Ciro muda o jogo

Sep 27 2009
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Revista IstoÉ, 27/9/2009
por Sérgio Pardellas

O crescimento do candidato do PSB e de Marina Silva nas pesquisas mostra que o eleitor não quer apenas um plebiscito entre PT e PSDB

"Espero que o presidente diga que eu também sou um nome capaz de seguir com as mudanças no País"
Ciro Gomes (PSB-CE)

Especialistas em pesquisas eleitorais são unânimes ao afirmar que a mais de um ano das eleições a intenção de voto atribuída a cada candidato não pode ser considerada consolidada. Essas mesmas pesquisas, no entanto, segundo os analistas, indicam com segurança qual é o desejo do eleitor. Nesse sentido, os resultados da pesquisa CNI/ Ibope divulgada na última semana mostram que a mensagem transmitida aos políticos é muito clara: o eleitor quer novidade. Não necessariamente juventude ou um nome desconhecido, mas sim uma disputa que passe longe das eleições plebiscitárias, entre PT e PSDB, que se repetem no País desde 1994. O crescimento das candidaturas da senadora Marina Silva (PV-AC) e, principalmente, do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), hoje com 17% e em segundo lugar, já repercutiram tanto no PT como no PSDB. Em São Paulo, embora ainda se mantenha na liderança da pesquisa, o governador tucano, José Serra, reuniu seu QG para avaliar a queda de quatro pontos percentuais e já admite assumir publicamente a candidatura antes do final do ano.

"Minha candidatura representa a renovação e a pesquisa é gratificante"
Marina Silva (PV-AC)
No PT e entre os partidos aliados do presidente Lula, a queda nas intenções de voto na ministra Dilma Rousseff, também de quatro pontos percentuais, provocou reações mais fortes. A estratégia traçada por setores do governo para os próximos meses será a de desconstruir a candidatura de Ciro Gomes. À frente da operação está o ex-ministro José Dirceu. "Sei que vem muita pancada por aí, preciso ter paciência", constatou Ciro em entrevista à ISTOÉ na última semana.

A intenção dos apoiadores da ministra da Casa Civil é fazer com que o pré-candidato pelo PSB perca musculatura política até o início do próximo ano. "Vamos explorar as incongruências do discurso econômico e político de Ciro", adianta um petista com trânsito livre no Planalto. A senha foi dada por Dirceu em viagem ao Nordeste durante a semana passada.

Em entrevista para rádios no Ceará, o ex-ministro apontou suas baterias na direção do pré-candidato socialista. "Se o PSB insistir na tese de duas candidaturas na base governista para presidente, vamos fazer o mesmo nos Estados, lançando candidatos do PT onde o PSB tem nomes consolidados", ameaçou Dirceu numa referência aos Estados do Ceará, Pernambuco e Paraíba. "O Ciro não concorda com a estratégia plebiscitária. Ele quer ser presidente da República com a anuência de Lula. Mas nem o PT nem Lula vão abrir mão da hegemonia do processo", completou o ex-ministro.

Depois da entrevista, Dirceu seguiu para um encontro, em um apartamento no bairro Meirelles, com o governador do Ceará, Cid Gomes. Pretendia convencer Cid a demover o irmão deputado da candidatura. Em vão. Cid se recusou a falar sobre sucessão presidencial, em quase uma hora de conversa.

As declarações de Dirceu caíram como uma bomba no PSB. Um dos principais líderes do partido na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (RS) reagiu, dizendo que não se pode negar o tamanho do PSB no Nordeste.

"Quem mais perde com um eventual rompimento é o PT", avisa. Ciro não entende que seja uma ameaça ao projeto governista. Pelo contrário.

"Duas candidaturas são necessárias.

Não nutro a expectativa de Lula e o PT não lançarem Dilma. Só espero que, com a minha candidatura consolidada, o presidente diga que, além de Dilma, eu também sou um nome capaz de seguir com as mudanças que o País vem implementando", disse o deputado cearense à ISTOÉ. Ele acredita ter fôlego para atingir 25% dos votos. Para seguir em frente com o seu projeto, Ciro se fia num acordo tácito celebrado entre ele, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e Lula em julho. Os três estabeleceram o mês de fevereiro como prazo-limite para a definição das candidaturas governistas. "Nós continuaremos construindo o nome do Ciro. Com este cenário atual, ele é candidato", disse Campos. Até o final do ano, Ciro vai percorrer pelo menos 50 cidades.

Numa outra frente, o partido trabalha para fortalecer os palanques estaduais.

A filiação do exsecretário de Educação de São Paulo Gabriel Chalita ao PSB, para sair candidato ao Senado, atende parte deste propósito. Ligado ao ex-governador Geraldo Alckmin, Chalita foi o campeão das urnas do País no ano passado, elegendo-se vereador com 102 mil votos.

OFENSIVA Para reverter os números, o PT quer relançar a candidatura da ministra Dilma
Outros partidos da base governista também reagiram à pesquisa. Em conversas com a cúpula do PSB, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, admitiu apoiar o candidato socialista, caso a candidatura da ministra continue patinando até o início de 2010. O que mais preocupa os comunistas é a alta taxa de rejeição da candidata. Segundo a pesquisa CNI/ Ibope, em três meses, os eleitores que disseram não votar "de jeito nenhum" em Dilma passaram de 34% para 40%. Na avaliação de integrantes do PCdoB e até do PTB governista, o temperamento de Dilma tem jogado contra ela. "Fizemos uma ampla reunião com a bancada de Pernambuco para comemorar a indicação de José Múcio para o TCU e Dilma, além de não aparecer, nem sequer deu um telefonema. Por essas e outras é que vou fazer campanha para o Ciro", disse à ISTOÉ um parlamentar do PTB. O próprio José Dirceu admite que a campanha da candidata de Lula precisa mudar. Com os partidos aliados em cima do muro, a boia de salvação mais uma vez passa a ser o PMDB, que tem a oferecer estrutura nos Estados e tempo de televisão. O comando da campanha de Dilma também planeja um grande comício de relançamento da candidatura nas próximas semanas. "Essa situação exige definições que não podem mais esperar. É um trabalho que deve ser iniciado pela definição do vice e intensificação dos entendimentos com o PMDB", disse Dirceu.

ALERTA Em São Paulo, Serra reuniu o QG e admite oficializar candidatura
O fato é que as últimas pesquisas de intenções de voto mostram que a eleição presidencial está longe de uma definição. Os números revelam que parte expressiva do eleitorado anda inquieta, em busca de novas opções. A senadora Marina Silva (PVAC), que apareceu com índices entre 6% e 11% da preferência do eleitor, também reflete isso. Sua bandeira de preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentado é contemporânea. Está ganhando espaço nas ruas. "Marina não só atrai os eleitores insatisfeitos com o PT como também encanta os mais jovens, interessados nesse discurso mais do que atual", diz o cientista político Antonio Lavareda.

"O resultado da pesquisa é gratificante e minha candidatura representa a renovação", afirma a senadora. Mesmo José Serra, em primeiro lugar com 35% da preferência do eleitorado, não pode dar a eleição como favas contadas. Um caso exemplar é o da eleição à Prefeitura de São Paulo em 2008, quando a candidata do PT Marta Suplicy foi derrotada por Gilberto Kassab no segundo turno, mesmo figurando com quase 40% dos votos durante boa parte da campanha. A sucessão de Lula, portanto, está mais em aberto do que nunca.

PORTA ABERTA
Temer tem pressa, pois Quércia quer PMDB com tucanos
ME AJUDA QUE EU TE AJUDO

Ciente de que ainda não tem votos para aprovar uma aliança com o PT, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), cobrou uma definição dos petistas. A pressão deu resultado. Diante da última pesquisa de opinião, que mostrou recuo de Dilma Rousseff, o PT concordou em firmar, em outubro, um compromisso com o PMDB. Os dois partidos vão anunciar a criação de um programa comum de governo e ficará expresso que o PT fará o cabeça de chapa e o PMDB, o vice.

A ajuda é mútua. O PT teme que com a indefinição nos Estados e sua candidata empacada a maioria do PMDB possa virar a favor do PSDB. Já Temer acredita que, com o acordo, poderá avançar na escolha de seu nome para vice de Dilma. Falta combinar com a ala serrista do PMDB, para quem Temer vende o que não pode entregar. "Os entendimentos estaduais é que nortearão a posição nacional", disse o ex-governador Orestes Quércia, um dos apoiadores de Serra.

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