Captação esbarra nas cotas e falta de informação

Aug 15 2008
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Diário da Manhã – Passo Fundo, 14/08/2008
Deputado Beto Albuquerque quer liderar campanha nacional de doação e pede mudanças no processo de captação ao governo Federal.

O incentivo da doação de medula óssea em todo Brasil esbarra na burocracia das cotas estabelecidas para os Hemocentros. Em Passo Fundo por exemplo, o Hemocentro Regional tem capacidade para receber até 250 doações/mês. Uma campanha em massa para doação poderia inviabilizar o recebimento de novos doadores. E essa preocupação foi manifestada pelo deputado federal Beto Albuquerque durante audiência com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. O parlamentar quer liderar uma campanha nacional de medula óssea, mas pediu investimento do governo federal para ampliar a capacidade de realização do exame de histocompatibilidade (HLA), permitir que laboratórios não públicos possam colher amostras de sangue para o cadastro nacional de doadores, e ainda para dotar os hemocentros de laboratórios que ofereçam o teste.

Além disso, o deputado afirma que primeiramente há necessidade de informar a população sobre a doação e o transplante. “A desinformação e a limitação de investimento público são os maiores obstáculos ao aumento do número de doadores no país", afirma.

O Hemocentro Regional tem 7 mil pessoas cadastradas nos 119 municípios abrangidos, número considerado baixo se comparado com a população de Passo Fundo, de acordo com o diretor geral do Hemocentro, Everton Ermogenes. E por este motivo, a partir de agora a entidade vai iniciar um processo de humanização do atendimento, tanto de medula quanto de sangue, e ainda, uma renegociação das cotas junto ao Estado, para garantir a ampliação em pelo menos 50%, sendo que hoje é de 220. “Apesar de passarmos da cota, o Estado nunca deixou de repassar o valor (R$ 27,50 por coleta), mas como temos condições de dobrar as coletas, vamos negociar para que isto ocorra”, comenta Ermogenes.

Entretanto, uma campanha em massa, mobilizando mais de mil pessoas, por exemplo, o Hemocentro não teria condições de arcar devido à sua estrutura. “Temos um número de profissionais e de material estruturado para uma meta regular. Não podemos consumir esse material determinado para um período em apenas uma campanha, nem sobrecarregar os funcionários”, explica.

No encontro com o deputado, o ministro da Saúde concordou com a necessidade de uma campanha que desperte a sociedade para a importância de doar órgãos como a medula óssea. "É uma questão de informação e solidariedade", disse Temporão. Mas comentou que o número de doadores cresceu nos últimos cinco anos, de 40 mil para 700 mil, entretanto, ainda é insuficiente para a necessidade do país.

Quem pode fazer o cadastro

Como a meta de ampliação das coletas no Hemocentro Regional ainda está em fase de planejamento, o diretor geral diz que no momento, o objeto da campanha é os doadores. “Queremos fazer um trabalho de sensibilização dos doadores”, acrescenta.

Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos com boa saúde pode doar Medula Óssea. Ela é retirada do interior de ossos da bacia, através de punções e se recompõe em apenas 15 dias. Mas primeiramente, é feito o cadastro, quando serão retirados 10ml de sangue pela veia e preenchida uma ficha com informações pessoais. O sangue será tipado por exame de histocompatibilidade (HLA), que é um teste de laboratório para identificar suas características genéticas que podem influenciar no transplante. O tipo de HLA será incluído em um cadastro. Quando aparecer um paciente, sua compatibilidade será verificada. Se compatível com o paciente, outros exames de sangue serão necessários. Caso a compatibilidade for confirmada, o doador será consultado para decidir quanto à doação. Seu atual estado de saúde será então avaliado.

Todo procedimento, inclusive transporte e hospedagem, é por conta do SUS.

Porém, Ermogenes.diz que é raro encontrar compatibilidade fora da família. Entre irmãos existe percentual de 50% de chance, enquanto que entre não irmãos a possibilidade cai de 1 para 100 mil. “É por isso que o número de cadastrados tem que o maior possível”, ressalta. O Hemocentro funciona de segunda a sexta das 7h às 18h e está localizado na Avenida Sete de setembro, em frente ao Parque da Gare.

Estatística

Antes do encontro com o ministro da Saúde, o parlamentar foi à tribuna da Câmara cobrar ações dos governos para ampliar o universo de doadores. Ele lamentou o fato de o país só ter 735 mil doadores cadastrados, número insignificante se comparado aos 200 milhões de habitantes. Albuquerque alertou que a cada ano, 10 mil novas pessoas manifestam a doença. Só no Rio Grande do Sul, 800 pessoas a cada ano, 40% são jovens entre 16 e 19 anos. "Vejo a inércia do Poder Público, em todos os níveis, que não induz as pessoas à consciência de doar órgãos e a medula. Não vejo campanhas. Vejo limites para que os laboratórios façam exames de quem quer ser doador. O Ministério da Saúde ainda proíbe que se junte o banco de sangue do hospital público com o do não público, como se fosse um pecado um doador de sangue doar sangue em um hospital particular", lamenta. Beto disse que nos Estados Unidos há mais de 15 milhões de doadores cadastrados.

Drama pessoal

O deputado e sua família lutam desde dezembro contra a leucemia. O filho Pietro, de 18 anos, já passou por seis sessões de quimioterapia. "Eu apenas sou um exemplo nesses oito meses. Tenho lutado com fé e vou encontrar um doador, se Deus quiser, seja onde for, para salvar o Pietro desse drama. Mas penso nos 10 mil brasileiros que vão surgir este ano, no ano que vem, no Brasil todo", finalizou.