Paralisia assusta governistas
- Posted by: Ass. Imprensa
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Jornal do Brasil
– É a última chance que eles têm. Não quero nem pensar na hipótese de dar errado – reconheceu o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE).
Parlamentares da base governista não entendem a morosidade do Executivo. No caso da CPI dos Correios, houve quem defendesse uma demissão coletiva da diretoria dos Correios e uma conversa prévia com o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), antes que ele fizesse seu discurso na tribuna. Isso não aconteceu, as denúncias envolvendo Maurício Marinho incendiaram o Congresso, a oposição propôs a CPI e Jefferson assinou o requerimento, embora depois tivesse retirado o nome da lista.
No dia em que a CPI seria protocolada, os governistas corriam sem rumo nos corredores do Congresso tentando convencer 80 deputados a retirarem suas assinaturas. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fazia e refazia os cálculos, ainda com esperança de que as coisas pudessem mudar. Brincava com um lápis entre os dedos. Faltando sete horas para o término do prazo, o golpe fatal foi dado pelo líder do PMDB, José Borba (PR) , referendando a tese da falta de timing governista.
– Não dá mais tempo. Deveríamos ter feito isto na semana passada – avisou Borba a Chinaglia.
O petista, de semblante fechado, respondeu:
– Essa informação para mim é nova, eu não sabia.
Nos bastidores do Planalto, a articulação, o discurso e a prática também passam por um impensável processo de depuração. Desde que a oposição começou a recolher as assinaturas, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, avisou aos líderes que algo deveria ser feito. Ele viajou para o Sul, retornou a Brasília e o cenário continuava o mesmo.
Aldo resolveu pedir ajuda ao chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, e ambos convocaram uma reunião com todos os ministros políticos da Esplanada. A orientação era clara: todos tinham que participar do esforço para a retirada de assinaturas. Seis dias depois, a CPI estava sendo protocolada.
– Falta articulação, conversa, só pode ser isso – constatou o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).
Para Casagrande, a situação vivida no momento pode ajudar a uma revisão de conceitos. O líder do PSB acha que, em certos momentos, há um ""acanhamento"" por parte dos aliados ideológicos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
– Nós éramos bons na oposição. No governo, em certos momentos, agimos de forma tímida, como se tivéssemos vergonha de ter chegado ao poder – reconheceu Renato Casagrande.
Durante a semana passada, o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), comparou a oposição a uma orquestra afinada e o governo a uma fanfarra.
– Mas a dor ensina a gemer. A CPI é uma dor, vamos ver se as coisas endireitam agora – espera Suassuna.
E a agenda positiva? Diversos projetos estão parados há mais de um ano, como, por exemplo, o marco regulatório das agências e a reforma tributária. Outros projetos, como o ""Pacote Verde"", criado após o assassinato da missionária americana Dorothy Stang, caminham timidamente pelo Congresso. Embora o relator seja o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), não se vê nenhum aliado subir à tribuna para enumerar os benefícios da proposta.
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara deve discutir na terça-feira o recurso contra a CPI dos Correios. A oposição espalha aos quatro ventos que tem uma estratégia pronta para infernizar o Planalto. Já os governistas vão se reunir na véspera para acertar os últimos detalhes da estratégia.
– Ou o governo começa a gerar fatos positivos, ou vai pular de uma crise para outra – avisa o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT de São Paulo.