PT se isola nas capitais e perde aliados para elei

Apr 12 2004
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O Estado de São Paulo

O Estado de São Paulo, 12/04/2004
PT se isola nas capitais e perde aliados para eleição

O PT já está sentido o peso da queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e começa a ter dificuldades para que os partidos da base aliada ao governo no Congresso marchem unidos nas eleições municipais de outubro. Na maioria das capitais e das grandes cidades, os aliados estão lançando candidatos próprios na disputa eleitoral, a começar pelo PT. Este comportamento está impedindo alianças com seus aliados históricos, pondo em
risco a meta de conquistar, nestas eleições, 12 capitais – hoje os petistas comandam 8.

A ofensiva do PT em ser cabeça de chapa já provocou um racha com o PC do B.

Apesar da diretriz do comando nacional do PT, o diretório municipal se negou a apoiar a candidatura do comunista Inácio Arruda à prefeitura de Fortaleza e lançou a deputada estadual Luizianne Lins. Em represália, os comunistas decidiram lançar a deputada Jandira Feghalli à prefeitura do Rio, contra o petista Jorge Bittar.

Foi um desastre. A candidatura em Fortaleza inviabilizou um acordo nacional com o PC do B. Vamos conversar com o PT de Fortaleza para tentar demovê-lo da idéia de candidatura própria, diz o presidente do PT, José Genoino.

Estava mais do que na hora de termos candidato próprio. Nas duas últimas eleições apoiamos o Inácio, defende o deputado João Alfredo (PT-CE). O processo de Fortaleza foi muito ruim porque gerou uma insegurança grande e deixou todo mundo de orelha em pé, afirma o líder do PC do B, deputado Renildo Calheiros (PE).

Para ele, a falta de alianças entre os partidos da base na disputa municipal acabará respingando no governo federal. Não há grande esforço do governo para as alianças. O PT quer o maior número possível de prefeituras. Mas quem tem mais força para garantir a aliança tem de ser mais generoso, diz. O PT ainda não se deu conta de quanto é importante a base estar unida em muitas cidades. Calheiros cita o exemplo de São Paulo, onde a candidata à reeleição, Marta Suplicy, decidiu lançar uma chapa puro-sangue, tendo como vice o petista Rui Falcão. Resolveram fechar uma chapa sozinhos em vez de costurar uma chapa mais ampla com o PMDB.

Vamos sustentar governo. Afinal este é um governo de coalizão. Mas não vamos misturar isso com as alianças para as eleições municipais, sentencia o presidente do PMDB, deputado Michel Temer, que vai concorrer à Prefeitura de São Paulo. Há dois meses, PMDB e PT estavam dispostos a ser parceiros no maior número possível de municípios. Mas fizemos um levantamento e vimos que seria inviável montar essa parceria na maioria dos Estados. E não vamos impor nada de cima para baixo.

Sem agressão – Além de São Paulo, já é certo que peemedebistas e petistas vão marchar separados em Porto Alegre, Recife, Rio e Campo Grande. Onde não for possível fazer aliança, vamos pactuar para não haver agressão nem ataques para não respingar no governo federal, diz Genoino.

Mas os ânimos entre os aliados deverão ficar acirrados na disputa. Em Porto Alegre, já está efetivado o racha na frente popular dos partidos de centro-esquerda. O PSB vai lançar o deputado Beto Albuquerque contra o petista Raul Pont. É bom mesmo que o Beto seja candidato porque só assim teremos alguém para defender o governo Lula lá no Rio Grande do Sul, ironiza um petista.

O PT comanda 8 capitais – São Paulo, Porto Alegre, Recife, Goiânia, Belo Horizonte, Belém, Aracaju e Macapá – e tem 194 prefeituras. Antes das diferenças na base ficarem explícitas e inviabilizarem as alianças, os petistas pretendiam dobrar o número de prefeituras sob o seu comando. Mas é uma base tão ampla que o governo vai ter de administrar principalmente nas
capitais as diversas candidaturas de aliados, diz João Alfredo. Uma coisa são as operações para compor a base de apoio, outra é a disputa eleitoral, observa o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP).