Ataques diretos à Abin

Jun 15 2005
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O Liberal

O Liberal, 15/06/2005
Ataques diretos à Abin

Roberto Jefferson acusa a Agência Brasileira de Inteligência de ter sido usada como instrumento para levantar provas contra ele, por meio de gravação nos Correios

Brasília (Agência Estado) – O deputado Roberto Jefferson também acusou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de ter sido usada para criar provas contra ele e seu partido, com a gravação que mostra Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, aceitando R$ 3 mil de propina em nome do deputado e do PTB. Ele garantiu que Marinho “não pertencia aos quadros do PTB e é funcionário de carreira dos Correios”.

Disparando incessantemente sua metralhadora giratória, o deputado também insinuou que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Corregedoria-Geral da União não demonstraram empenho em investigar o envolvimento da cúpula do PT no suposto esquema de corrupção dos Correios. Segundo ele, “60% das atividades bilionárias dos Correios estão na diretoria de Informática”, sob influência de Silvio Pereira, secretário-geral do PT. “Não compreendi por que ainda não investigaram o Correio Aéreo Noturno do seu Silvinho Pereira, onde o superfaturamento nos primeiros anos da atual gestão chega a 300%.”

Lembrando o papel do motorista no caso Fernando Collor, do qual aliás foi defensor até o fim, Jefferson exortou o motorista do publicitário Marcos Valério a depor sobre o suposto saque de R$ 1 milhão no Banco Rural, denunciado por sua secretária, Fernanda Karina. Irônico, Jefferson, que completou hoje 52 anos, agradeceu a Valdemar Costa Neto o presente” que o PL lhe deu, abrindo a representação contra ele no Conselho de Ética. E dando-lhe a oportunidade de “falar ao povo brasileiro”.

Frieza contrasta com nervosismo de outros parlamentares

BRASÍLIA (Agência Estado) – A frieza e o autocontrole que o deputado Roberto Jefferson (PTB) exibiu ontem, ao longo de todo o seu depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, contrastaram com a tensão indisfarçável de líderes e liderados envolvidos nas denúncias do “mensalão”, inclusive petistas. Nervos à flor da pele, o líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP), era o mais agitado, mascando chicletes em ritmo acelerado enquanto o suor lhe escorria pela nuca e pela fronte.

Foi justamente Costa Neto quem patrocinou o bate-boca mais nervoso com o depoente, tirando o embate do nível da política para o campo, no mínimo impróprio, da preferência sexual. Desafiado a declinar os nomes dos deputados que recebiam o mensalão pago pelo PT para votar de acordo com os interesses do governo, o petebista foi ao mesmo tempo incisivo e irônico:
“Eu afirmo que V. Exa recebe. Mas tenho respeito por V. Exa, jogador, mulherengo, e até por seus gostos”. Costa Neto reagiu de bate pronto: “Prefiro gostar de mulher do que de um cidadão de Cabo Frio”.

Diante da platéia atônita e dos olhos arregalados de algumas deputadas, como a tucana Zulaiê Cobra Ribeiro (SP), o próprio Jefferson tratou de desculpar o “excesso” do líder do PL. “Essa foi a matéria encomendada ao Diário Oficial chamado revista “Época”, pelo governo que queria desconstituir a minha imagem. A culpa não é dele, senhor presidente; ele leu lá”, disse o petebista, referindo-se às insinuações feitas por um ex-caseiro do deputado, em entrevista concedida à revista que começou a circular no fim de semana.

Logo atrás dele, o líder do PTB, deputado José Múcio Monteiro (PE), que passara todo o tempo em silêncio e com a musculatura facial contraída, pediu a palavra. Contou ter sido procurado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, preocupado em se aproximar de Jefferson; falou do encontro que ele e o depoente tiveram com o presidente Lula para falar de “mensalão” e do desabafo feito à época.

“Roberto, acho que nosso partido tem mais problemas que os outros”, disse Múcio, segundo seu próprio relato. E como Jefferson já havia denunciado o assédio de um partido aliado sobre deputados petebistas, tentando tirá-los do partido, Valdemar atalhou. “Alguma vez discuti com V.Exa sobre mensalão?” indagou o liberal. “Não”, respondeu Múcio sem titubear.

O estilo firme e incisivo e a performance teatral de Jefferson arrancaram elogios de petistas e deputados dos vários partidos da oposição e da base aliada, como Beto Albuquerque (PSB-RS). Para o ex-líder tucano Jutahy Júnior (BA), Jefferson fez um roteiro brilhante.

Alta temperatura

“Nomes de parlamentares que receberam o ‘mensalão’ eu não sei”
Principais trechos dos debates:

OS NOMES

“Diga os nomes dos deputados do PTB que lhe cobraram fazer o “mensalão’”.
(Deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL).

“Diga os nomes dos seus que recebem o ‘mensalão’. Vossa Excelência recebe e reparte.” (Jefferson, ao deputado Valdemar Costa Neto)

GOSTOS

“Tenho respeito por Vossa Excelência, tenho respeito até pelos gostos de Vossa Excelência, que é um homem conhecido como mulherengo, jogador, boêmio.”
(Jefferson, ao mesmo)

TESTEMUNHO I

“Perplexo eu fiquei como ficou o Brasil inteiro. Fui procurado pelo Delúbio, em outubro. Ele disse que queria me conhecer, porque tinha uma dificuldade muito grande de falar com Roberto Jefferson. Perguntou-me se podia promover esse acesso.”

(Deputado José Múcio, líder do PTB na Câmara, confirmando o que Jefferson tinha dito)

TESTEMUNHO II

“Fui testemunha quando o presidente Roberto Jefferson falou do mensalão ao ministro Miro Teixeira e o ministro disse ‘vamos ao presidente da República’. Roberto disse ‘pode marcar que eu vou’. Fui testemunha quando o presidente Roberto Jefferson disse ao presidente da República, numa audiência que tivemos no início de março, quando Jefferson disse ‘presidente, o senhor precisa ver essa questão do mensalão, porque isso pode atrapalhar o seu governo’. Fui testemunha como ele ficou contrito, quase que descontrolado fisicamente.”
(Idem)

SOU CONTRA

“Eu disse a ele: sou radicalmente contra, não aceito, porque se tiver, quem sai sou eu.”
(Idem, sobre o mensalão no PTB)

CONVIVÊNCIA

“Convivi intimamente, politicamente com dirigentes do governo, em especial, o ministro José Dirceu. Convivi muito com o Silvinho Pereira na formação da nomeação dos quadros do PTB nacional. Convivi muito com Genoino e muito com o dr. Delúbio nas tratativas das campanhas. Com o presidente Lula, mais recentemente. O recebi na minha casa no final do ano passado e confesso, foi uma honra para mim, um orgulho, tê-lo recebido para jantar comigo. É um homem honrado é um homem correto.”
(Jefferson, em resposta ao relator Jairo Carneiro)

DIRCEU

“Não sei se o Zé Dirceu gosta de alguém, não sei.”
(Idem)

CHEQUE EM BRANCO

“Pelo diálogo que tive com ele, a maneira do PTB votar muitas vezes, mais fiel ao governo do que o próprio PT. E tudo o que eu assumi, todos os compromissos que assumi como líder na Casa, com Zé Dirceu ou Genoino, cumpri. Fiz questão. Porque na política não tem cheque pré-datado, não tem contrato escrito, nem nota promissora, vale a palavra e o PTB honrou a palavra sempre que asusmiu o compromisso com o governo, sempre.”
(Jefferson, explicando porque Lula teria afirmado que lhe daria um cheque em branco)

REAÇÃO

“Ele (Lula) não admitiu como verdade. Ele tomou um baque, as lágrimas desceram dos olhos. Ele não me disse uma palavra. Me deu um abraço e eu me despedi dele. Não me disse que acreditava ou desacreditava, se sabia. Ele me deu um abraço e eu senti a consternação do presidente. Ele me conduziu para que eu me retirasse do gabinete dele. Me deu um abraço e eu saí.”
(Idem, sobre a reação de Lula ao saber do “mensalão”)

DEFESA

“A cessação da distribuição da mesada não precipitou uma outra atitude da autoridade governamental contra aqueles que poderiam estar envolvidos ou poderiam ser…”
Do relator Jairo Carneiro).

“Nobre relator, eu entendo a pergunta de V. Exa. Mas o presidente preside o governo, ele não preside o PT. Eu tenho lido que ele recomendou ao PT o afastamento do tesoureiro. Mas isso é uma decisão do partido, o presidente preside o governo, não é o presidente do partido. É o presidente do governo do Brasil. Pelo que entendo e reitero aqui, o que disse e a sensação que vivi, falei a um inocente que desconhecia o problema, relator.”
(Jefferson)

ORIGEM

“Tenho de perguntar isso (a origem dos recursos do mensalão) ao Genoino e ao Delúbio, mas pelo que ouvi da conversa do Marcos Valério, quando ele foi levar os recursos ao PTB na eleição, ele faz via agência de publicidade, na relação de contratos que tem com algumas empresas de governo. Marcos valério, quero que o senhor (relator) guarde esse nome, é um carequinha lá de Belo Horizonte.”
(Idem)

BENEFICIÁRIOS

“Nomes de parlamentares que receberam (o mensalão) eu não sei. Sei dos presidentes e dirigentes do partido que recebiam para distribuir, já disse aqui.”
(Idem)

CONTRADIÇÃO

“Mas se V. Exa. contestou o mensalão não haverá uma contradição em aceitar esse tipo de ajuda (às eleições) desse mesmo dinheiro dessa mesma origem?”
(Do relator Jairo Carneiro)

“Não há partido nenhum aqui que faça diferente, nem o de v. exa. Nenhum partido aqui recebe ajuda na eleição que não seja assim. Nenhum. Tenho a coragem de dizer de público aqui. Não aluguei meu partido, não fiz dele um exército mercenário, nem transformei os meus colegas de bancada em homens de aluguel. Mas eu sei de onde vem os recursos das eleições e todos sabem. Aqui todos sabem de onde vem, só que nós temos a hipocrisia de não confessar ao Brasil. Estou assumindo isso aqui e faço como pessoa física, faço como Roberto Jefferson. Os dinheiros vêm dos empresários que, na maioria das vezes, mantêm relação com as empresas públicas. É assim e sempre foi. E essas oligarquias antigas, corrompidas, corrompedoras, acabaram por contaminar até a bandeira que durante 25 anos lutou a favor da ética e da moraldiade na coisa pública. Todo mundo sabe de onde vem o recurso aqui, não há quem não faça eleição assim. Precisamos é abrir aqui na Comissão de Ética essa ferida para que o Brasil saiba como é.”
(Jefferson)

INDICAÇÕES

“O PP tem poderes hoje para paralisar a Casa e a Casa está paralisada. Vou contar um episódio. Na conversa com o presidente Lula dessas nomeações que começaram a acontecer em janeiro, o presidente queria tirar o dr. Dimas (Fabiano Toledo) da Diretoria de Engenharia de Furnas. E pediu a nós, eu e o Walfrido (dos Mares Guia), que indicássemos um nome para o lugar do Dimas. O presidente Lula estava magoado com o governador Aécio Neves que, usando toda a transferência de recursos que Furnas faz para a Cemig, fez um programa de mais de R$ 1 bilhão em Minas Gerais chamado Uma Luz Para Todos. E botou lá, “Governo de Minas Gerais”, um placão enorme com a letrinha microscópica: “Apoio Governo Federal.” E nessa época o governador Aécio vinha batendo no presidente. O presidente Lula se sentiu traído pelo Aécio e queria tirar o Dimas de Furnas. Chamou a mim e ao Walfrido. “Me dêem um nome para a diretoria de Furnas”. Aí fomos procurar. Conversei inclusive com o senador Delcídio (Amaral) sobre o dr. (Francisco) Spirandel, que é um homem de currículo expecional na área. A ministra (Dilma Roussef) festejou, passou pelos órgãos do governo, a Casa Civil festejou. E foi marcada a posse dele… Houve uma grande pressão antes para que ele não fosse nomeado. Pressão de todo o lado. Os grandes empreiteiros do Brasil, todo mundo lutando pela manutenção do dr. Dimas na diretoria de Furnas.”