Na véspera, um jantar constrangedor

Nov 10 2004
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O Estado de São Paulo

O Estado de São Paulo, 10/11/2004
Na véspera, um jantar constrangedor

Idéia era destravar votação, mas silêncio dominou reunião de João

BRASÍLIA – Resultou num grande fiasco o jantar, anteontem à noite, na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), com os líderes dos partidos governistas e de oposição. Convocado para tentar um acordo que retomasse as votações na Casa, que tem a pauta trancada por 21 medidas provisórias, o encontro foi marcado pelo silêncio do governo às reivindicações da base e pela omissão dos temas que colocam os aliados em crise com o Palácio do Planalto: a proposta de emenda que permite a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado e a liberação do dinheiro para obras, previsto nas emendas de parlamentares ao Orçamento da União.

A reunião foi patética. Às vezes parecia retiro espiritual, disse o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara. Um dos líderes presentes considerou a reunião a mais constrangedora em que esteve nos últimos anos. Outro a classificou de velório.

Até João Paulo, ao fazer um apelo para que os deputados retomassem as votações, revelou o clima da reunião e do atual funcionamento da Casa. Se acontecer de nós não votarmos, vai ser um final melancólico, disse ele.

Segundo líderes presentes, sem entusiasmo, como se previsse que não conseguiria resultados, João Paulo abriu a reunião dividindo o desgaste da paralisia da Câmara com todos os partidos e dizendo que se tratava de um problema que atinje a todos. O líder do PL, Sandro Mabel (GO), mostrou sua insatisfação e defendeu que os deputados votassem contra as propostas do governo como forma de mostrar ao Planalto que os aliados são importantes.

A cada intervenção, porém, se repetia um silêncio entre os participantes. Em reunião política, o que mais incomoda é o silêncio. E o de ontem (anteontem) era ensurdecedor, disse o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE). Diante do clima, alguns líderes falavam de projetos que consideram importantes, mas a reunião teve fim quando, indiretamente, o assunto da reeleição foi tocado.

O líder do PSDB, Custódio Mattos (MG), defendeu a criação de uma pauta para ser votada até o fim do ano previamente combinada, sem acréscimo ou omissão. Um dos motivos que levam o PMDB à obstrução é a desconfiança de que João Paulo coloque em votação, de surpresa, a proposta que permite sua reeleição em 2005 assim que a pauta for destravada com a votação das MPs. Sem comentar a proposta do tucano, João Paulo chamou todos para o jantar, encerrando a reunião.

O jantar mostrou claramente: o que impede o avanço das votações é o impasse na base do governo em torno da reeleição da Mesa, que afeta o PMDB, e a não liberação de emendas, que afeta a todos os aliados, afirmou Mattos. Com esse resultado, os governistas julgaram melhor cancelar o almoço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os líderes aliados previsto para ontem.

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Cida Fontes – Eugênia Lopes