Manutenção de dois

Oct 29 2005
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Jornal Ibiá – MontenegroJornal Ibiá – Montenegro, 29/10/2005
Manutenção de dois

Ronan Dannenberg

Um anúncio feito na tarde de ontem pegou professores e alunos de surpresa na Fundarte. A direção da instituição anunciou que dois dos quatro cursos que a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) realiza no local não terão vestibular para o próximo ano. As provas das graduações em Teatro e Artes Visuais foram cortadas. A Fundarte alega falta de recursos. Universitários e professores mostraram indignação com a notícia e já temem pela extinção da unidade em Montenegro.

Segundo a professora de Música, Júlia Hummes, a não realização de vestibular para Teatro e Artes Visuais enfraquecerá os demais cursos. "Existem várias disciplinas que intercalam as quatro graduações. Trata-se de um retrocesso", frisa. Júlia afirma que a notícia foi recebida com surpresa. "Todos nos diziam que os cursos seriam mantidos", relata. "O reitor afirmou que era um curso modelo", aponta o professor de Artes Visuais, Marco Antônio Gomes de Araújo.

O fato tem diversas repercussões. De acordo com a professora de Teatro, Jezebel de Carli, muitos professores e alunos vieram para Montenegro junto de suas famílias. "Um grande grupo mudou sua vida para trabalhar aqui, inclusive deixando outros empregos", declara. Com o possível cancelamento dos cursos, demissões podem vir. "Caso as graduações não sejam mantidas, os professores que ministram aulas para o primeiro ano correm risco", constata o professor de Teatro, Gilberto Icle. Atualmente, a unidade local reúne 30 professores. Ainda nesta sexta-feira, houve manifestação no Centro.

Assembléia marcada para semana que vem
Já está marcada para a próxima sexta-feira uma assembléia aberta à comunidade. O encontro ocorre no Teatro Therezinha Petry Cardona, às 19 horas. "Temos que mobilizar a comunidade para que ela lute por aquilo que conquistou", destaca Jezebel. "O cancelamento ameaça, inclusive, o título que a cidade leva, que é o de ‘Cidade das Artes’", sublinha a professora de Artes Visuais, Andrea Hofstaetter. Outras manifestações ocorrerão, em data e local a serem divulgados. Outro fato que é criticado pelo corpo docente da instituição é o que denominam de "incoerência", devido aos progressos que os alunos tiveram dentro do curso e profissionalmente. "São vários prêmios conquistados e que levam o nome da Uergs para as mais variadas partes do Estado e do Brasil", enfatiza a professora de Música, Celiza de Oliveira Metz.

Formandos indignados com a situação
A primeira turma de formandos da Uergs teme que a celebração de uma graduação torne-se impossível devido à notícia. O formando em Teatro, Andrei Dorneles, coloca que a comunidade deveria participar dos processos da universidade. "Neste caso, é parte da cidade que está perdendo, pois a população votou pela Uergs pensando em desenvolvimento", aponta. O aluno afirma que se faz necessária uma interação maior entre a comunidade e os acadêmicos. A também formanda Janaína Kremer, que veio de Porto Alegre com sua família, destaca que a instalação de uma unidade da Uergs em Montenegro trouxe benefícios. "Contudo, já sentíamos que o curso seria modificado", aponta. Segundo ela, o "desmonte" que ocorre deve ser submetido à comunidade.

Além disso, Janaína relata que Montenegro tem muito a oferecer em termos profissionais, para que os graduados na Uergs tenham futuro dentro da cidade. "Com o fim dele, a cidade dá lugar a mercados saturados, como Porto Alegre", ressalta.

Redução de custos é apontada como motivo
A diretora-executiva da Fundarte, Maria Isabel Petry Kerhwald, afirma que, ontem, em reunião com a reitoria da Uergs, foi colocada a proposta da realização de apenas dois vestibulares em Montenegro. "Foram escolhidos Dança por estratégia, já que não há nenhuma graduação gratuita na área, e Música por ser o forte da Fundarte", conta Isabel. Segundo a diretora, os cortes visam diminuir custos. Isabel afirma o desejo de manter o convênio com a Uergs. "Espero que a comunidade se una para isso", conclama. A reportagem do Jornal Ibiá tentou contato com o reitor da Uergs, Nelson Boeira, mas não obteve resposta até o fechamento dessa edição.