Presidente reúne os ressentidos
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Correio Braziliense, 05/02/2006
CONGRESSO
Lula terá agenda de encontros para amenizar racha pós-eleição da Câmara. Posto de líder do governo é disputado pelos grupos de Aldo e Chinaglia. Ministérios e relatorias de projetos também são negociados
Palácio do Planalto quer impedir que divergências entre Aldo (E) e Chinaglia atrapalhem aprovação do PAC
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará esta semana, em reuniões com seus principais apoiadores no Congresso, apaziguar ressentimentos na base aliada causados com a eleição para a Presidência da Câmara. A principal forma de tentar resolver o racha será mesmo a reforma ministerial, que deve sair só após o carnaval, mas Lula também precisa preencher cargos importantes na articulação política, que já se tornaram outra fonte de disputa entre os grupos do presidente recém-eleito da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), e do candidato derrotado, o ex-presidente da Casa Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ambos desejam emplacar nomes na liderança do governo na Câmara. Lula também precisa definir o líder do governo no Senado e o coordenador político. Os ocupantes desses postos serão fundamentais na condução dos projetos prioritários para o governo no Congresso, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Lula chamou Aldo ao Planalto esta semana para curar as feridas. Convocou também Arlindo Chinaglia e Renan. Para o líder do PT na Câmara, há uma série de decisões a serem tomadas. “É preciso aparar as arestas que ficaram da Presidência da Câmara, esclarecendo a importância estratégica do PAC e aperfeiçoando as medidas, ouvindo os aliados e a oposição”, resume Henrique Fontana.
O presidente precisará contentar os aliados de Aldo que se queixam de que o bloco de oito partidos, encabeçado por PT e PMDB, vai atropelar o bloco de seis partidos, liderado por PSB e PCdoB, na Câmara. Além de ter a Presidência, o maior bloco escolherá 11 das 20 comissões permanentes da Casa. Por isso, os aldistas miram na liderança do governo. O grupo de Chinaglia articulou para emplacar o ex-líder do PTB José Múcio (PE). Argumenta que é uma forma de neutralizar a atuação do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que depois de detonar o escândalo do mensalão faz forte oposição ao governo. Os apoiadores de Aldo dizem, porém, que para equilibrar o jogo de forças na base aliada o ideal seria indicar um nome do grupo.
O vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB), um dos aliados de Aldo, foi alçado à condição de líder com a eleição de Chinaglia. E já aproveita a interinidade para mostrar trabalho. Articula uma reunião, na quarta-feira, entre os líderes da base e os ministros da Casa Civil, Dilma Roussef, e da Fazenda, Guido Mantega, para discutir o PAC. “Precisamos de uma agenda comum, senão ficamos só remoendo, relembrando diferenças. Não podemos deixar a mesa vazia”, defende.
Três medidas
O primeiro ano do segundo mandato de Lula será decisivo para o sucesso de sua gestão no Palácio do Planalto. Para isso, o governo depende da aprovação no Congresso, além do PAC, da renovação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPFM) e da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Os aliados de Aldo poderão ser contentados com relatorias dessas três medidas.
No Senado, a escolha do líder tende a ser mais pacífica. Apesar de senadores petistas terem cobrado o posto, o atual líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), ganhou pontos no Palácio do Planalto e deve permanecer. O cenário na Casa não é confortável para o governo, apesar da reeleição do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), porque a oposição ocupará postos importantes, como a presidência da estratégica Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que ficou com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). “Vamos viver agora uma nova etapa. O governo tem de se estruturar e estimular o debate”, defende Jucá.
Um comandante importante da tropa também é o ministro de Relações Institucionais, responsável pela coordenação política. Tarso Genro deve deixar o cargo e ser remanejado para o Ministério da Justiça. O nome de Aldo chegou a ser citado como uma opção. Mas a disputa na Câmara deixou ressentimentos. Em conversas reservadas após a eleição, Aldo descartou terminantemente assumir qualquer cargo no governo.
Colaborou Gustavo Krieger