Partidos – Suspensão da reforma isola Severino no PP

Mar 27 2005
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Zero Hora

Zero Hora, 27/03/2005
Partidos – Suspensão da reforma isola Severino no PP
 
Líderes da sigla tentam conquistar o posto de interlocutores junto ao governo depois que troca ministerial travou
 
CAROLINA BAHIA/ Agência RBS/Brasília
Sem chances de integrar o primeiro escalão do governo depois que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tentou colocar publicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a parede, o PP sai dividido do impasse da reforma ministerial.

Os líderes agora brigam para se tornar interlocutores junto ao Planalto, barganhando apoio em troca de voto no Congresso. Apesar de estar na base do governo, o PP não garante fidelidade. A legenda, porém, tem peso nas votações: são 54 parlamentares, a quarta maior bancada na Câmara.

– O PP precisa do governo, e o governo precisa do PP. Todos sabem disso. Voltaremos a negociar – diz o deputado Pedro Henry (MT), cotado para ministro até a eleição de Severino.

Henry era quem tratava diretamente com a cúpula do governo. Havia sido escolhido por Lula para ser o nome do PP no ministério. No começo de 2004, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, chamou o deputado para uma longa conversa. Ficou acertado que, sem pressa, o PP ampliaria sua presença na Esplanada dos Ministérios.

– A bobeada do governo foi demorar tanto para definir a reforma ministerial. Depois da eleição de Severino, complicou – reclama Henry.

Severino impôs o nome do afilhado político Ciro Nogueira (PI) à bancada, mas desgastou o acerto quando declarou que o PP iria para a oposição se seu protegido não assumisse as Comunicações. Foi o estopim para a suspensão da reforma. Até colegas reconhecem o erro do político experiente e presidente novato.

– Severino pisou na bola. Não tem preparo – admite um deputado.

O pernambucano abriu espaço para figuras como o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), e o líder na Câmara, José Janene (PR). Na quarta-feira, os três decidiram:

– Quem fala em nome do partido daqui para frente sou eu. Teremos uma posição de independência – assumiu Janene.

Parlamentares do PP contrários à negociação

O problema é que o paranaense não tem bom trânsito no Planalto. João Pizzolatti (SC), indicado pela bancada para candidato a ministro, é apontado como alternativa.

– Severino toca o trabalho na Câmara e deixa a negociação para o líder. Nenhum governo gostaria de nos ter como oposição – provoca.

No próprio PP, parlamentares torciam para a articulação de Severino fracassar porque a dobradinha em Brasília complicaria composições nas eleições de 2006. No Rio Grande do Sul, o PP não pensa em apoiar o PT no pleito.

– Ao falar demais, Severino achou um remédio para o PP e para o PT. Para o nosso grupo, a situação ficou confortável – diz o deputado Francisco Turra.

O presidente da Câmara, porém, não aceita ficar na geladeira. Ameaça dar o troco ao governo colocando em votação a Medida Provisória 232, que eleva o Imposto de Renda para prestadores de serviço. O Planalto irá isolar Severino e fortalecer as ações do colégio de líderes. A idéia é eleger um grupo do PP, como o ligado a Henry, para negociar, como ocorreu com o PMDB.

– Não podemos ficar reféns do PP – diz o vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque (PSB).

( carolina.bahia@zerohora.com.br )

Severino Cavalcanti (PP-PE)
Ao forçar a indicação de Ciro Nogueira (PI), irritou Lula, que desistiu de entregar um ministério para o PP. Desgastado, sai das negociações para abrir caminho ao líder do partido, José Janene (PR).
José Janene (PP-PR)
Defensor da independência do partido em relação ao governo, ficou de fora das negociações às vésperas da reforma ministerial, deixando as conversas a cargo de Severino. Assume a posição oficial de único interlocutor do PP junto ao governo.
Pedro Henry (PP-MT)
Votou com o governo na eleição do presidente da Câmara, apoiando Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Era o nome do PP para assumir um ministério, mas foi rifado com a eleição de Severino. Ainda acredita em negociação com o governo.