Mesmo com liberação de R$ 260 milhões para aliados, votações no Congresso continuam emperradas
BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu entrar pessoalmente em campo e vai se reunir com os líderes dos partidos aliados e os ministros para melhorar a relação com a base e tentar pôr fim na paralisia dos trabalhos da Câmara. Mesmo depois de o Ministério da Fazenda ter publicado portaria no Diário Oficial da União direcionando R$ 260 milhões para os ministérios liberarem as verbas das emendas individuais dos deputados ao Orçamento deste ano, a Câmara aprovou anteontem apenas uma medida provisória, depois de 29 dias sem nenhuma votação. Ontem nada foi votado no plenário da Casa. Cada partido vai junto com os seus ministros conversar com o presidente Lula para que não haja intermediários, disse o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo.
A idéia é que cada partido, individualmente, leve os seus problemas ao presidente. Não podemos mais ficar no jogo de empurra-empurra. Essas reuniões são importantes para a aproximação da base com Lula, completou.
Segundo ele, uma nova rotina será estabelecida: além das reuniões individuais, o presidente receberá todos os meses os líderes aliados e fará bimestralmente encontros com os presidentes das legendas.
Na avaliação do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), não há motivos para que os deputados não votem as 23 MPs que trancam a pauta do plenário e os projetos listados como prioritários. O governo está atendendo a tudo o que os partidos pediram. As emendas já foram liberadas, disse João Paulo, que anteontem confessou ter chegado ao limite das negociações com os aliados para tentar destravar a pauta de votação da Câmara.
Estou depositando todas as minhas esperanças na terça-feira e na quarta-feira da semana que vem para retomar as votações, afirmou João Paulo. O presidente da Câmara está convencido de que não há necessidade de convocação extraordinária do Congresso, em janeiro.
Para João Paulo, há tempo hábil para votar as MPs e a pauta de projetos feita junto com os líderes partidários até o Natal. Dá para votar tudo tranqüilamente até dezembro, simultaneamente com o Orçamento do ano que vem. Não precisa de convocação, comentou.
AUTOCRÍTICA
Durante um jantar descontraído, anteontem, com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo, o presidente Lula fez uma autocrítica do ritmo de trabalho lento do Executivo federal. A máquina pública é muito emperrada. As decisões são tomadas, mas demoram a acontecer, queixou-se.
O jantar foi oferecido pelo secretário de Comunicação do Senado, Armando Rollemberg, velho companheiro do presidente dos tempos do sindicalismo e fundação do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Participaram do encontro, ainda, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) e a primeira-dama Marisa Letícia. João Paulo foi o último do grupo de convidados a chegar na casa de Rollemberg, em um condomínio a cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília, próximo da cidade-satélite de Sobradinho.
O deputado contou que viera direto da Câmara e alertou que o clima político lá continuava muito tenso. Foi a senha para que o presidente reconhecesse a demora do governo na liberação de recursos para atender às emendas dos parlamentares.
Denise Madueño – Eugênia Lopes Colaborou: Christiane Samarco |