Artigo – O Mercado e a socialização dos prejuízos
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Diário da Manhã – Passo Fundo, 30/10/2008
Beto Albuquerque*
Os mercados se impuseram de forma absoluta sobre os poderes públicos nas últimas décadas. Foi um período em que se consagrou a política do “Estado mínimo”, no qual era “feio” se falar em medidas governamentais para estimular o desenvolvimento do país. E uma pergunta logo se impõe: as agências e outros organismos econômicos internacionais, que faziam previsões e submetiam nações as suas opiniões, rankings e classificações de risco, por que foram negligentes diante do estelionato que passou de banco em banco com os títulos hipotecários e as cobranças imobiliárias sem cobertura de ativos?
Com a crise na economia global, talvez os poderes públicos recuperem capacidade de ação e tratem de promover uma melhor distribuição de poderes. Os governos estão, neste momento, agindo e intervindo, mas o fazem, ironicamente, sob pressão dos mercados, para salvá-los. É o capitalismo socializando os prejuízos ocasionados pelo insucesso, com a conseqüente partilha dos recursos públicos entre os espertalhões fracassados. Os trabalhadores assalariados terão dificuldade de entender porque o sistema financeiro está sendo socorrido quando, muitas vezes, cadeias produtivas inteiras afundaram sem que houvesse do poder público qualquer injeção de recursos para preservação da produção e dos empregos.
Diante da queda dos países do primeiro mundo, a esperança é depositada na reação das economias dos países emergentes. Embora no Brasil muitas empresas tenham grande exposição à moeda estrangeira, a nossa economia é diversificada; o PAC introduziu o planejamento para os grandes investimentos em infra-estrutura; o país tem reservas de sobra para suavizar a crise e a agricultura foi incentivada para garantir o abastecimento.
O governo Lula está fazendo a lição de casa desde 2003 e, por isso, enfrentaremos, com mais armas a crise de confiança e contração do crédito causada pela turbulência financeira internacional, com a responsabilidade que as nações do primeiro mundo, infelizmente, não tiveram. Intrigante é ver a oposição, e alguns setores empresariais, acusarem o nosso governo de intervencionista em razão das justas e apropriadas precauções apresentadas na MP 443, que autorizou o BB e a CEF a comprarem empresas financeiras em dificuldades. Na real, os envergonhados porta-vozes do neoliberalismo verde-amarelo adoram o Estado desde que seja somente para pagar o pato.
*Deputado Federal (PSB/RS), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados