Em dia com a política – A diferença está na oposição
- Posted by: Ass. Imprensa
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Estado de Minas
Toda esta discussão, que colocou, em lados opostos, quadros que foram beber na mesma fonte de uma esquerda responsável e afinada com os novos tempos, leva a um questionamento interessante: é possível comparar o desempenho dos governos tomando por base apenas os números, dizer que este ou aquele foi mais eficiente pela simples análise dos indicadores? A rigor, não. Afinal, não há como ignorar fatores externos, que interferem de modo cada vez mais direto nos destinos de um país. E como deixar de lado o fato de que certas virtudes hoje tão louvadas são, na verdade, o fruto do que foi plantado há cinco, dez, 20 anos? Herda-se erros, rombos, cofres vazios, mas também virtudes, iniciativas interessantes, bases razoavelmente sólidas para se iniciar um trabalho.
No frigir dos ovos, os governos Lula e Fernando Henrique têm mais semelhanças do que diferenças. Em ambos houve suspeitas de fraude e corrupção, nos dois a oposição bate panelas pela instalação de CPIs enquanto o Palácio do Planalto usa do estratagema de tentar abafá-las. Petistas e tucanos avançaram em muitos pontos, mas decepcionaram em vários outros.
A grande diferença não está, como se pensa, no que acontece no Executivo, mas a poucos metros dali, no Congresso. Mesmo os líderes petistas são obrigados a reconhecer que a oposição, hoje, é muito mais articulada e eficiente do que a que importunava o governo do PSDB. Se há algo que pode ser dito do comportamento dos deputados e senadores tucanos e do PFL, é que têm conseguido aproveitar as diversas oportunidades entregues de bandeja pela base aliada e transformado fatos políticos inicialmente irrisórios em escândalos nacionais, além de fazer com que escândalos, como o dos Correios – dimensão do episódio à parte, há como definir de outra forma corrupção tão evidente – não caiam na vala comum do esquecimento.
A marcação é cerrada e cada deslize é punido não apenas com discursos inflamados nas tribunas, mas com ações de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal e movimentos como o que sepultou a MP 232 – ou pelo menos a parte dela que elevava a tributação de prestadores de serviço e agricultores. No caso do PT "pré-alianças", tais manifestações caíam muitas vezes em um radicalismo vazio, de poucos resultados práticos.
Simples mérito, ou sinal de maior competência política? Na verdade, não. Era exatamente o que se esperaria de pessoas que, por oito anos, viveram a intimidade do governo, sabem de cada um de seus segredos, hoje são deputados e senadores mas, há não muito, eram ministros e presidentes de estatais. Como é de se esperar que, caso deixe de ser vidraça e volte a ser pedra, também aconteça com o PT. Até lá, no entanto, há uma agenda a ser cumprida, um Congresso cada vez mais rachado e um debate eleitoral que insiste em atropelar o relógio. Como diriam os petistas no tempo em que a presidência era apenas um sonho, o problema é de quem está no comando. Oposição é para contestar.
Base enxuta
Pode não ter gerado aprovação unânime entre os parlamentares dos partidos governistas a afirmação do líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque, de que Lula pretende dar novo rumo à sua base aliada. Pretende trocar a quantidade pela qualidade. Ter a seu lado os verdadeiros aliados, com os quais poderá contar incondicionalmente. O varejo – aqueles que estão mais preocupados com indicações para cargos ou verbas orçamentárias e, nas votações decisivas, costumam roer a corda – seria tratado caso a caso. É dos raros casos em que menos pode valer mais. O problema é que, pelos últimos acontecimentos, tal `reforma`significará cortar na própria carne, tal o nível de divisão que impera no PT. Não é de hoje que o fogo amigo tem feito tantos (ou mais estragos) que a artilharia da oposição e, pelo visto, os descontentes resolverem colocar a boca no mundo. É para não perder os próximos capítulos.