Polarização PMDB-PT é retomada no RS
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Valor Econômico, 07/10/2008
Sérgio Bueno, de Porto Alegre
O desempenho do PMDB e do PT nas eleições municipais do Rio Grande do Sul sinaliza, para 2010, a retomada da polarização estadual entre os partidos iniciada em 1994 com a derrota imposta pelo pemedebista Antônio Britto ao petista Olívio Dutra, reproduzida nas duas eleições seguintes com uma vitória para cada lado e interrompida em 2006 pela atual governadora, Yeda Crusius, do PSDB. Já os tucanos, mesmo com o governo estadual na mão, praticamente estagnaram em número de prefeituras, perderam dois dos três municípios mais importantes que administram e não conseguiram se firmar como alternativa consistente.
"Os resultados consolidam o PMDB e o PT como os dois grandes partidos do Estado", entende o professor de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco. Adversários no segundo turno da eleição em Porto Alegre, os dois levaram a melhor na maior parte de 14 das 17 cidades gaúchas com mais de 100 mil habitantes, que encerraram a disputa no primeiro turno, com seis vitórias petistas e três pemedebistas. Nas outras duas que terão segundo turno, além da capital, o PT enfrentará o PTB com relativa folga em Canoas, governada hoje pelo PSDB, e vai travar uma disputa acirrada em Pelotas contra o PP, que tenta a reeleição.
O PMDB, que em Porto Alegre saiu do primeiro turno com 43,85% dos votos válidos para o prefeito José Fogaça contra 22,73% da petista Maria do Rosário, também manteve a prefeitura de Caxias do Sul, segundo maior colégio eleitoral do Estado, ao vencer o PT, e desalojou o partido do presidente Lula de Santa Maria, outra cidade importante. Já os petistas tiraram os pemedebistas de Novo Hamburgo e Sapucaia do Sul, na região metropolitana, e mantiveram municípios relevantes como Gravataí, São Leopoldo e Viamão.
O PSDB, ao contrário, diminuiu de três para um o número de prefeituras entre as maiores cidades gaúchas. O partido da governadora Yeda, fustigado por denúncias de corrupção, perdeu Canoas (onde já vinha de reeleição e apoiou o PMDB, que ficou em terceiro lugar) e Santa Cruz do Sul (para o PTB) e conseguiu manter apenas o comando de Uruguaiana, na fronteira com a Argentina. "Se o partido está no governo estadual e não cresceu nas eleições municipais, ele não deverá ter gás em 2010", avalia Marenco.
No total, o PMDB cresceu de 136 para 143 prefeituras neste ano no Rio Grande do Sul em comparação com a eleição de 2004, enquanto o PT subiu de 43 para 60 e o PSDB foi de 17 para 19. O PP foi o campeão em número de municípios (avançou de 134 para 146), mas administra basicamente pequenas cidades do interior. O PDT, que também tem expressão, encolheu de 97 para 64 prefeituras.
Em Porto Alegre, onde a disputa entre petistas e pemedebistas deverá ser acirrada apesar da vantagem do prefeito que busca a reeleição, a candidata do PT tenta recompor antigas alianças de esquerda para tirar a diferença. Ela busca o apoio da candidata do PCdoB, Manuela D´Ávila (que ficou em terceiro lugar com 15,35% dos votos), e do PSB, que concorreram coligados com o PPS, e pelo menos de parte dos eleitores do P-SOL, que chegou em quarto lugar com a candidata Luciana Genro (9,22% dos votos).
Mas o acerto não deverá ser muito simples. Oficialmente os partidos que ficaram de fora do segundo turno, incluindo o DEM, que concorreu coligado com o PP, e o PSDB, ainda vão discutir ao longo desta semana que rumos tomarão a partir de agora. O deputado federal Beto Albuquerque (PSB), um dos coordenadores de campanha de Manuela, já avisou que as críticas de Rosário ao PPS no primeiro turno dificultam um acordo com os demais partidos da coligação e Luciana afirmou que não vai indicar voto em nenhum candidato.
Fogaça também está cortejando os partidos da coligação de Manuela, especialmente o PPS, partido pelo qual foi eleito em 2004 antes de migrar para o PMDB. O prefeito, que já disputou o primeiro turno coligado como PDT e o PTB, tem ainda feito apelos pelo apoio do PP e do PSDB, que participaram do seu governo até a definição das candidaturas deste ano, e defende que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal cabo eleitoral de Rosário, assuma uma posição de "estadista" e não interfira pessoalmente na eleição da cidade, já que o PMDB é da base do governo federal.