Lula promete retaliação

May 24 2005
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Correio Braziliense

Correio Braziliense, 24/05/2005
Lula promete retaliação

Lula e Marisa desembarcam em Seul: “Não tenho medo de CPI”
Numa viagem de 26 horas de Brasília até Seul, capital da Coréia do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou duramente do comportamento do seu partido, o PT, e concordou que deve retaliar os congressistas da base aliada que permanecerem apoiando a CPI dos Correios.

Em conversas com deputados que participaram do vôo, Lula disse que “ninguém está acuado, ninguém está com medo”. Sobre a hipótese de a CPI vir a ser mesmo instalada, declarou: “Nós vamos para a ofensiva”. A frase do presidente foi a conclusão de um diálogo seu com um dos vice-líderes do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).

O deputado argumentou com Lula que seria necessário mudar de atitude com os aliados que mantivessem o apoio à CPI. “Essa lista de assinaturas da CPI é muito clara. Vai acabar o pão-de-ló e o cafuné para quem quiser jogar contra o governo. Tem de acabar essa conversa de verba, de obra. Essa conversa não vamos mais ter com quem não for do governo, no ônus e no bônus.”

Para o vice-líder governista, “é justificável a retirada de assinaturas da CPI”, pois o governo já determinou a investigação pela Polícia Federal. Numa iniciativa para demonstrar a “tranqüilidade” diante da provável abertura da comissão parlamentar de inquérito dos Correios, Lula declarou, durante o vôo, que “não tem medo” dessa hipótese e que o governo “não se sente acuado” pela decisão tomada pela oposição e por membros da base aliada no Congresso.

De acordo com Beto Albuquerque, Lula fora provocado sobre a reação da administração federal à eventual formalização da abertura da CPI. O presidente teria mantido a serenidade e respondido de forma calma. Mas deixou escapar a queixa sobre a dificuldade do Poder Executivo de manter uma base aliada sólida no Legislativo, especialmente, depois das eleições municipais de 2004 e com a antecipação da corrida presidencial de 2006.

Estrutura

Beto Albuquerque também reforçou a possibilidade de a União resgatar a proposta da CPI da Privatização, como forma de questionar o processo conduzido pela gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de atingir até mesmo a maior empresa privada da América Latina, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).

A hipótese havia sido mencionada na última semana por Dirceu. Mas a suposta cooptação da base aliada pela oposição, nesse caso, aparentemente, é a situação que mais incomoda a Presidência da República. “Que o PSDB haja como menino, é até compreensivo. O que não se pode entender é a atitude de alguns membros da base aliada, que se deixaram convencer pelo discurso fácil da oposição”, afirmou o vice-líder do governo na Câmara.

“Se for aprovada, a CPI será delimitador de espaço e vai implicar mudanças na estrutura do governo. Há gente que adula o governo e quer cargos, mas que vota com a oposição”, disse, numa indicação de que a Presidência tenderá a diferenciar, individualmente, e beneficiar somente os reais aliados.