Lula reassume coordenação política
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Jornal A Tarde
BRASÍLIA– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta, na próxima quarta-feira, em uma reunião com líderes partidários e integrantes das Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados, reverter três problemas deflagrados nesta semana no Congresso Nacional.
A pauta da Câmara e do Senado está trancada. Na semana passada, somente uma medida provisória foi aprovada. Projetos de interesse do governo, como a reforma tributária, continuam à espera da liberação da pauta. O calendário apertado posterga a votação na Câmara e joga a aprovação do texto no Senado para o segundo semestre.
Na Câmara, a situação se agravou com a cisão na base aliada por conta do almoço agendado pelos líderes com a exclusão do PT. Por fim, o veto presidencial ao reajuste de 15% dos servidores do Legislativo provocou a reação dos presidentes das duas Casas, que se mostraram favoráveis à votação e derrubada do veto no Congresso.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), está repassando aos líderes partidários e aos integrantes da Mesa Diretora da Casa o convite feito por Lula para uma reunião na próxima quarta-feira. De Recife, o presidente conversa com os líderes para agendar a reunião e decidir se participarão os integrantes da Mesa Diretora da Casa na conversa.
PRESSÕES – A movimentação do presidente nos últimos dias significa que Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mais uma vez assumir pessoalmente a coordenação política do governo. A intervenção é pontual e congela, pelo menos temporariamente, as pressões pela demissão do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB).
Sem avisar qualquer ministro, Lula convidou os líderes de todos os partidos na Câmara, inclusive os da oposição, para uma reunião na próxima quarta-feira. Também foram chamados todos os integrantes da Mesa Diretora.
O objetivo, acertado por Lula em encontro com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), é tratar da agenda legislativa. Há dois meses o governo está impedindo as votações por não ter maioria segura para aprovar projetos considerados importantes, como a reforma tributária.
“Lula chamou para si a responsabilidade de conduzir a articulação política, diante desse evidente desencanto (da base)… Ele desautorizou os movimentos contra Aldo”, avaliou o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Casa.
RECADO – Já alguns petistas enxergam a iniciativa de Lula não só como medida de recomposição política, mas como um recado a seu próprio partido de que não aceita pressões.
Na conversa de quinta-feira com Severino, Lula se queixou de ministros petistas que pediram a demissão de Aldo. “Ele só sai se pedir demissão ou se eu quiser demiti-lo”, desabafou o presidente, segundo fonte do Planalto.
Entre os ministros criticados está o titular da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, que, em entrevista, pediu a substituição de Aldo por um petista. A troca, que a cúpula do partido continua considerando inevitável, ficou inviabilizada, no momento, pela reação de Lula.
TRÉGUA – A oposição já confirmou presença ao encontro de quarta-feira e está disposta a ouvir o presidente, mas não calada. “Não há motivo para não ir. Vou expor a vontade do partido de retomar as votações e queremos que algumas regras mínimas não respeitadas pelo governo durante esses dois anos. Nunca houve uma situação, uma desagregação da base do governo como está havendo hoje, uma maioria gasosa”, avaliou o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP).
“Quem me convidou foi o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), não foi o Lula. O presidente da República está tentando se valer de uma iniciativa de Severino. Vou aproveitar para perguntar o que ele pensa dos partidos da base obstruirem a pauta há 60 dias”, afirmou o líder do PFL na Casa, deputado Rodrigo Maia (RJ).
O governo conseguiu, por estratégia, travar os trabalhos da Câmara para tentar recompor sua base de apoio. Agora, Lula quer, segundo uma fonte palaciana, dividir com as lideranças partidárias uma solução para a crise de relacionamento com o Congresso.