Reflexos da nova lei
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O Nacional – Passo Fundo, 19/7/2008
Primeiro mês: BM flagrou 11 no teste do etilômetro. Consumo nos bares e restaurantes sofre diminuição assim como alguns índices de violência
Texto: Daiane Colla/ON
Em vigor desde 19 de junho, a lei que instituiu a tolerância zero ao álcool em todo o país, comemora um mês. Criada a fim de reduzir as mortes no trânsito, que no Brasil são em grande parte motivadas pelos exageros alcoólicos, em nível nacional já se nota avanços.
O deputado federal Beto Albuquerque (PSB), presidente da Frente Parlamentar do Trânsito Seguro no Congresso, afirma que a nova lei de tolerância zero para o consumo de bebida alcoólica por motoristas já cumpre papel importante. Segundo o Ministério da Saúde, o número de resgates de acidentados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência caiu, em média, 24% em 14 unidades da federação, com a lei. A maior redução foi de 47%, registrada em Niterói (RJ). Em Porto Alegre, a queda foi de 35%. Para a Organização Pan-Americana de Saúde, vinculada à Organização Mundial de Saúde, a lei é de "vanguarda" e, por isso, servirá de modelo para os demais países do continente americano.
Além de obrigar o motorista a não beber, ela ampliou as punições àqueles que se envolvem em acidentes e têm mais de 0,03 miligramas de álcool por litro de sangue. Esse valor representa cerca de três goles de cerveja. Em recente matéria, ON constatou que uma lata de 300 ml de cerveja extra eleva para 0,13 mg o índice de álcool no sangue, enquanto uma dose de tequila amplia para 0,41 mg.
Menos violência
Em Passo Fundo, as conseqüências também foram sentidas. O comandante do 3º RPMon, tenente-coronel Gilceu Souza, afirma que neste primeiro mês, além de ter sido reduzido o consumo de álcool, foi registrada queda na média de acidentes de trânsito e em alguns índices de violência urbana, como agressões, em grande parte motivadas pelo consumo de álcool. "Detectamos a redução de toda a gama de acidentes mais graves e notamos que toda a discussão em torno dessa lei veio facilitar a conscientização e o cumprimento das regras", frisou.
Menor consumo
Aos proprietários de bares e restaurantes de Passo Fundo a nova legislação parece rigorosa. Com a ingestão de apenas uma lata de cerveja de 300 ml, um cliente pode ser flagrado no bafômetro e encaminhado à delegacia mais próxima. O rigor da nova lei tem feito com que os consumidores mudem de hábitos. As várias cervejinhas foram substituídas por uma, duas no máximo. Em muitos casos a bebida alcoólica foi substituída por refrigerantes, sucos e água.
As mudanças não agradaram os donos de bares e restaurantes da cidade. Vinícius Albuquerque, gerente de um restaurante, afirma que desde que a lei entrou em vigor o movimento não foi alterado. Porém, a venda de bebidas alcoólicas caiu cerca de 30%. "Pra nós, isso representa diminuição nas vendas e também no lucro", salienta. Ele afirma que as bebidas estão gradualmente sendo substituídas pelos refrigerantes, sucos e água. "O problema é que essas bebidas saem pouco, porque geralmente toma-se mais cerveja ou vinho", afirma.
O proprietário de um bistrô afirmou que a redução no movimento do restaurante é muito significativa, cerca de 50%. Ele deve a redução exclusivamente à nova legislação. Para ele é impensável uma pessoa sair de casa para comer em um bom restaurante sem também degustar uma boa garrafa de vinho. A queda no movimento está fazendo o empresário repensar seus planos. Caso não haja sinalização de alteração na lei – que na sua opinião deveria ser mais branda para os motoristas que trafegam na cidade – no início do próximo mês ele deverá fechar o estabelecimento. "Fica inviável mantermos o local", afirma.
Edu Wentz, proprietário de um dos bares mais movimentados da cidade, afirma que a movimentação caiu cerca de 30% e que além dele, muitos proprietários de bares e restaurantes estão pensando em reduzir pessoal a fim de evitar prejuízos. "Esperamos que o governo faça algo para alterar a legislação dentro da cidade, em que a tolerância deveria ser maior. Devíamos seguir o exemplo de países como os Estados Unidos, onde a tolerância é de 0,8", disse. "Para se dirigir na estrada, concordamos que não se pode beber, mas dentro do município fica ruim", salienta.
Mais denúncias
Segundo o diretor da GMT (Guarda Municipal de Trânsito), Antônio Dengo, as denúncias de embriaguez ao volante têm chegado com mais freqüência nesse primeiro mês de vigência da lei. A GMT dispõe de um etilômetro, porém o equipamento não está em condições de ser utilizado, apresentando alguns problemas. Dessa forma, ao receber as denúncias, os agentes de trânsito acionam a Brigada Militar que vai à procura do motorista.
Mais corridas
Quem está comemorando a aprovação da nova lei são os taxistas. Desde a vigência da matéria, o número de passageiros cresceu. Carlos dos Santos já registrou aumento no número de corridas. De uma média de 20 por noite de sábado, ele está fazendo agora de 30 a 40. "O que mais ouvi foram passageiros dizendo que a legislação é rígida, que não dá para bobear e que preferem dividir um táxi e deixar o carro em casa do que pagar uma multa elevada", observa. O taxista, que não consome bebidas alcoólicas, diz concordar com a legislação, não só pelo benefício pessoal, mas para a segurança que ela pode representar aos motoristas.
Alguns taxistas estão se unindo e até um slogan foi criado para ampliar o interesse da população pelas corridas de táxi. Em alguns veículos, um adesivo estampa a frase. "Vá de táxi: é mais barato, é mais seguro". Se a conscientização da população acompanhar a rigidez da lei, alguns temem que em certos horários seja difícil encontrar um táxi disponível em Passo Fundo.
Mais vendas
A nova legislação ampliou também a comercialização de bebidas alcoólicas nos supermercados. O coordenador de loja do Zaffari Vergueiro, Sadi do Rosário, afirma que a ampliação nas vendas foi significativa, cerca de 30%. "Os próprios clientes dizem que estão deixando de sair e preferindo beber em casa", afirma.
Francisco Almeira, estudante de Direito, 20 anos, é um desses motoristas conscientes.
Ontem à tarde ele levou para casa quatro garrafas de vodka para uma festa que iria fazer com os amigos. "A lei é boa e as pessoas estão respeitando. Meus amigos, por exemplo, ou vão de carona ou com os pais para poder beber", disse.
A bancária Claudir Machado afirma que a lei não mudou muito os hábitos dela e do marido. "Nós sempre costumamos tomar uma cervejinha em casa mesmo", frisou.
Mais entregas
Quem comemora a nova legislação são os serviços de tele-entrega de bebidas. Um deles afirmou que a ampliação das entregas em residências não foi muito significativa. Porém, Igor Pires, proprietário de uma fruteira, que também faz tele-entrega de cerveja, afirma que o crescimento foi de 15% no número de entregas. "A lei é boa e só prejudica quem quer ser prejudicado", disse.
Perfil da embriaguez ao volante
Nesse primeiro mês de vigência da lei de tolerância zero ao álcool, a Brigada Militar flagrou em Passo Fundo 11 motoristas embriagados, todos do sexo masculino. Do total de flagrantes, dois foram feitos durante a tarde, cinco à noite e quatro na madrugada.
Dos motoristas flagrados, cinco deles tinham idade entre 19 e 25 anos, três entre os 30 e 40 anos e outros dois entre os 50 e 60 anos. Dos 11 motoristas, oito deles foram flagrados depois de terem se envolvido em acidentes de trânsito, dois abordados em barreira e um em patrulhamento.
Além disso, nove realizaram o teste do etilômetro e dois se negaram, tendo sido identificados como embriagados por teste testemunhal. Dos nove, três deles continham mais de 0,90 mg de álcool/litro de sangue, um mais de 0,80 mg, um mais de 0,70 mg, três mais de 0,40 mg e um mais de 0,30 mg de álcool/litro de sangue.
Com redução de 30% nas vendas, proprietário pensa em dispensar funcionários
Brigada Militar registrou redução no índice de acidentes graves e agressões
Restaurante sentiu redução de 50% no movimento e se não houver sinal de alteração na lei, proprietário afirma que irá fechar as portas
Tele-entrega de cerveja registrou crescimento de 15% nas vendas.