Greve em casa
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O Globo
O Globo, 10/11/2004
Greve em casa
Sublevados, os partidos aliados na Câmara botaram a faca no peito do governo e conseguiram a promessa de liberação de R$ 600 milhões em emendas. O dinheiro é para os municípios, as emendas são legais e legítimas. Errou o governo ao adiar tanto a liberação. E, ainda assim, foi Lula que acabou resolvendo a parada ao determinar: se foi acordo, precisa ser cumprido.
Isso foi antes da reunião entre os ministros Aldo Rebelo, Antonio Palocci e Guido Mantega com os deputados Professor Luizinho e Beto Albuquerque, líder e vice-líder do governo na Câmara, representando a coalizão. Dali saiu a garantia de que R$ 600 milhões, a metade do valor total das emendas, serão liberados antes que o ano acabe. Foi um calmante mas talvez não seja uma solução definitiva. O governo não está agora em condições de continuar empurrando os problemas com a barriga, e Lula, mais que todos, entendeu isso . Passou por cima dos argumentos levantados pela área econômica e mandou liberar o que é devido aos parlamentares. Emendas são a moeda deles na relação de reciprocidade com os prefeitos e as bases eleitorais. Mas como o governo tem o mau costume de não honrar o combinado, a greve parlamentar só deve acabar diante de sinais concretos.
Só as liberações vão resolver? Se resolvessem, ontem mesmo as votações teriam sido retomadas em sinal de boa vontade. A verdade é que os aliados aproveitam a hora para cobrar também faturas menores, como nomeações não efetivadas. São poucas as pendências, mas existem.
E existe, sobretudo, aquilo que o deputado Paulo Delgado (PT-MG) chama de febre terçã, aquela que só aparece no final da tarde, ou seja, na hora das votações. Seria causada pela emenda da reeleição, que os presidentes da Câmara e do Senado ainda gostariam de ver aprovada. Ela conturba a relação com o PMDB, diz seu líder José Borba.
De fato, é um dos fatores que alimenta a ameaça de rompimento dos peemedebistas, ainda que seu objetivo seja elevar o preço do apoio do partido ao governo. Vimos este filme, em longa metragem, durante o governo passado.
Difícil de compreender é a atitude do governo diante de um problema já diagnosticado. Antes da eleição a questão das emendas já estava colocada. Com as derrotas do PT, os aliados sentiram-se mais à vontade para fazer a cobrança. E, mesmo assim, foi preciso o próprio Lula ensinar que acordo é para ser cumprido, mesmo quando isso custa uns milhõezinhos dos bilhões do superávit.
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