2006 embola tudo na Câmara
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O GloboO Globo, 23/09/2005
2006 embola tudo na Câmara
Um dia depois de o PT apresentar seu nome para concorrer à presidência da Câmara, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), abriu mão da candidatura e anunciou que seu partido, o PSB e o PCdoB estavam lançando outro candidato: o deputado e ex-ministro da Coordenação Política Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A reviravolta ocorreu depois de 24 horas de negociações e só foi anunciada ontem à noite. A mudança foi forçada pela avaliação comum dos aliados e do Planalto de que as resistências a um candidato petista poderiam possibilitar a vitória de um nome da oposição. Menos de 24 horas depois da renúncia de Severino Cavalcanti ao cargo, já eram pelo menos nove os candidatos. Partidos governistas e de oposição estão de olho nas eleições de 2006, numa disputa acirrada que dificulta o consenso e tumultura a sucessão de Severino.
Contando com o apoio da ala governista do PMDB e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Aldo vai agora atrás do apoio de PP, PL, PTB e PMDB, todos com candidatos já lançados formal ou informalmente. Ele já tem apoios de líderes desses partidos — do líder do PL, Sandro Mabel (GO), do vice-líder do PP, Agnaldo Muniz (RO) e do líder do PMDB, Wilson Santiago (PB) — mas precisa conquistar suas bancadas.
— O partido mostrou desprendimento. Demonstrou que obter a maioria e vencer as eleições tem importância estratégica — avaliou Fontana.
O próprio Chinaglia, que era o preferido do PP e do PL, foi quem estimulou o debate sobre a candidatura, sob o argumento de que o governo não poderia sofrer uma derrota.
— Retirei minha candidatura e o nosso candidato será o Aldo Rebelo. Tínhamos que tomar decisões rápidas para conseguir eleger o presidente da Câmara. E como líder do governo minha obrigação maior é com a condução do processo — afirmou.
Presidente participa das articulações
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, participaram da articulação para a troca da candidatura governista à presidência da Câmara. A todos os políticos com os quais conversou desde quarta-feira, Lula repetiu que a base aliada unida em torno de um candidato era a maneira mais segura de evitar que a oposição conquiste o comando da Casa.
Chinaglia quis insistir na candidatura, mas Lula disse que o PT, pivô da atual crise política, não tinha como impor nomes e corria risco de derrota. E que queria que ele permanecesse na liderança do governo.
Antes mesmo de o nome de Aldo ser oficializado, o líder do PTB, José Múcio (PE), foi consultado e afirmou que o partido poderia rediscutir a candidatura de Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) em favor de um não-petista. O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), consultou os líderes do PDT, do PPS e do PV, que adiaram a tomada de posição, mas adiantaram que teriam dificuldades para apoiar qualquer governista e não apenas os petistas.
— O importante é buscar alguém que unifique mais a base aliada e atraia os partidos não alinhados com a candidatura de Thomaz Nonô (PFL-AL) — afirmou Casagrande.
— Um candidato com o rótulo palaciano não terá apoio do nosso bloco — disse o líder do PDT, Severiano Alves (BA).
O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) ontem mesmo disse que retiraria seu nome. O líder do PMDB, Wilson Santiago, ficou de conversar com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e a bancada. No PP persiste a incerteza. O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), pôs sua candidatura na rua apesar de no dia anterior seu partido ter apresentado o nome do ex-ministro e deputado Francisco Dorneles (PP-RJ).
— Eu não serei nunca o dissenso. Minha candidatura procura o consenso e o entendimento entre os partidos. Dentro de um consenso mínimo eu disputo a eleição. Sou indicado pela bancada, mas não vou disputar tendo apenas o apoio do partido — disse Dornelles, antes da escolha de Aldo.
Depois da euforia inicial, a oposição está começando a temer pelo desempenho da candidatura de José Thomaz Nonô (PFL-AL). O lançamento da candidatura de Michel Temer (SP), na noite de quarta-feira, acabou fechando as portas para o crescimento de Nonô, que neste momento estaria limitado ao PSDB e ao PFL. Mas tem boas chances de ter o apoio também do PPS, do PDT e do PV.
O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), deu o rumo que poderão tomar os tucanos até quarta-feira:
— Estamos com o Nonô, mas se amanhã sua candidatura não passar dos 150 votos, vamos ter que rever.
Mas o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), avalia que a candidatura de Nonô ainda tem espaço para crescer e que essas dificuldades estavam previstas. Ele sequer deu muita importância ao fato de PPS, PDT e PV não terem ainda formalizado o apoio, considerando natural que eles procurem valorizar sua intervenção no processo.