O prejuízo bilionário das tragédias

Dec 15 2006
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Correio Braziliense, 15/12/2006

TRÂNSITO

Estudo inédito revela que os acidentes nas rodovias provocam perdas de R$ 22 bilhões, devido a mortes e gastos com atendimento médico e danos materiais. Em 2004, mais de 66 mil pessoas ficaram feridas

Uma cifra bilionária. É quanto custa a tragédia que se repete todos os dias nas estradas brasileiras. Um estudo divulgado ontem pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) chegou ao valor exato deste prejuízo: R$ 22 bilhões. Este montante, avaliado entre julho de 2004 e julho de 2005, é quase três vezes superior ao que o governo federal gasta, todo ano, no pagamento do Bolsa Família, um total de R$ 8,3 bilhões. Esta fortuna inclui despesas como atendimento médico, afastamento do trabalho, remoção da vítima ou de carga e danos materiais.

O estudo “Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras” foi realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e promovido pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O maior prejuízo é registrado nas rodovias estaduais (R$ 14,1 bilhões), seguido das federais (R$ 6,5 bilhões) e das municipais (R$ 1,4 bilhão). Os acidentes com mortes custam em média R$ 418.341, 25 vezes mais do que os sem vítima (R$ 16.840).

Os acidentes em que há feridos custam R$ 86.032, cinco vezes mais que os que não têm nenhuma vítima. Os componentes gastos pelas pessoas representam 68,45% dos custos dos acidentes. Um acidentado que sai ileso custa R$ 1.040, um ferido R$ 36.305 e um morto R$ 270.165. O relatório, segundo o superintendente da ANTP, Marcos Bicalho, indica a necessidade de serviços de atendimento pré-hospitalar de qualidade ao longo das rodovias. “Esse atendimento é primordial na manutenção da vida e da sobrevivência”, afirma. Para essas instituições, os acidentes são definidos como um grave problema de saúde pública.

Segundo o estudo, a Região Centro-Oeste lidera em gastos, seguida pelo Norte e Nordeste. No Distrito Federal, os gastos com os acidentes de trânsito ficaram entre R$ 60 e 70 mil, valor considerado dentro da média nacional. O estudo mostra que, só em 2004, morreram 6.119 pessoas vítimas de acidentes nas rodovias federais e 66.117 ficaram feridas. As colisões frontais foram as que mais provocaram perda de vidas, somando 1.508. Os atropelamentos de pedestres ocupam a segunda posição, com 1.170 de mortes em um total de 3.996 casos. Essas ocorrências prevalecem em áreas urbanas e durante a noite.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea), Luiz Henrique Soares, considerou “revoltante” o gasto anual provocado pelos acidentes de trânsito. “É revoltante porque poderia ser evitado”, afirmou. A falta de planejamento para investimentos a longo prazo é uma das causas dos acidentes nas rodovias, na opinião de Soares. Ele aponta como saídas a realização de campanhas educativas dramáticas, com forte apelo de conscientização, e a melhoria da sinalização e do traçado das vias, além da manutenção e a da fiscalização.

Na manhã de ontem, mais uma tragédia engrossou as estatísticas brasileiras. Pelo menos 10 pessoas ficaram feridas em um acidente ocorrido na Zona Sul de São Paulo. Um passageiro morreu na colisão entre dois ônibus. Na Rodovia Anhangüera, duas pessoas perderam a vida. O motorista Wilson dos Reis Teodoro, 45 anos, de Patrocínio (MG), perdeu o controle da carreta quando seguia viagem para São Paulo. O veículo chocou-se contra a defensa metálica do canteiro central da pista, capotou e pegou fogo. Os tanques de combustíveis explodiram e lançaram a cabine da carreta na pista de retorno da rodovia. Teodoro e seu acompanhante, Marcos Vinícius da Silva, 15 anos, morreram carbonizados.