Ambiente – União Européia exige explicação sobre devastação da Amazônia

May 24 2005
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Zero Hora – Porto Alegre

Zero Hora – Porto Alegre, 24/5/2005
Ambiente – União Européia exige explicação sobre devastação da Amazônia
 
Desmatamento entre 2003 e 2004 é o segundo maior registrado
 
HUMBERTO TREZZI

Integrantes da União Européia exigiram ontem explicações do governo Lula sobre a devastação da Amazônia. É o último round de uma série de ataques sofridos pelo governo federal por parte de ambientalistas e políticos de todo o planeta desde a semana passada, quando foi revelado que a Amazônia perdeu 26 mil quilômetros quadrados de matas entre 2003 e 2004. É o segundo maior desmatamento registrado desde 1988, quando foi feito o primeiro monitoramento do gênero.

O comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, disse que o Brasil tem de responder, "na qualidade de país que aspira a um papel no cenário internacional" pela grave destruição da floresta. Ele se mostrou preocupado com a possibilidade de que europeus estejam adquirindo produtos brasileiros cultivados em áreas protegidas, como a selva amazônica.

A mais nova ofensiva contra a gestão Lula não pára aí. A ONG Greenpeace patrocinou sobrevôos de jornalistas ao epicentro da devastação, Mato Grosso, Estado que responde por praticamente a metade (48%) das árvores cortadas na Amazônia no último biênio. Entre os que exploram o corte de árvores, com vistas à agricultura, está o governador mato-grossense, Blairo Maggi (PPS). Ele foi o personagem principal de uma reportagem publicada semana passada pelo jornal britânico The Independent e intitulada "O estupro da floresta…e o homem por trás disso".

O também britânico The Guardian lembrou que ministros afirmaram em Porto Alegre, durante o Fórum Social Mundial, que a destruição amazônica estava "sob controle". O Financial Times, ainda no Reino Unido, afirmou que "a carência de recursos, a corrupção, a burocracia e a oposição política" limitam a preservação da floresta. Jornais da Bélgica e da Espanha também criticaram o desmatamento.

O governo federal expõe uma série de argumentos para mostrar que não está inoperante. Hoje deve ser votado um Plano Diretor das Florestas Brasileiras, cujo relator é o deputado gaúcho Beto Albuquerque (PSB), que prevê 20 grandes medidas de proteção. Entre elas, a destinação de 9% de tudo que é arrecadado com a exploração florestal para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), a restrição a empresas estrangeiras para atuação na Amazônia e auditorias periódicas nas concessões para exploração florestal.

Conforme o Ministério do Meio Ambiente, até 1984 2% da Amazônia era composta de áreas protegidas. Em 2002 o índice tinha subido para 6%. Mas recentes decretos do governo Lula farão saltar o índice para 11% até o fim deste ano.

( humberto.trezzi@zerohora.com.br )

Saiba mais
Por que aumenta o desmatamento
– Uma das razões para o contínuo crescimento da devastação é uma medida provisória em vigor, que permite a fazendeiros amazônicos desmatar 50% da terra se ela for formada por cerrado (vegetação baixa e plantas rasteiras). A mesma medida autoriza 20% de desmatamento se for atingir floresta equatorial. O problema é que o governo não tem fiscais suficientes para verificar qual a mata está sendo cortada.
– Os ambientalistas criticam o peso das alianças políticas do governo. Lula estaria mais inclinado a cortejar a bancada ruralista, com 70 deputados no Congresso, do que os sete parlamentares do Partido Verde ou os 18 da esquerda do PT. Os ruralistas apóiam o aumento das fronteiras agrícolas na Amazônia.