Disputa entre aliados passa longe do governo

Oct 20 2008
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Jornal do Brasil, 19/10/2008
Márcio Falcão

BRASÍLIA – O Palácio do Planalto mandou emissários ao Congresso para avaliar se as eleições municipais trouxeram algum prejuízo ao apoio dos 14 partidos da base governista na Câmara. Ao contrário do que era esperado, a cúpula do governo não tem muito com o que se preocupar. Os aliados não trouxeram, até agora, questões paroquiais. Foram relatadas apenas insatisfações pontuais que não ameaçam a coalizão.

As principais reclamações partiram das lideranças do PV. Consideram que o desembarque do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas campanhas no Rio e em Natal foi "desastroso". Os protestos verdes, no entanto, não indicam qualquer movimento de retirada da base. Pesa o quinhão do partido no primeiro escalão, que mantém o ministro da Cultura, Juca Ferreira.

A tranqüilidade dos aliados, no entanto, ainda é vista com cautela pela cúpula do governo. Temem que a rebelião ocorra nas próximas semanas, depois do segundo turno, quando chegam ao plenário da Câmara temas polêmicos e de interesse do Planalto, como a medida provisória 442, que autoriza o socorro do Banco Central a bancos em dificuldades, o projeto que cria do Fundo Soberano do Brasil (FSB), a reforma tributária.

Sem urgência

A MP é próximo item da pauta e já recebeu 74 emendas, sendo a maioria da oposição e 39 beneficiando o setor rural. O Fundo perdeu a urgência na última semana por um acordo entre governistas e oposicionistas e liberou a votação de quatro medidas provisórias que trancavam a pauta.

O projeto da poupança externa que a equipe econômica quer criar deve ser votado no próximo dia 29, mas a oposição promete dificultar os planos do governo. A reforma tributária ainda está na comissão especial e deve votar o parecer do relator, deputado Sandro Mabel (PR-GO), na quarta-feira.

– Nestas votações é que a base vai ter que mostrar que é base – argumenta o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PT-RS). – Quando formos votar essas matérias é que vamos ter idéia se algum ressentimento ficou ou não.

Outro possível mal estar talvez surja na bancada do PCdoB e do PSB. Mas as queixas são contra os ministros do PT que ajudaram a derrotar a deputada Manuela D' Avila que buscava a prefeitura de Porto Alegre contra a petista Maria do Rosário, que contou com o aval dos ministros da Justiça, Tarso Genro, Casa Civil, Dilma Rousseff, e Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.

– Temos relatos de situações constrangedoras dos ministros do PT – afirma o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). – Mas não podemos trazer esses incômodos para a conta do presidente Lula.

Antes de sentir o termômetro das votações, o governo, nos bastidores, avisou aos aliados que prepara para depois das eleições um pacote de bondades, que inclui algumas nomeações para segundo e terceiro escalões que estavam na fila, além da liberação de emendas dos parlamentares que podem chegar a R$ 600 milhões até o fim do ano. Os recursos estão sendo negociados diretamente pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

– É sempre um alívio saber que vamos contar com as emendas – declara o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que não acredita em qualquer revolta. – O sentimento é que este governo tem o apoio da população. Fizemos um balanço interno, identificamos algumas reclamações, mas nada de incêndio.