Pancadaria no retorno
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O Liberal
Brasília (Agência Estado) – O discurso com que o deputado José Dirceu (PT-SP) marcou sua volta à Câmara se transformou em ato de provocação e acabou em pancadaria. Parlamentares do PT e a claque de militantes do partido, que lotaram as galerias, atuaram em sintonia, gritando palavras de ordem e transformando o plenário da Câmara numa arena de enfrentamento político. O clima de tensão cresceu gradualmente e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), não conseguiu amenizar os ânimos. Resultado: a festa montada pelo PT para receber o ex-ministro da Casa Civil serviu intensificar a guerra entre PT e oposição.
O tumulto começou logo na chegada de Dirceu à Câmara. Cerca de 200 militantes, a maioria filiada a sindicatos de bancários e vigilantes, entraram no prédio e o seguiram em passeata até ao gabinete da liderança do PT da Câmara. “Zé Dirceu é meu amigo! Mexeu com ele, mexeu comigo!”, gritavam, empunhando bandeiras do PT. Animado pela claque e dizendo que isso fazia “bem para o coração e para a alma”, Dirceu entrou sorridente no plenário. Enquanto o ex-ministro cumprimentava os colegas, os petistas iam tomando conta da primeira fila do plenário.
Os militantes entraram nas galerias e, antes mesmo do discurso de Dirceu, continuaram gritando: “Partido! Partido! É dos trabalhadores!” Esse coro foi reforçado depois pelos próprios deputados do PT. O presidente em exercício da Câmara, deputado José Thomas Nonô ( PFL-AL), ameaçou esvaziar as galerias. “A casa é nossa”, respondiam os petistas nas galerias, vaiando o deputado.
Mas o tumulto se generalizou durante o discurso, já com os trabalhos sob o comando de Severino. A primeira confusão no plenário começou quando Dirceu disse que sempre defendeu a liberdade de imprensa, mesmo porque foi vítima da censura e da ditadura. “Terrorista!”, gritou quatro vezes, do meio do plenário, o deputado Jair Bolsonaro (PL-RJ). Severino interveio para advertir o deputado de que havia orador na tribuna.
Democracia – Na tribuna, aparentando calma, Dirceu aproveitou para beber água. Ignorando as manifestações do plenário e galeria, o deputado continuou seu discurso dizendo que a essência da democracia é o direito da minoria e que estava ali para buscar o consenso e a convergência. Frisou, porém, que quando a convergência não existe é preciso ir a voto. “Você compra voto!” gritou Bolsonaro.
A bagunça aumentava e Severino, irritado, pedia em vão que a ordem fosse mantida e o orador, respeitado. Ninguém conseguiu controlar as galerias e os deputados do PT repetiam, levantando o braço direito num grito de guerra: “Partido! Partido! É dos trabalhadores!” Alguns parlamentares tentaram tirar Bolsonaro de cena, sem sucesso. Dirceu seguiu em frente, em meio a aplausos dos partidários. Mas não conseguiu completar suas frases para anunciar, depois, que cumpriria o regimento da Câmara.
Neste momento, o deputado Alberto Goldman (SP) pediu um aparte. O ex-ministro deu a palavra primeiro ao deputado Ricardo Barros (PP-PR). Outros pediram apartes, mas Dirceu negou, criando novo mal-estar. Em provocação a Goldman, o ex-ministro fez uma confissão. Disse que ainda deseja ser governador de São Paulo e afirmou que o tucano esquece as administrações de seu partido em seis Estados.
Berro – “Mas eu não falei nada para vossa excelência, pois não tive tempo!”, berrou Goldman. “Eu não falei ainda! Eu vou falar!” A esta altura, o plenário se transformara num verdadeiro caos. A deputada Luciana Genro (PSOL-RS) pedia a palavra e dizia aos gritos, que a esquerda não tinha falado, só a direita. Severino pedia calma e respeito, enquanto as galerias continuavam gritando palavras de ordem. Mesmo depois que Dirceu encerrou seu discurso, afirmando ser sim um deputado de esquerda houve pancadaria entre deputados.
Severino foi obrigado a suspender a sessão por duas vezes enquanto reinava a troca de agressões físicas. Para provocar os militantes, o deputado Alberto Fraga (sem partido-DF) exibia cédulas de reais para as galerias. A seu lado os deputados João Fontes (PDT-SE) e Carlito Merss (PT-SC) travavam as primeiras cenas de pugilato. Merss levou um soco no estômago de João Fontes, que foi retirado por Alberto Fraga. O deputado João Batista Babá (PSOL- PA) e Paulo Pimenta (PT-RS) começaram uma outra briga.
O empurra-empurra se generalizou e a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) entrou na confusão para tirar das mãos de Bolsonaro um saco preto que exibia em letras brancas as palavras “Mensalão” e “Lullão”, ao lado de um desenho da estrela-símbolo do PT. A deputada machucou no rosto. O deputado Fernando Ferro (PT-PE) partiu para cima de Bolsonaro, que estava com o braço direito engessado.
Mais uma vez, Severino pediu que as galerias fossem esvaziadas e os seguranças da Câmara prenderam um militante do PT. Mas os próprios parlamentares comandavam o tumulto. Na avaliação de deputados da oposição e do próprio PT, o erro foi ter deixado entrar a claque no plenário. “Isso é coisa do século passado”, disse o deputado Fernando Gabeira (sem partido-RJ), que também foi pivô da confusão protagonizando uma briga com Carlito Merss. “Foi uma festa mal armada. E não há clima para fazer festa alguma. O PT errou mais uma vez”, afirmou Ricardo Barros. Mas o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), disse que as provocações partiram da oposição.
Com a elevação da crise, reforma é desacelerada
Brasília (Agência Estado) – Um dia depois do anúncio de Dilma Rousseff para a Casa Civil, a reforma ministerial empacou. Com a crise política em temperatura cada vez mais elevada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta acelerar as mudanças na equipe e chegou até a adiar a viagem que faria hoje ao Rio. Mas o quadro está tão indefinido que no Palácio do Planalto ninguém se arrisca a dizer qual será o próximo anúncio de ministro, embora o petista Jaques Wagner já tenha sido convidado para a Coordenação Política, hoje nas mãos de Aldo Rebelo (PCdoB).
Na prática, o desenho da reforma ainda não foi fechado. Para abafar a crise, Lula precisa fortalecer o PMDB no governo e tirar algumas cadeiras do PT na Esplanada, mas tem enfrentado resistências. A reforma já foi anunciada como ampla, depois virou restrita e agora não se sabe mais qual será o seu formato.
As críticas à indecisão do presidente são constantes e partem de todos os lados: do PT ao PMDB, passando pelo PP e PL. No novo lote de fogo amigo, alguns petistas também torceram o nariz para o convite feito a Jaques Wagner, sob a alegação de que ele estaria “desatualizado” para a Coordenação Política. Entre os aliados, o sentimento é um misto de compasso de espera e descrença.
Prefeitos, deputados e senadores baianos no ataque contra Wagner
Salvador (Agência Estado) – Cotado para ocupar a pasta da Articulação Política, o ministro do Conselho do Desenvolvimento Econômico Jacques Wagner foi acusado há 15 dias, por prefeitos, deputados e senadores do PFL baiano, de realizar uma outra “articulação”, através da Coordenação de Comunicação Institucional para o Nordeste da Petrobras com sede em Salvador: a ajuda através do patrocínio da estatal, de festas de São João de 23 prefeituras baianas (que receberam entre R$ 5 mil e 80 mil), 18 das quais governadas pelo PT e partidos da base aliada ao Planalto. A contrapartida seria apoio político à candidatura de Wágner ao governo do Estado no próximo ano.
Os pefelistas que possuem 150 prefeituras baianas só obtiveram patrocínio para duas, enquanto o PT que governa apenas 18 municípios, teve oito prefeituras selecionadas pela Petrobras. “Isso é um caso claro de favorecimento”, disse o senador César Borges (PFL-BA) que se queixa do apoio financeiro da Petrobras a prefeituras ligadas a Wagner desde a eleição municipal do ano passado. Para o parlamentar o problema ocorre devido “a um mal que é o aparelhamento do Estado, pois nunca se viu na República um aparelhamento tão grande de um partido dentro da administração pública”. Conforme Borges “a promiscuidade entre interesse partidário com interesses administrativos é que está levando o governo federal à essa situação que todos estão acompanhando”.
Os deputados estaduais Heraldo Rocha e Paulo Câmera (ambos do PFL) solicitaram explicações sobre os patrocínios ao escritório regional da estatal. Em âmbito nacional o senador Antonio Carlos Magalhães e o deputado federal
Antonio Carlos Magalhães Neto encaminharam requerimentos no mesmo sentido à direção nacional da Petrobras cobrando explicações sobre a política de patrocínios da empresa.
Patrocínios de festas em prefeituras não são bem vistas pelo Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia que no ano passado identificou irregularidades em pelo menos 50 delas.