PT aposta em Chinaglia

Sep 22 2005
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Correio BrazilienseCorreio Braziliense, 22/09/2005
PT aposta em Chinaglia

A sucessão de Severino Cavalcanti começa a esquentar na Câmara. Além do pefelista Thomaz Nonô e do deputado petista, Michel Temer também está na disputa depois que o PMDB oficializou a sua candidatura

A base aliada corre atrás de um candidato que possa vencer a oposição na escolha do próximo presidente da Câmara dos Deputados, prevista para acontecer até daqui a uma semana. PFL e PSDB unificaram-se em torno do primeiro vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL) e já contam com a simpatia do PPS. Os três somam juntos 123 deputados. São necessários 257 para ganhar a eleição. Mas, enquanto a oposição já marcha unida, os partidos governistas lançam cada um seu nome. Pelo menos seis deputados estão na corrida. Essas candidaturas são também o primeiro passo para os partidos negociarem a composição da nova Mesa Diretora.

A bancada do PT, com 88 deputados, convergiu na noite de ontem por unanimidade em torno do líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP). Nem foi preciso haver votação. Uma reunião de duas horas tomou duas decisões: lançar Chinaglia e adotar todas as providências para não deixar a oposição tomar a Presidência. Ou seja, se houver a ameaça de derrota, o PT admite apoiar um nome de outro partido. Mas Chinaglia saiu otimista do encontro: “A partir de amanhã (hoje) estou em campanha”.

Mesmo a esquerda petista, sempre propensa à rebelião, admite votar nele. “Nonô é a direita”, justifica o deputado Ivan Valente (SP). O PSB, com 21 parlamentares, indicou o vice-líder do governo Beto Albuquerque (RS). O PL, com 48, decidiu apresentar o quarto-secretário da Mesa, João Caldas (AL). O PTB, com 45, consolidou a indicação de Luiz Antonio Fleury (SP). O PP, com 52, reuniu-se e apresentou o ex-ministro Francisco Dornelles (RJ).

O PMDB, com 87 deputados, oficializou ontem, também por unanimidade, o nome do presidente nacional do partido, Michel Temer (SP). “Estou acostumado a crises, foi assim no governo de São Paulo, quando assumi a Secretaria de Segurança Pública”, disse Temer na saída da reunião que aprovou sua indicação.

No baixo clero, os deputados que aparecem pouco no noticiário, mas têm peso e enraizamento regional, o petista mineiro Virgílio Guimarães começou ontem a movimentar-se em busca de apoios. Virgílio disputou e perdeu em fevereiro a eleição para Severino Cavalcanti (PP-PE), contra a posição oficial do PT, que apoiava Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Em conseqüência, foi suspenso por um ano das atividades partidárias. Nesse mesmo eleitorado, corre por fora o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI).

Com o lançamento de candidatura majoritariamente partidárias, a sucessão de Severino adquire um certo aspecto institucional. A corrida agora mostrará qual dos candidatos reúne mais apoio para ir ao segundo turno, e para vencê-lo. “Não basta dizer que tal nome tem votos suficientes para chegar ao segundo turno, é preciso saber quem reúne mais condições de vencer o bloco PSDB-PFL na decisão”, diz o deputado federal Marcelo Barbieri (PMDB-SP).

Os outros nomes do PT que disputavam a indicação, Sigmaringa Seixas, José Eduardo Cardozo (SP) e Paulo Delgado (MG), perderam força na manhã de ontem, quando uma reunião de líderes aliados indicou que Chinaglia seria o preferido da base entre os petistas. À noite, os líderes reuniram-se novamente para tentar um consenso.

A DISPUTA

Com a renúncia de Severino Cavalcanti, a Mesa da Câmara tem um prazo de cinco sessões para realizar nova eleição. Com isso, o pleito pode ser realizado na próxima quarta-feira

O processo eleitoral será conduzido pelo vice-presidente da Casa, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL). Se confirmada a candidatura de Nonô à sucessão de Severino, a disputa eleitoral será presidida pelo segundo vice-presidente, o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI)

A corrida partidária

Alijado da Mesa Diretora da Câmara desde fevereiro, o partido quer fazer valer sua condição de maior bancada para emplacar o novo presidente da Casa. Com o posto, ganharia um certo controle sobre a Casa, onde estão sendo julgados os mandatos de sete deputados da legenda, e poderia brecar um possível pedido de impeachment contra Lula

Com a presidência da Câmara, o partido reforçaria a sua pretensão a aliado preferencial do governo e também aumentaria as possibilidades de a legenda lançar, no ano que vem, um candidato próprio à Presidência da República

A efetivação do vice José Thomaz Nonô como presidente da Câmara colocaria o partido de oposição na posição privilegiada de ter o poder de decidir sobre a instalação ou não de um processo de impeachment contra Lula. Também fortaleceria a posição do partido nas negociações para uma aliança com o PSDB nas eleições do ano que vem

A legenda optou por compor aliança com o PFL e apoiar o candidato da sigla nas eleições para a Casa. Em troca, tem um argumento a mais para recompor a aliança feita em 1994 e 1998, que trazia um tucano na cabeça-de-chapa e um pefelista como vice na disputa à Presidência

O partido aumentou o seu poder dentro do governo ao conseguir o cargo de presidente da Câmara, que perde agora com a renúncia de Severino. Nada mais natural do que queira manter agora o status que conquistou, ainda mais quando tem os mandatos de quatro deputados envolvidos no escândalo do “mensalão” a proteger

O partido declarou sua independência do governo desde o início do escândalo do "mensalão”. A escolha de um petebista para a presidência da Câmara poderia forçar o governo a tentar reconstruir as pontes com a legenda, que chegou a ser fortemente cogitada para fornecer o vice de Lula em 2006

Deputados dos dois partidos são citados como opção do governo para driblar a resistência da oposição ao PT. Caso um deles seja o escolhido, o partido se torna a opção natural de Lula para a escolha do vice-presidente nas eleições de 2006

O candidato do partido é Alceu Collares (RS), ex-governador do Rio Grande do Sul e uma das principais lideranças da legenda deixada por Leonel Brizola. Faz oposição sistemática ao governo Lula. Tem poucas chances de emplacar seu candidato.