Nova ameaça paira sobre o ministério
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Zero Hora – Porto AlegreZero Hora – Porto Alegre 21/8/2005
Nova ameaça paira sobre o ministério
Acusação contra Antonio Palocci põe em risco ponto de equilíbrio do governo e estabilidade econômica
CAROLINA BAHIA E FÁBIO SCHAFFNER/ Agência RBS/Brasília
Sustentado pelo desempenho da economia, o governo corre o risco de perder seu ponto de equilíbrio. As denúncias contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ameaçam o único salvo-conduto de um governo mutilado pela deserção de petistas desiludidos e pelo exílio dos afetados pelas denúncias que convulsionam o Planalto.
A 496 dias do final do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva amarga a solidão de comandar um ministério alijado de seus antigos homens de confiança. A próxima cabeça a rolar, segundo as apostas da última sexta-feira, pode ser a de Palocci.
– O ministro não pode nem se arriscar a ter uma condenação política da sociedade. Se isso acontecer, desaparece a figura do fiador do governo Lula – atiça o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
Ainda desarticulado, o núcleo político do governo tentou responder com falsa tranqüilidade às acusações de Rogério Buratti, ex-secretário de Governo da gestão Palocci. Apesar da reação do mercado, com alta do dólar e queda da bolsa, a atitude do Planalto foi desqualificar as denúncias e insistir na preservação do ministro como garantia da estabilidade econômica. Na cúpula petista, uma defecção desse porte é descartada com veemência. Mais uma baixa evidenciaria o esfacelamento do governo.
– Ele não vai sair. Essa denúncia não abala a credibilidade da questão econômica – defende o secretário de Relações Internacionais do PT, Paulo Ferreira.
No Planalto, a consciência é de que a crise do governo está atrelada à bancarrota do PT. Na formação inicial, o partido ocupou a maioria dos ministérios. Os mais otimistas crêem que, tão logo seja resolvida a crise, o governo irá recuperar a credibilidade.
– O grande erro foi ter começado com 90% de petistas – reconhece o deputado Beto Albuquerque (PSB), vice-líder do governo na Câmara.
À medida que os problemas políticos se avolumaram, a equipe foi se modificando, a ponto de um petista histórico como Olívio Dutra ter sido substituído no Ministério das Cidades por Márcio Fortes de Almeida, apadrinhado do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). A busca de apoio do Congresso, porém, não amenizou os problemas. Parlamentares governistas receberam a denúncia contra Palocci com desconfiança e cobram explicações convincentes.
– Não adianta ficar sangrando. Não vou participar de um abraço de afogados – avisou um dos mais fiéis líderes no Congresso.
Tendência do governo é ampliar leque de alianças
O afastamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu seguiu essa lógica. Até então todo-poderoso, disse que descia à planície para se defender. Fora do governo, virou fator de constrangimento para o presidente Lula e para o novo comando do PT e munição que alimenta o discurso da oposição.
– O governo terminou há muito tempo. O país está mostrando que a sua economia não depende do Palocci, mas sim do Banco Central – provoca o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).
Na ânsia de driblar a crise, a tendência do governo é ampliar as alianças. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), passa o final de semana em contato com a base aliada. Se a situação ficar incontrolável, o governo não hesitará em continuar com a dança de cadeiras. Um eventual substituto de Palocci no comando da economia seria o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal – um dos operadores da política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A oposição sugere outro nome de perfil conservador, o ex-ministro dos governos militares Delfim Neto (PP-SP).
Se depender de um dos principais conselheiros do presidente Lula, porém, desta vez a fotografia do governo permanece inalterada. Em meio à artilharia da sexta-feira, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, atrasou a tradicional viagem dos finais de semana a São Paulo e desviou o caminho do aeroporto para uma parada estratégica na casa de Palocci, em Brasília.
– Foram só cinco minutos de conversa. Mas o ministro fez questão de dar um abraço em Palocci – revela um assessor de Thomaz Bastos.