Lula concorda em retaliar aliados que assinarem CPI

May 24 2005
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Jornal do Brasil

Jornal do Brasil, 24/05/2005 
Lula concorda em retaliar aliados que assinarem CPI

Durante viagem a Seul, presidente reclama também de comportamento do seu partido

SEUL, CORÉIA DO SUL – Numa viagem de 26 horas de Brasília até Seul, capital da Coréia do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou duramente do comportamento do seu partido, o PT, e concordou que deve retaliar os congressistas de sua bancada de apoio que permanecerem apoiando a CPI dos Correios. Em conversas com deputados que participaram do vôo, disse que ""ninguém está acuado, ninguém está com medo"". Sobre a hipótese de a CPI vir a ser mesmo instalada, declarou:

– Vamos para a ofensiva.

A frase do presidente foi a conclusão de um diálogo seu com um dos vice-líderes do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). O deputado argumentou com Lula que seria necessário mudar de atitude com os aliados que mantivessem o apoio à CPI.

– Essa lista de assinaturas da CPI é muito clara. Vai acabar o pão-de-ló e o cafuné para quem quiser jogar contra o governo. Tem de acabar essa conversa de verba, de obra. Essa conversa não vamos mais ter com quem não for do governo, no ônus e no bônus.
Albuquerque afirmou que Lula que concordou com avaliação. Disse que ""governo é governo"". Para o vice-líder governista, ""é justificável a retirada de assinaturas"", pois o Planalto já determinou a investigação pela PF.

Segundo Albuquerque, Lula tratou da operação anti-CPI com os ministros políticos que tiveram suas viagens para Seul canceladas – José Dirceu (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Eunício Oliveira (Comunicações). Todos estão com ordens para pressionar os aliados a retirarem assinaturas da CPI.

– Até porque os ministros têm partidos por trás – diz o vice-líder. Para ele ""não faz sentido que alguém que faça parte da base do governo não compreenda a situação"".

Além de Albuquerque, estavam também no AeroLula, o Airbus presidencial, os deputados João Caldas (PL-AL) e Hidekazu Takayama (PMDB-PR), os governadores Lúcio Alcântara (PSDB-CE) e Germano Rigotto (PMDB-RS), e os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Dilma Rousseff (Minas e Energia), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Celso Amorin (Relações Exteriores).

Durante a viagem, Lula fez críticas ao seu partido. Disse que os petistas deveriam levar em consideração um discurso recente do ministro das Cidades, Olívio Dutra.

– Ele disse que o Olívio deu um recado para a moçada mais jovem petista. Disse que todos têm de ter responsabilidade com a governabilidad – relatou o deputado João Caldas.

Segundo o governador Germano Rigotto, o presidente também citou a derrota recente do PT na disputa para a presidência da Câmara. Na ocasião os petistas tinham dois candidatos e foram derrotados por Severino Cavalcanti (PP-PE). Lula acha que a derrota foi culpa exclusiva do PT.

Ao falar de política em geral, o presidente voltou a se declarar contra o sistema que permite reeleição. Rigotto disse que Lula considera a reeleição ""sem sentido"", a não ser que sejam cumpridas duas condições: 1) ""que o governante esteja convencido de que pode fazer um mandato melhor"" e 2) ""se não depender de acordos espúrios, que vão contra os seus princípios"".