Beto sugere campanha para estimular solidariedade de doadores
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O Nacional – Passo Fundo, 15/08/2008
O deputado federal Beto Albuquerque (PSB) sugeriu ao ministro da Saúde José Gomes Temporão uma mobilização nacional de governos, Congresso Nacional, hospitais, ongs e empresas para estimular a doação de medula óssea. O primeiro passo, na opinião do deputado, é informar a população sobre a doação e o transplante. "A desinformação e a limitação de investimento público são os maiores obstáculos ao aumento do número de doadores no país", afirma.
No encontro com Temporão, Albuquerque pediu investimento do governo federal para ampliar a capacidade de realização do exame de histocompatibilidade (HLA), permitir que laboratórios não públicos possam colher amostras de sangue para o cadastro nacional de doadores, e ainda para dotar os hemocentros de laboratórios que ofereçam o teste. O HLA é um teste de laboratório que identifica as características genéticas que podem influenciar o transplante. O tipo de HLA é incluído no cadastro nacional. O transplante de medula óssea é indicado para o tratamento da leucemia.
O ministro concordou com a necessidade de uma campanha que desperte a sociedade para a importância de doar órgãos como a medula óssea. "É uma questão de informação e solidariedade", disse Temporão. Segundo ele, o número de doadores cresceu, nos últimos cinco anos, de 40 mil para 700 mil, entretanto, ainda é insuficiente para a necessidade do país. "A idéia da campanha é oportuna, esta é uma causa de todos nós", disse Temporão.
No dia anterior, o deputado foi à tribuna da Câmara cobrar ações dos governos para ampliar o universo de doadores. Ele lamentou o fato de o país só ter 735 mil doadores cadastrados, número insignificante se comparado aos 200 milhões de habitantes. Albuquerque alertou que a cada ano 10 mil novas pessoas manifestam a doença. Só no Rio Grande do Sul, 800 pessoas a cada ano, 40% são jovens entre 16 e 19 anos. "Vejo a inércia do poder público, em todos os níveis, que não induz as pessoas à consciência de doar órgãos e a medula. Não vejo campanhas. Vejo limites para que os laboratórios façam exames de quem quer ser doador. O Ministério da Saúde ainda proíbe que se junte o banco de sangue do hospital público com o do não público, como se fosse um pecado um doador de sangue doar sangue em um hospital particular", lamenta. Beto disse que nos Estados Unidos há mais de 15 milhões de doadores cadastrados.
Drama pessoal – O deputado e sua família lutam desde dezembro contra a leucemia. O filho Pietro, de 18 anos, já passou por 6 sessões de quimioterapia. "Eu apenas sou um exemplo nesses 8 meses. Tenho lutado com fé e vou encontrar um doador, se Deus quiser, seja onde for, para salvar o Pietro desse drama. Mas penso nos 10 mil brasileiros que vão surgir este ano, no ano que vem, no Brasil todo", finalizou.
Segue pronunciamento do deputado:
Sr. Presidente, vejo-me, desde dezembro – eu, minha família e meu filho Pietro -, num enfrentamento contra uma doença muito dura, a leucemia.
Travamos ao longo desses meses uma luta incansável, mas acho que é preciso neste momento tentar desta tribuna, queridos colegas, ecoar um pouco do drama que é meu, mas que a cada ano 10 mil brasileiros enfrentam. Só no meu estado, são 800 casos novos de leucemia por ano que se apresentam, a cada dia avançando mais sobre a juventude brasileira. Quarenta por cento dos casos de leucemia acometem jovens entre 16 e 19 anos, que é a idade do Pietro, meu filho.
Sr. Presidente, creio que o Brasil, um país de 200 milhões de habitantes, não pode continuar satisfeito em ter apenas 735 mil brasileiros cadastrados como doadores de medula. Isso é uma vergonha ao princípio da solidariedade, ao princípio da doação, que não custa nada, é uma atitude solidária para com as demais pessoas.
Não estou aqui falando em causa própria porque estou há quase 8 meses enfrentando esta luta com o Pietro lá em Porto Alegre, mas há centenas, milhares de jovens, de pessoas de todas as idades nos hospitais do país esperando por um doador.
O que vejo, Sr. Presidente? A inércia do poder público, em todos os níveis, que não induz as pessoas à consciência de doar órgãos e a medula. Não vejo campanhas. Vejo limites para que os laboratórios façam exames de quem quer ser doador. No Brasil, o Ministério da Saúde ainda proíbe que se junte o banco de sangue do hospital público com o do não-público, como se fosse um pecado um doador de sangue doar sangue em um hospital particular e só há mérito em quem doa sangue em hospital público. Por isso o número de doadores é insignificante para o tamanho dessas doenças.
Apelo para o ministro Temporão, ao meu governo e a todos os brasileiros para que mudemos essa situação. Quando falamos de Saúde, falamos mal dos governos, mas não estou atrás do governo. O que menos me importa é hospital e médico, que existem de sobra no Brasil. O que falta nesse caso são brasileiros solidários com outros brasileiros.
As pessoas não sabem o que é doar uma medula. Acham que é uma cirurgia grave na coluna e, por isso, têm medo. Na realidade, esse é um dos transplantes mais simples. Basta uma punção, a retirada do sangue da medula e a infusão no receptor para o transplante ser feito, mas não há esclarecimento nem campanha do poder público. Nós, quando não encontramos doadores aparentados na família, ficamos tentando um doador. Podemos achar um a cada 150 mil pessoas. É uma Mega-Sena pela vida, difícil de ser encontrada.
Ocupo esta tribuna para dizer que desses 10 mil casos de leucemia que acontecem no Brasil todos os anos, muito provavelmente, metade das pessoas são curadas com quimioterapia. Ele ainda não conseguiu e já fez 6 seções de quimioterapia.
Há uma outra parte significativa que encontra doador na família. Graças a Deus! Maravilha! Mas para um percentual dessas pessoas não há doador, não se cura com quimioterapia. Se não houver solidariedade, não há cura, não há salvação.
Nos Estados Unidos, há mais de 15 milhões de doadores cadastrados e aqui há 700 mil pessoas. Por que não nos mobilizarmos? Por que os poderes públicos, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, através da TV Câmara, da Rádio Câmara, dos órgãos de imprensa, não se mobilizam no sentido de sensibilizar todos para algo que pode salvar a vida de milhares de brasileiros todos os anos.
Faço este desabafo aqui. Já lutei, neste Parlamento, em defesa de vários projetos. Este assunto é para mim muito importante.
Quero deixar muito claro que o Ministério da Saúde tem de ampliar os limites para os laboratórios nas capitais fazer exame de HLA de quem quer que seja doador, unificar a coleta de doadores em hospitais públicos e não-públicos – não pode haver diferença – e, acima de tudo, tem que fazer campanha de indução. As vacinas hoje são um sucesso porque há indução, as pessoas são informadas, mas, no caso da doação de órgãos ou de medula, lamentavelmente, há omissão gritante em muitos casos.
Encerro, Sr. Presidente, e agradeço aos nobres colegas pela paciência de me ouvirem.
Espero que este chamado possa ter algum tipo de eco, possa chegar ao ministro Temporão e ao Palácio do Planalto, porque há milhares de brasileiros com problemas de medula, órgãos e outros. E a solidariedade das pessoas pode resolver este drama.
Eu apenas sou um exemplo nesses 8 meses. Tenho lutado com fé e vou encontrar um doador, se Deus quiser, seja onde for, para salvar o Pietro desse drama que a vida nos colocou no caminho. Mas penso nos 10 mil brasileiros que vão surgir este ano, no ano que vem, no Brasil todo, e que ficarão à mercê desse esclarecimento.
Obrigado a todos. Espero que possamos ultimar uma mobilização em defesa da vida e da solidariedade no Brasil.
O Sr. Presidente (Inocêncio Oliveira) – Gostaria de dizer que o deputado Beto Albuquerque tem razão. O Brasil precisa de mais doadores. A doação da medula óssea é a mais simples de todas. Não é a retirada de um órgão. Como médico e cirurgião posso informar. É apenas a punção que se faz no osso ilíaco, de um lado ou de outro, e a retirada é simples e sem prejuízo à saúde. Apenas tem que haver compatibilidade sangüínea, não só do grupo sangüíneo e fator RH, mas, sobretudo, de outros cinco fatores genéticos que, às vezes, inviabilizam a doação.