Planalto promete a salvação

Sep 12 2007
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Jornal do Brasil, 12/09/2007

BRASÍLIA. Na véspera da sessão que definirá o futuro político do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o Palácio do Planalto entrou de corpo e alma para salvar a pele do aliado. Mas estipulou seu preço. Renan terá de se comprometer com todas as letras a se licenciar da presidência da Casa para que o governo se mobilize pela captação dos votos dos senadores ditos indecisos.

O acordo proposto pelo Planalto é o de que o presidente do Senado, primeiro a discursar na sessão secreta convocada para as 11h, anuncie seu licenciamento. Feito isso, o governo entra em campo para virar a favor de Renan os votos de 11 parlamentares que aguardam o termômetro da sessão para decidir para qual lado penderão seus votos.

Até o início da noite de ontem, Renan ainda não tinha batido o martelo sobre a questão. Em público, repetiu seguidas vezes que a licença do cargo de presidente do Senado ou a renúncia não fariam parte de seus planos. O tom, nas conversas reservadas, era bem diferente. Desde a segunda-feira, Renan já admitia tirar licença temporária do mandato e viajar para fora do país, a fim de abrir caminho para a aprovação da PEC que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), conforme antecipado pelo Jornal do Brasil.

O ministro da Coordenação Política, Walfrido Mares Guia, passou o dia de ontem em ligações para os principais emissários do Planalto no Senado, empenhado em garantir o pacto. Lideranças da Câmara também foram convocadas para tentar virar o voto de correligionários ou de senadores do mesmo Estado. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), por exemplo, passou a tarde no Senado com a missão de persuadir o “indeciso” senador Mão Santa (PMDB-PI) a apoiar Renan. Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) também dedicou seu dia a conversas no carpete azul da Casa. Na contabilidade do governo e da oposição, existem ao menos seis votos que podem sofrer influência direta do governo na sessão de hoje. Seria o suficiente para virar a situação a favor do presidente do Senado, acreditam os articuladores favoráveis ao peemedebista.

Os dois maiores partidos oposicionistas, PSDB e DEM, fecharam questão pela cassação de Renan. Os tucanos garantem 12 de seus 13 votos – o senador João Tenório (PSDB-AL) foi liberado pela legenda para votar pela absolvição do conterrâneo. Pesa, na posição assumida por Tenório, a situação política do Estado, destino de R$ 1,8 bilhão em investimentos do governo federal dentro do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e cujo governador, Teotônio Vilela Filho, é aliado político de Renan.

Mesmo inseguro em relação à fidelidade de parte de sua bancada, o DEM seguiu o mesmo caminho e fechou questão pela cassação do presidente do Senado.

– Houve um reconhecimento: quebra de decoro. E uma conseqüência: perda de mandato – resumiu o líder da legenda na Casa, José Agripino Maia (RN).

Na teoria, a soma dos votos de tucanos e Democratas totalizaria 30 votos pela cassação de Renan – serão necessários 41 para extinguir seu mandato. Contabilizada a dissidência anunciada de João Tenório e a ausência do senador Edson Lobão (DEM-MA), esse saldo cai para 28 votos.

Para a esperança do senador prestes a ser julgado por seus pares, tanto o DEM quanto o PSDB acreditam na possibilidade de traições em seus quadros, durante a sessão secreta. Ao menos quatro senadores dos dois partidos se enquadram entre os indecisos. Com viés pró-Renan.