Lula ameaça reagir à ofensiva Ciro

Feb 05 2010
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Sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010 Pag. 3
POLÍTICA

Por Gerson Camarotti / Agência O Globo

Palácio do Planalto e PT já demonstram, nos bastidores, irritação com a acidez do deputado e presidenciável socialista. Pressão será forte contra Eduardo

BRASÍLIA – Diante do bombardeio do deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE), para manter sua candidatura presidencial, o Palácio do Planalto decidiu mudar de estratégia: agora vai jogar pesado com o PSB e tentar sufocar o partido, principalmente dificultando as alianças regionais. O governo fará forte pressão em Pernambuco, onde o governador Eduardo Campos, presidente do PSB, vai tentar a reeleição com o apoio do PT. Também deve jogar pesado em Estados como Rio Grande do Norte, Ceará e Sergipe, ameaçando dificultar acordos regionais já adiantandos.

A ideia, com isso, é repassar para o PSB o ônus político da retirada da candidatura de Ciro. Embora a pressão de Lula e do PT já tenha ficado mais que evidente, o presidente não quer ser apontado como responsável pela eventual saída de Ciro da disputa presidencial.

A reação palaciana se dá após dias seguidos de ácidas críticas de Ciro ao PT, PMDB e, principalmente, ao próprio Lula. O tom enfático do deputado cearense pegou de surpresa o governo e o PT. De acordo com um ministro, não se esperava que ele fosse tão duro.

“Esse é o estilo de Ciro. Temos que ter paciência. Ele tenta consolidar sua candidatura. Mas essa negociação tem que passar pelos partidos, pelos governadores e pelos arranjos políticos regionais, para só depois consolidar o quadro nacional”, comentou ontem o novo líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE), alertando: “Quem é governo não deve se dividir. Se essa lógica de incentivar a divisão nacional prevalece, isso vai estimular a divisão nos estados.”

No Ceará, vários petistas já ameaçam retirar apoio à reeleição do governador Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro. No Rio Grande do Norte, a governadora Wilma Faria (PSB) quer fechar a aliança com o PT para disputar uma vaga para o Senado. E em Sergipe, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB) deseja tentar a reeleição com o apoio do governador Marcelo Déda (PT-SE). O PT ameaça dificultar até mesmo alianças para as eleições proporcionais, o que prejudicaria a eleição de deputados federais pelo PSB.

Para tentar fortalecer sua posição no PSB, Ciro Gomes busca apoio de líderes do seu partido que devem enfrentar o PT nos Estados, como o deputado Beto Albuquerque (RS) e o senador Renato Casagrande (ES). Os dois devem disputar o governo de seus respectivos Estados com o PT no palanque adversário.

“O PSB vai avaliar o que é melhor para o partido. E temos que considerar que a candidatura de Ciro ajuda a imagem do PSB. Se o PT deseja fazer alguma proposta, vamos analisar. Apesar de o PT já ter definido uma aliança preferencial com o PMDB”, observou o líder do PSB, senador Renato Casagrande.

Mesmo com o movimento mais ofensivo do PT e do governo em cima do PSB, tudo o que o presidente Lula não quer é ter Ciro como adversário este ano. Por isso, o recuo das pressões explícitas em cima do próprio Ciro. Insistir nesse momento com essa estratégia poderia criar sequelas bem maiores no futuro.

Causou forte incômodo o fato de Ciro insistir em atacar a chamada “hegemonia moral” da aliança PT-PMDB, falando da existência de um “roçado de escândalos” nessa parceria. E também as contestações, até agressivas em alguns casos, à tese do presidente Lula de que o campo governista deve ter candidato único.

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