Transparência e cidadania

Jul 02 2004
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Zero Hora

Zero Hora, 02/07/04
Transparência e cidadania

Os debates de pré-candidatos promovidos pela RBS TV em 12 das principais cidades do Rio Grande do Sul, incluindo a Capital, possibilitaram aos cidadãos uma primeira visão dos homens públicos que se propõem a governá-las nos próximos quatro anos. Visivelmente marcados pela tensão e pelo nervosismo desse que era o primeiro confronto da campanha, os encontros mostraram-se pobres em propostas, mas guardaram um bom nível de relacionamento entre os candidatos, fato que de resto foi favorecido pelo esquema rígido do debate aprovado pelos partidos.

Felizmente o bom nível das discussões parece indicar que os partidos e coligações se propuseram a uma campanha sem ataques pessoais, o que não significa que seja sem cobranças. As propostas, que compreensivelmente ainda estão pouco estruturadas, geralmente giraram em torno de algumas questões que são fundamentais: a prestação dos serviços públicos, os problemas de saúde, a necessidade de dar um novo rumo para a educação e a segurança, as carências de infra-estrutura e as maneiras de fazer as cidades crescerem e gerarem empregos. O microcosmo municipal repete, de alguma maneira, as grandes e graves questões estaduais e nacionais. Os debates na RBS TV mostraram que há candidatos de muito bom nível, com experiência comprovada e com folha de serviços prestados às cidades que pretendem governar. Aí estão, por exemplo, muitos ex-prefeitos e ex-parlamentares federais e estaduais e até um ex-governador com propostas para tornar as cidades mais equilibradas, prósperas e habitáveis.

Os municípios são a instância federativa mais próxima do cidadão, o que lhes confere uma importância especial e direta. Essa condição, ao mesmo tempo que torna as questões municipais as mais prementes para o dia-a-dia dos cidadãos, faz com que elas precisem ser integradas na complexa equação fiscal e tributária vigente. Para atender aos compromissos de saúde, educação e infra-estrutura, que constitucionalmente cabem aos governos das cidades, há necessidade de uma partilha mais equilibrada das receitas no país. Queira-se ou não essa é uma questão que torna inevitável que os debates e a própria campanha se nacionalizem.

O arranque das campanhas, pelo nível de urbanidade com que se travou especialmente na Capital, parece indicar que candidatos e partidos estão determinados a respeitar o cidadão e sua inteligência. Mas este ainda continuará credor de propostas criativas que, com viabilidade financeira e sem demagogia, possam melhorar as cidades e garantir que elas avancem na conquista de padrões de qualidade.

Quando faltava um minuto para se iniciar o debate que ontem colocou frente a frente na RBS TV sete dos nove pré-candidatos a prefeito de Porto Alegre, o mediador Lasier Martins avisou: – Vai ser dada a largada. A frase retratou o atual momento da campanha eleitoral e soou como um aviso para os três deputados federais, três deputados estaduais e o ex-senador que durante uma hora e 45 minutos se enfrentaram diante das câmeras. A disputa pela prefeitura da Capital está aberta.

Todos apresentaram propostas de governo e evitaram ataques pessoais, mas o clima amistoso da chegada à emissora aos poucos foi dando lugar a pequenas provocações. Quando Jair Soares (PP) trocou reais por cruzeiros ao dizer que não entendia o voto de Beto Albuquerque (PSB) em favor do salário mínimo de R$ 260 proposto pelo governo federal, o socialista aproveitou para ironizar o adversário:

– É difícil de entender para quem acha que está na fase do cruzeiro. Nós estamos na fase do real.

Líder nas pesquisas, Raul Pont (PT) foi o mais pressionado pelas críticas às administrações petistas na Capital. O petista estava inquieto. Batia com os dedos no púlpito e balançava as pernas. Sempre que os ataques se acirravam Pont ria, numa tentativa de ironizar a opinião dos adversários.

Por duas vezes o candidato do PT provocou corre-corre da equipe de estúdio da RBS TV. Ao responder a críticas de Mendes Ribeiro (PMDB) e Vieira da Cunha (PDT) à atual administração, Pont preferia mirar os olhos dos adversários em vez de encarar as câmeras, o que fazia sua imagem aparecer de perfil na TV, ignorando os acenos da assessora Magda Flores e dos cinegrafistas. Ele só atendeu aos apelos no segundo bloco. Ao final, desabafou:

– Eles vieram com saídas muito fáceis para os problemas da cidade, mas quando estiveram no governo não fizeram nada disso.

Assessores corriam para o centro do estúdio durante os intervalos

Controlar as 19 pessoas que estavam atrás das câmeras não foi tarefa fácil. Celulares de assessores tocavam nos dois primeiros blocos. A cada intervalo assessores corriam para a frente das câmeras e só paravam com os gritos de assistentes de estúdio:

– Calma, ainda está no ar.

Onyx teve uma crise de tosse, acalmada somente com goles de água mineral. Jair também tossiu muito. Mendes Ribeiro era o mais agitado. Logo no primeiro bloco reclamou que ninguém o avisava para qual câmera deveria falar:

– Perdi uns três segundos procurando a câmera.

Dos sete pré-candidatos, quatro estavam de terno preto: Vieira, Fogaça, Albuquerque e Mendes. Pont era o único de cinza-grafite, enquanto Onyx e Jair optaram pelo azul-marinho. Albuquerque usava gravata laranja, a mesma do material de campanha do PSB, inspirado na cor do pôr-do-sol da Capital.

Antes do quinto e último bloco, Lasier anunciou que cada um teria um minuto e 45 segundos finais. Vieira, que terá cerca de um minuto no horário eleitoral, virou alvo de brincadeiras dos adversários.

– Vais ficar sem saber o que dizer com tanto tempo para a despedida – brincou Mendes.
O duelo (1)
Lances da batalha

O primeiro confronto entre candidatos ocorreu logo na primeira oportunidade em que as perguntas foram liberadas entre os participantes, no segundo bloco. Ao questionar Beto Albuquerque (PSB), Onyx Lorenzoni (PFL) acusou o PT pelo aumento na carga tributária na Capital, e criticou a participação do partido do socialista na administração da Capital há 16 anos. Lorenzoni indagou se Albuquerque aumentaria os impostos. Depois de prometer que não elevaria a carga tributária, o pré-candidato do PSB disse que não sentia vergonha por ter participado da gestão de Porto Alegre.

– Melhor do que ter ficado escondido é ter interagido para que a cidade de Porto Alegre pudesse ser melhor – disse Albuquerque.
O duelo (2)
Lances da batalha

O duelo entre Onyx e Albuquerque prosseguiu no quarto bloco, desta vez com a infra-estrutura como tema. O candidato do PFL expressou sua preocupação a respeito da qualidade de tratamento da água na Capital.

– No mínimo há 14 anos tem estudos que mostram que Porto Alegre tem que trocar o ponto de captação da água – disse Onyx.

Na sua réplica, Albuquerque fez uma correção. Segundo ele, são oito os pontos de captação de água em Porto Alegre. Apesar de acrescentar que foi a todos os pontos de captação de água de Porto Alegre por terra e pelo rio, Onyx insistiu que a prefeitura precisa trocar o ponto de captação de água na Capital.