Uma queda-de-braço que paralisa a Câmara
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O Globo
BRASÍLIA. Até o presidente da Câmara ri e faz ironia com a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que Severino Cavalcanti é seu aliado. O que se vê desde o dia 15 de fevereiro é uma troca de alfinetadas e lançamento de cascas de banana em direção ao Planalto e à Câmara. Um querendo deixar o outro em situação mais desconfortável. Enquanto Severino se alia à oposição, aos aliados insatisfeitos e ao baixo clero para impor derrotas ao governo, os líderes governistas obstruem sistematicamente as votações há mais de um mês, tentando impor ao presidente da Câmara o desgaste pela paralisia da Casa.
As conseqüências desta queda-de-braço estão sendo sentidas por todos os segmentos envolvidos na política: líderes partidários sem o que comandar; líder do governo e ministros sem voz e incapazes de articular votações polêmicas; prefeitos e governadores desesperados com a demora na votação de matérias importantes, como a reforma tributária; e deputados sem pauta para votar.
— Esta queda-de-braço poderia ser retratada pelo quadro “Os gladiadores”, de Goya, que mostra dois lutadores sobre areia movediça. A cada golpe trocado, os dois se afundam mais e mais na lama. Só que não estão afundando sozinhos, vão levar muita gente junto — compara o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).
Obstrução provoca desalento na Casa
O clima na Câmara é de desalento e baixo astral. Identificada e confirmada a estratégia de obstrução dos governistas, a preocupação é de que essa tentativa de arrumação leve a uma situação de risco institucional, com danos para a imagem do Legislativo. Os governistas argumentam que a normalidade depende também de Severino democratizar os procedimentos.
— Tínhamos que pisar no freio e botar tudo em ponto morto, contra a política do Severino do “eu faço, decido, eu opino, eu elaboro a pauta”. A Câmara é um colegiado e só vai andar quando a pauta tiver legitimidade. O acordo para a votação da reforma tributária será o grande teste também de fidelidade — diz o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS).
Segundo líderes que participam das reuniões da base, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), está com os nervos à flor da pele por ter de comandar a estratégia da obstrução e lidar com as pressões e as infidelidades.
— Não vou aceitar que líderes da base me coloquem a faca no pescoço — disse Chinaglia a um dos aliados.
Retenção de emendas complica vida do governo
Os aliados consideram que um elemento complicador é o comportamento da área econômica, ao segurar a liberação das emendas orçamentárias.
— A paciência está dando lugar à insatisfação. Enquanto o governo estava vendendo esperança, conseguimos aprovar tudo aqui, até taxação de inativos. Mas agora o quadro é muito preocupante — diz o líder do PTB, José Múcio Monteiro.
Braço direito e um dos gurus de Severino Cavalcanti, o líder do PP, José Janene (PR), diz que a obstrução do governo tem objetivo de minar politicamente Severino, mas diz que é também porque não tem votos para aprovar as medidas provisórias que trancam a pauta.
— Estamos tentando ajudar o governo, mas se eles não ajudam, não tem jeito. Não temos condições de saber o que o governo quer. Fizemos quatro reuniões nos últimos dias e ninguém no governo sabe direito o que se passa na Câmara — diz Janene.
Perguntado sobre quem está vencendo a disputa, Severino ironiza:
— O presidente Lula não disse que é meu amigo para o Brasil inteiro ouvir? Não me convidou esta semana para tomar café da manhã e conversar? Como vou guerrear com ele?