Judiciário ocupa vazio deixado pelo Congresso

Oct 29 2007
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Zero Hora – Porto Alegre, 29/10/2007

por Fabiano Costa

Judiciário

Diante da inoperância de parlamentares, magistrados legislamA inércia do Legislativo para regulamentar importantes pautas políticas tem levado o Judiciário se posicionar sobre temas pertinentes ao Congresso.

Nos últimos três anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiram sobre pelo menos seis assuntos abandonados no vácuo parlamentar.

Decisões como a que determinou na última semana a aplicação da Lei de Greve do setor privado aos servidores públicos têm provocado a ira de deputados e senadores.

Parlamentares enxergam uma invasão da competência do Legislativo na iniciativa. Para o deputado Beto Albuquerque (PSB), não é papel do STF fazer leis por interpretação.

– Acho perigoso o caminho de se judicializar a política, porque uma hora poderemos ficar perplexos com o que a Justiça pode fazer. Qualquer ditadura é perigosa, inclusive a do Judiciário – avalia.

Professor de Direito Constitucional da UFRGS, Eduardo Carrion discorda das críticas dos parlamentares. De acordo com Carrion, o Judiciário só tem se manifestado em matérias em que há falha e omissão do Legislativo:

– Não se pode dizer que o Judiciário esteja legislando. O Supremo e o TSE dão concretude à Constituição.

Antecipando-se a possíveis omissões do parlamento, a Constituição de 1988 previu mecanismos que atribuíram ao Judiciário competência para dar conta de direitos ainda não regulamentados em lei pelo Legislativo. O instrumento é uma tendência do direito, inspirada na corte constitucional da Alemanha dos anos 60.

A polêmica em torno do limite das atribuições do Judiciário é antiga. Já no século 19, parlamentares questionavam se a Justiça tinha legitimidade de suprir a ausência de normas reguladoras com suas interpretações.

Em meio às queixas dos parlamentares, há vozes isoladas, como a do senador Pedro Simon (PMDB), que fazem uma análise crítica da lacuna deixada pelo Legislativo.

– Não tenho nenhuma dúvida de que o Supremo esteja invadindo área do Poder Legislativo. Só que não temos autoridade para falar, porque são matérias da maior urgência que temos nos recusado a votar.

( fabiano.costa@zerohora.com.br )