Falta equalização cambial, o resto é maquiagem

Mar 16 2006
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Jornal NH – Novo HamburgoJornal NH – Novo Hamburgo, 16/3/2006
Falta equalização cambial, o resto é maquiagem

Reunião ontem com o governo federal serviu para recapitular problemas do setor

Voltamos para casa, assim como saímos, sem nenhuma novidade.” Dessa forma, o vice-presidente de Negócios Internacionais da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI), Jorge Faccioni, sintetizou a reunião de ontem entre entidades da cadeia produtiva do couro e do calçado e representantes do governo federal, que teve como porta-vozes o secretário do Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Antônio Sérgio Martins Mello, e um assessor da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para Faccioni, qualquer outra medida em favor do setor que não mexa na questão cambial (mais equilíbrio) serve apenas como “maquiagem” para o problema.

O encontro de ontem, na verdade, serviu para recapitular ao governo que o setor calçadista continua em crise. Pior, que ela se agrava a cada dia. Conforme Faccioni, foram apresentados números do segmento desde a audiência concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2005. “Naquela época, mostramos números de desemprego alarmantes (cerca de 20 mil), mas a previsão para esse ano é de que seja ainda maior”, disse ele.

O vice-presidente da ACI observou que as projeções da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) são de que o setor possa demitir mais 25 mil trabalhadores neste ano, situação que pode ser motivada pela redução de 85 milhões de pares na exportação, caso a cotação do dólar fique nos atuais patamares — ontem, a moeda norte-americana fechou em R$ 2,121. O alerta feito ontem também foi no sentido de perda de mercado internacional. “Enquanto a China aumentou em 14% sua participação, o Brasil teve uma redução de 3%. É um cenário desolador. Precisamos de uma solução para equalizar a taxa de câmbio”, enfatizou Faccioni.

SONHO DISTANTE – O presidente da Abicalçados, Elcio Jacometti, disse que o governo está muito longe de oferecer qualquer aceno ao setor no que diz respeito à política cambial. “Seria querer muito achar que o governo vai mexer no câmbio por causa do setor calçadista, que é o mais afetado com a atual política. Portanto, temos que descobrir outros mecanismos possíveis. Para isso, acontecem as reuniões”, disse. Para ele, apesar de não obter respostas concretas nas idas e vindas a Brasília, o setor não pode esmorecer. “É a luta de sempre, mas quem quer corre atrás. Se ficarmos parados é que a coisa não vai funcionar mesmo. Se vamos conseguir, não sei, mas desistir, jamais.”

Buscando outros aliados, uma parte da comitiva calçadista reuniu-se, ainda na manhã de ontem, com o senador Sérgio Zambiasi, que comprometeu-se a defender as reivindicações do setor. Na semana passada, um encontro com o deputado federal Beto Albuquerque também foi produtivo, na avaliação de Faccioni. “Esse apoio é muito importante pois, por incrível que pareça, ainda precisamos sensibilizar a todos sobre a nossa causa”, justificou, reconhecendo, porém, o trabalho do Ministério da Fazenda na restituição do PIS/Cofins, uma das únicas medidas, discutidas com o presidente Lula, que foi concretizada.

Ainda participaram da audiência principal de ontem, representantes da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), a Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AicSul) e o Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB).