foram a voto no Congresso. Na época, o governo
avaliava ter um apoio seguro de cerca de 400 dos 513 deputados. Mesmo assim,
teve que contar com o voto de setores da oposição para aprovar as reformas.
Hoje, estima ter uma margem de segurança de pouco mais de 300 votos.
Esse número é suficiente para a aprovação de projetos mais simples, mas
complica a situação governista no caso de emendas à Constituição, por
exemplo, que exigem o voto de 308 deputados.
Os partidos governistas somam 381 votos, mas há dissidências nos principais
aliados, entre eles PMDB, PTB, PP e PL. Os quatro patrocinaram, na semana
passada, a rebelião contra o governo, exigindo a liberação de verbas das
emendas parlamentares e a nomeação de indicados para cargos.
Eles ameaçavam derrubar a medida provisória que proíbe o funcionamento de
casas de bingo no país, que acabou sendo aprovada na noite de anteontem. Só
depois que o governo se comprometeu a atender parte dos pleitos é que os
partidos retomaram o apoio.
A MP -resposta do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao caso Waldomiro
Diniz- passou por 295 votos a 73. Dos votos contrários, 38 eram de aliados.
Um que chamou a atenção foi o do deputado Roberto Freire (PE), presidente do
aliado PPS. O governo já está acostumado com a independência do PPS,
afirmou Freire, que disse ser a favor da proibição, mas contra a sua adoção
via MP, que seria inconstitucional.
Sempre disse que a base aliada é quantitativamente sólida, mas
qualitativamente frágil. Se o governo for inteligente, continuará a ter uma
relação com a oposição como forma de substituir, eventualmente, os votos que
a base negar, afirmou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA),
que lidera a ala pefelista que vem dando apoio ao governo.
A avaliação que o Planalto faz, atualmente, é que o PMDB -segunda maior
bancada governista- tende a se dividir, a exemplo do ocorrido no governo
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Peemedebistas afinados com o Planalto
dizem que enfrentarão oposição principalmente dos setores do partido que
davam mais apoio a FHC, das bancadas do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso
do Sul -rivais do PT- e dos deputados ligados ao secretário de Segurança
Pública do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho.
O receio em relação a PP, PTB e PL, as maiores bancadas aliadas depois do PT
e do PMDB, é que voltem a condicionar o apoio à liberação de mais verbas ou
nomeações justamente nos momentos cruciais no Congresso.
Nossa base está coesa, se o governo cumprir o que prometeu aos aliados, não
tem problema. Não pode é assumir compromissos e não cumprir, disse o
deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos vice-líderes governistas.