Renovan-se as esperanças

Sep 24 2008
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Clic Erechim, 24/09/2008

por Francisco Basso Dias (de Porto Alegre)*

Já estava perdendo as esperanças, mas o noticiário de Brasília aponta que o Projeto de Lei do senador Paulo Paim colocando fim ao fator previdenciário que, finalmente, vai fazer justiça aos aposentados da Previdência. Novos aliados começam a se manifestar.

O Vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), de Passo Fundo, decidiu quarta-feira última apoiar a proposição do senador tendo, inclusive, comunicado ao relator Germano Bonow (DEM-RS), também gaúcho, sobre seu interesse.

Os deputados sabem, não há necessidade de repetir, e eles mesmos são testemunhas das queixas dos aposentados sobre os valores percebidos do INSS.

Tem aposentado que com o que ganha não paga a farmácia no fim do mês; não consegue sobreviver. Isso é uma vergonha!

Até hoje não sei como demorou tanto para o Congresso Nacional, o governo, enfim, chegarem a conclusão de que como está não pode continuar.

O aposentado deste país não está conseguindo dar a volta; não consegue mais se sustentar, quanto mais se tiver junto a ele dependentes.

Se já não é uma fácil missão aos jovens trabalhadores sobreviverem nesse país, aos que já passaram dos 60 anos a tarefa fica ainda mais árdua. E onerosa. Um dado recente comprova tal afirmação.

A inflação entre a população idosa, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), subiu 2,65% no segundo trimestre desse ano, a maior taxa desde março de 2003, quando o índice teve alta de 5,28%.

Os dados, divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), são preocupantes. Ainda segundo a instituição, os idosos sentiram mais a inflação do que os demais, já que o índice que os englobam superou o Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-BR), que mede a inflação no varejo em todas as faixas etárias, e que ficou em 2,38% no mesmo período.

Pessoas mais otimistas poderiam dizer que a informação econômica é pontual e isolada, mas a análise de um período maior mostra que a vida de nossos idosos brasileiros está realmente ficando cada vez mais cara.

Nos últimos 12 meses, o índice da terceira idade registrou alta de 6,36%, enquanto a taxa para a média da população subiu 5,96%. No ano, a inflação dos idosos está em 4,05%, também superior aos 3,84% apurados no IPC-BR.

A justificativa que se dá para a alta é que a mesma tenha sido motivada principalmente pela elevação mais intensa dos preços dos alimentos, que registraram alta de 5,71% no segundo trimestre.

Como boa parte da renda do idoso é destinada a alimentação, essa turma sofreu mais – e sofre – os efeitos inflacionários. Somente no pão francês, o aumento no período foi de 18,06%.

É necessário reforçar que o acréscimo expressivo do valor não se refere a produtos supérfluos, mas do alimento mais básico a que se pode ter.

Habitação, vestuário e cuidados pessoais, além de serviços de saúde (médicos, laboratórios clínicos, hospitais e medicamentos) – setores onde a terceira idade também é muito participativa – igualmente inflacionaram, contribuindo, assim, para o ônus às pessoas que compõem essa faixa etária. O último dessa lista, aliás, com forte influência.

Tal segmento pesa muito na cesta de consumo dos idosos. E os preços não param de subir. Para esse ano, o reajuste autorizado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) varia de 2,52% a 4,61% para os medicamentos. Mas, apenas no segundo trimestre, a alta no preço de medicamentos foi de 3,33%, medidos pelo IPC-3i. A inflação é o sinal de alerta para a economia de qualquer país. Aos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a atenção deve ser redobrada.

Incentivar um consumo consciente e tentar evitar – já que não há como se proibir – o aumento descabido dos preços faz parte das obrigações do governo. Aos consumidores, é necessária muita calma antes de consumir qualquer item. Pesquisar bastante os preços antes de definir o local da compra pode ser uma saída interessante para fugir dos efeitos da alta da inflação. E aos idosos, mais do que nunca, além da pesquisa, muita torcida para que dias melhores possam voltar.

O exemplo mais original foi divulgado pelo Jornal Estado de São Paulo e mostra bem essa situação: a dona de casa Vera Cardoso Coimbra, 86 anos, pensionista do INSS: "Quando meu marido morreu, em 1985, eu ganhava oito salários mínimos de pensão. Com o tempo o valor foi caindo e, hoje, ganho cerca de dois salários (menos que R$ 800,00)".

O preço da alimentação caiu desde os anos 90, mas ocorreu o contrário com despesas obrigatórias, como condomínio, energia elétrica, telefone, gás e, sobretudo, assistência médico-hospitalar e remédios.

"Nós, aposentados e pensionistas, temos muitos gastos com medicamento e saúde, e o benefício quase nunca é suficiente para pagar todos esses custos", disse Vera.

É a legítima pauperização dos aposentados.