Para Caleb, Beto é opção da esquerda em Porto Alegre

May 17 2004
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Jornal do Comércio

Jornal do Comércio,17/5/2004
Para Caleb, Beto é opção da esquerda em Porto Alegre

Na seqüência de entrevistas especiais com os presidentes dos partidos que deverão estar na disputa da prefeitura da Capital, Caleb de Oliveira, que comanda o PSB gaúcho, fala sobre as eleições municipais deste ano e a disposição do partido em ampliar sua base política e administrativa no Estado, principalmente em Porto Alegre. Pré-candidato do partido à prefeitura de Caxias, Caleb afirma que o PSB pode ser o diferencial pela esquerda que deseja o eleitor da Capital, explica como o partido enfrentará o fato de ser governo, com o PT, no plano nacional e oposição ao PT em Porto Alegre. Analisa, ainda, os primeiros 500 dias dos governos Lula e Rigotto, depositando esperanças de crescimento no plano nacional e tecendo críticas à falta de projeto no Estado.
Por Fernanda Crancio e Milton Gerson
Jornal do Comércio – Como o PSB está se preparando para enfrentar a sua primeira eleição com chapa majoritária própria, desde que Fúlvio Petracco disputou o pleito em 1988, ano em que o PT conquistou o primeiro mandato na Capital?
Caleb de Oliveira – O partido está vivendo um momento bastante rico. Na última eleição, em 2002, saímos com candidaturas próprias em todos os níveis e isso fez com que o partido tivesse um grau de exposição bem maior. As pessoas passaram a ver o PSB como alternativa. Por conta disso, existe uma orientação em nível nacional de procurar consolidar candidaturas próprias no maior número de cidades, com destaque para os pólos regionais e assim por diante. Estamos com pré-candidaturas em 22 capitais. No caso do Rio Grande do Sul, a direção estadual fez um trabalho no sentido de procurar identificar aqueles lugares onde o partido tem condições de ter candidaturas. Nós estamos hoje com cabeças-de-chapa em 48 municípios. E vejam que esses 48 municípios representam cerca de 80% do eleitorado gaúcho. Atualmente, temos oito prefeitos e sete vices. O partido também fez quatro grandes seminários regionais, em Caxias, Passo Fundo, Esteio e Pelotas, abrangendo quatro regiões do Estado. E mais um conjunto de trinta seminário locais de menor porte, visando orientar nossos candidatos sobre as peculiaridades de uma disputa municipal. Essa é a nossa principal preocupação. Temos candidaturas em Porto Alegre, Caxias, Canoas, Pelotas, ou seja, em todas as cidades aonde tem segundo turno. Em termos de perspectivas eleitorais, isso é sempre uma coisa arriscada. Mas nós temos condições de vencer a eleição nessas grandes cidades. Nas cidades que administramos, todos os prefeitos tentarão a reeleição. Damos destaque a Esteio, onde estamos indo para um terceiro mandato, e Pelotas, que terá o atual vice-prefeito Mário Filho como nosso candidato, Caxias, onde eu concorro, e Santana do Livramento, onde o Vainer Machado concorre depois de ter feito um terço dos votos em 2000. Nós teremos participação em 170 municípios do Estado, que detêm 90% do eleitorado; aproximadamente 1.500 candidatos a vereador, ampliando a nominata que em 2000 ficou em cerca de mil candidatos. A nossa expectativa é eleger de 200 a 250 vereadores no Estado. Hoje, nós temos 110 vereadores no Estado. Nossa intenção é dobrar esse número.
JC – E em Porto Alegre como se desenha o quadro eleitoral a partir da candidatura do deputado Beto Albuquerque?
Caleb – Em Porto Alegre nós temos uma boa chapa. Mantemos a nossa bancada na Câmara Municipal há várias legislaturas com o companheiro Carlos Garcia. O Pirulito também tem sido suplente em diversas legislaturas. Dessa vez vamos sair com chapa própria e com a perspectiva de aumentar nossas cadeiras na Câmara Municipal. Pretendemos eleger pelo menos dois vereadores em Porto Alegre. Temos a convicção que existe um grande espaço para o crescimento da candidatura do deputado Beto Albuquerque na disputa pela prefeitura da Capital. Estamos indo para essa eleição com a franca disposição de estarmos no segundo turno, até porque nós achamos que as demais candidaturas não apresentam nada de novo para Porto Alegre. Temos todo o respeito pelas administrações que passaram pela cidade, mas achamos que chegou o momento de inovação através de outra força de esquerda. Porto Alegre tem que sacudir um pouco essa poeira de 16 anos de gestão do PT, sem abrir mão das coisas bem feitas até agora.
JC – A decisão do PSB em ter candidatura própria se deve a pouca participação do partido nas administrações petistas?
Caleb – A participação do PSB nos governos de Porto Alegre sempre foi muito pequena. Não dá para comparar com outros grandes municípios do Estado, como é o caso de Pelotas, onde nós, dentro da Frente Popular, temos o vice-prefeito e em Caxias, onde temos uma participação destacada há dois mandatos. Eu mesmo fui secretário-geral de governo, da Administração e atualmente temos a secretaria da Fazenda e do Turismo. Então, podemos dizer que estamos no centro do governo. Em Porto Alegre isso não acontece. Atualmente, nós temos participação apenas no DEP, o que é uma fatia periférica da administração. Tanto em Porto Alegre como no restante do Estado, o PSB assume francamente um caminho próprio. Essa é uma orientação nacional. Em Caxias, por exemplo, não temos nenhum tipo de problema com o PT. Tanto é verdade que continuamos a participar do governo Pepe Vargas. Agora, quando se participa de um governo de frente, há que se respeitar as diversas opiniões existentes. É óbvio que o partido do prefeito sempre irá exercer uma influência maior, e é isso que estamos procurando também. Na verdade, o PSB não se coliga tradicionalmente com a Frente Popular em todos os municípios gaúchos ou em todo o País. Temos casos de coligações com diversos partidos de perfil progressista. É importante ressaltar que o PSB não se sente desvalorizado pelo PT e nem por qualquer partido. Se optamos por um caminho próprio, é porque queremos implementar um programa de governo do partido. Não estamos rompendo com ninguém. Apenas queremos crescer.
JC – O fato do deputado Beto Albuquerque não ser de Porto Alegre e até bem pouco tempo ter o seu domicílio eleitoral em Passo Fundo não prejudica a sua incursão em Porto Alegre?
Caleb – Nós achamos que a candidatura é viável exatamente em função das repetidas grandes votações que o deputado Beto vem fazendo em Porto Alegre. O primeiro aspecto que nos levou a considerar esse fato foi ele ter feito grandes votações na Capital, mesmo quando não tinha ali o seu domicílio eleitoral. O Beto mora e reside em Porto Alegre e os filhos dele se criaram na cidade. Portanto, a ligação dele com a cidade é antiga. Então, não é nenhuma novidade ele ser um candidato que nasceu em outra cidade. Essa é uma questão que respondi quando fui candidato ao governo do Estado em 2002. E ela continua presente porque é natural.
JC – Como o PSB vai explicar o fato de estar na base de apoio ao governo Lula? Isso não limitará as críticas ao PT na campanha em Porto Alegre?
Caleb – O governo federal tem uma base de partidos que o apoia. Portanto, do mesmo modo que questionam o PSB por lançar candidatura própria, devemos lembrar que o PMDB, aliado do presidente Lula, também vai disputar a prefeitura de Porto Alegre. Tirando o PSDB, o PFL e o PDT, praticamente todos estão na base de apoio do governo. Não é novidade a disputa municipal entre aliados no nível nacional. É extremamente comum partidos que fazem parte de um governo apresentarem candidaturas diferentes em outras eleições. Em segundo lugar, nenhum partido acerta sempre. O fato de fazermos parte de um governo não significa a total concordância com tudo que o mesmo faz. Especialmente quando há diversos partidos compondo um governo. Nós queremos preservar as boas idéias e mostrar o que poderia ser feito se nós estivermos à frente da administração. Na área da segurança, nós achamos que os municípios devem ser mais atuantes. Sabemos que essa é uma obrigação constitucional dos estados. No entanto, os municípios, com suas guardas municipais, podem auxiliar muito a segurança pública estadual. Existem inúmeras tarefas que poderiam ser assumidas pelo município. A habitação é outra questão não aprofundada por diversos governos municipais, quando para nós é fundamental, embora difícil de ser atacada. O governo Lula não é só do PT. Lá estão o PT, o PSB, o PCdoB, o PL e também o PMDB. O fato de apoiarmos o governo Lula não implica estarmos unidos com o PT em todos os municípios.
JC – Houve alguma resistência interna, de grupos que desejavam se manter aliados com o PT, ao lançamento da pré-candidatura do deputado Beto Abuquerque a prefeito de Porto Alegre?
Caleb – Apesar de ser uma discussão estrita ao PSB de Porto Alegre, posso dizer que nunca ouvi descontentamentos pela escolha do deputado Beto como candidato a prefeito. Desde o primeiro momento houve aplausos e satisfação por parte do conjunto do partido. Desconheço qualquer setor do partido que tenha aberto discordância quanto à decisão de lançar o deputado na Capital. A nossa política de alianças ainda se encontra num momento de definições. Até junho, todos os partidos permanecem conversando. São raros os lugares onde já existam quadros perfeitamente definidos. Em nenhum grande município do Estado o quadro eleitoral está definido. A Capital está inserida nesse contexto. É verdade que estamos conversando com todos aqueles interlocutores mais óbvios. Nesta semana eu tive uma conversa com a direção estadual do PTB, buscando encontrar lugares onde poderíamos chegar num acordo. Também mantivemos contato com outros partidos em Porto Alegre, como o PV, o PCB, o PCdoB e o PTB.
JC – E como está o quadro para os municípios da Região Metropolitana?
Caleb – Temos candidatura óbvia em Esteio. Em Viamão poderemos fazer uma aliança com o PP e em Sapucaia existe a possibilidade de indicarmos o vice do deputado Édson Portilho.JC – E no caso da sua candidatura em Caxias. Como vai administrar a própria campanha e a agenda de presidente da sigla?Caleb – Minha agenda está bastante complicada. São pouquíssimas horas de sono, quando é possível. Geralmente vou a Porto Alegre à noite e retorno a Caxias ao meio-dia. Pelo menos três a quatro vezes por semana faço isso. Sem falar dos roteiros realizados pelo Interior. JC – A campanha em Caxias vai ser intensa e apresenta nomes fortes para a disputa. Como superá-los?Caleb – Nós temos um conjunto de candidaturas e cada uma tem a sua história. Vai ser um processo eleitoral muito complicado e tudo indica que não teremos frentes muito amplas. Serão cinco ou seis candidaturas no primeiro turno, o que na verdade embola a disputa política. Todas elas tem seus aspectos positivos e negativos. Na minha avaliação, é impossível dizer agora quem irá para o segundo turno em Caxias. O processo eleitoral é que vai definir o quadro. E isso não deixa de ser um estímulo para nossa candidatura. Nós estamos conversando com o PV e PCdoB e o mapa de alianças ainda está muito aberto.
JC – Qual a sua avaliação dos primeiros 500 dias do governo Rigotto?
Caleb – Em relação ao governo Rigotto, nós estamos surpresos com seu grau de fragilidade. Depois de muitos anos, estamos vendo um governo que não sabe encontrar alternativas para honrar os compromissos com o funcionalismo público e com a economia estadual. O que há, é uma busca desesperada em pegar dinheiro da União para tentar salvar a pátria e esse caminho é para nós muito inquietante. A verdade é que o governo Rigotto está totalmente perdido e não encontrou seu caminho. Se nós compararmos com o governo anterior, do qual nós fazíamos parte, nós vamos ver que o governo jamais atrasou salários, realizou mais obras, com destaque para os transportes, comandada na época pelo PSB. Os investimentos nesse área foram parados pelo atual governo. Apesar de todas as dificuldades financeiras, o governo da Frente Popular não parou sua política de realizações. Criamos a Uergs, uma luta histórica do PSB, e que hoje vemos fragilizada nas mãos desse governo. A única coisa em que vemos a mobilização do governo estadual é em torno daqueles créditos que seriam devidos pelo governo federal, o que na verdade foi descoberto e mostrado pelo governo Olívio. Esta é uma pauta do governo passado. Portanto, nem nessa tentativa desesperada de obter recursos de algum lugar, está havendo um grau de originalidade e resolutividade. Seguindo esse caminho, o governo Rigotto leva o Rio Grande para um processo de esfacelação
.JC – E qual a sua avaliação para o mesmo período do governo Lula?
Caleb -O governo Lula assumiu o País em condições muito adversas. A economia estava numa situação de extrema fragilidade, com câmbio elevado, inflação alta e risco-Brasil nas alturas. Mesmo assim, o governo conseguiu estabilizar a economia já no primeiro ano de mandato. Recuperamos a credibilidade do País no exterior, geramos superávits e diminuímos o risco-Brasil. Nós achamos que, superada essa fase de ajustes, o governo deve partir para a obtenção de resultados concretos. Não concordamos com a tese da oposição, que aponta uma paralisação do governo. Tanto é que os indicadores econômicos mostram que os problemas estruturais estão sendo diminuídos. Não será retórica de plenário que vai esconder esse fato. A cobrança que nós fazemos é no sentido de que o restante da pauta seja acelerada o máximo possível, principalmente na questão do emprego e das demais demandas sociais. Nossa cobrança é fraterna e visa ajudar o governo.