PresidenciA?vel Eduardo Campos, em entrevista: “Governo tem que governar”
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Eduardo Campos Ai?? cauteloso quando o assunto Ai?? candidatura Ai?? PresidA?ncia da RepA?blica. O figurino, porAi??m, lhe cai bem. Tanto no discurso como fisicamente. Aos 47 anos, o socialista de olhos verdes estA? menos calvo e mais magro ai??i?? porte que mantAi??m percorrendo trilhas com os quatro filhos. JA? a retA?rica de postulante ao Planalto Ai?? pontuada por cutucadas no governo.
Campos critica das questAi??es mais simples, como a falta de diA?logo, Ai??s mais complexas, como a paralisia da equipe econA?mica. Enquanto seduz eventuais apoiadores pelo paAi??s, Campos age sobretudo nos bastidores. A parte mais visAi??vel de seu projeto Ai?? encampada por lideranAi??as do PSB como o gaA?cho Beto Albuquerque.
ai??i?? O Beto Ai?? meu precipAi??cio ai??i?? brinca o governador, se referindo Ai?? candidatura que vem entusiasmando o PSB.
Neto e herdeiro polAi??tico de Miguel Arraes, uma grife da esquerda no paAi??s, Campos nA?o se constrange em dialogar com aliados do governo Dilma e setores conservadores como o DEM. Quer ser uma alternativa Ai?? polarizaAi??A?o entre PT-PSDB, mas sabe que sua candidatura depende muito mais dos rumos da economia em 2013. Ai?? por isso que bate na tecla de que nA?o adianta antecipar o debate eleitoral. Se os indicadores econA?micos melhorarem, avalia que serA? difAi??cil vencer o favoritismo de Dilma.
AtAi?? lA?, vai angariando simpatias. Sua administraAi??A?o Ai?? tA?o bem avaliada que foi responsA?vel por uma das mais duras derrotas do PT na A?ltima eleiAi??A?o, quando alAi??ou Ai?? prefeitura de Recife um anA?nimo contra a vontade do ex-presidente Lula. Desde entA?o, a relaAi??A?o com Lula nA?o foi mais a mesma.
Aos poucos, o pernambucano vai dando sinais de inconformismo com decisAi??es do governo ai??i?? mais recentemente com a ediAi??A?o da medida provisA?ria dos Portos ai??i??, e faz crAi??ticas Ai?? alianAi??a com o PMDB.
Ai?? com a fama de gestor eficiente e empreendedor que Campos desembarca em Porto Alegre em abril, quando palestra em dois dos tradicionais eventos capitaneados pela iniciativa privada no Estado, o TA? na Mesa e o FA?rum da Liberdade. A vitrine empresarial vem sendo interpretada como a arrancada de sua candidatura ao Planalto, algo que Campos insiste em negar. Nesta semana, ele esteve em BrasAi??lia e conversou com ZH. A entrevista:
ZH ai??i?? Qual Ai?? seu timing do processo eleitoral? 2014 Ai?? a hora para se candidatar a presidente?
Campos ai??i?? Vai depender muito do que ocorrer em 2013, um ano estratAi??gico para o futuro do Brasil. Desde o final do ano passado hA? um consenso no PSB, na nossa forma de ver essa conjuntura, de que era necessA?rio dedicar 2013 para as convergA?ncias, e nA?o para as disputas. O Brasil estA? concluindo sA? agora tarefas de 2012.
ZH ai??i?? Como assim?
Campos ai??i?? Apenas nesta semana votou-se o orAi??amento, nA?o se votou sequer o FPE (Fundo de ParticipaAi??A?o do Estados), tem uma sAi??rie de marcos regulatA?rios sobre setores estratAi??gicos, entre os quais o petrA?leo, que a qualquer momento pode judicializar essa questA?o, impactando num setor que dialoga com o maior conjunto de investimentos que a gente pode ter nos anos futuros do Brasil, que Ai?? todo o setor de petrA?leo, gA?s, offshore, naval. Entendemos que Ai?? preciso um grande cuidado para a gente nA?o jogar fora muitas das conquistas que construAi??mos nos A?ltimos 20 anos.
ZH ai??i?? Significa que se a economia estiver bem, o voo serA? junto com o governo? Se nA?o estiver, serA? solo?
Campos – NA?o, porque jA? houve tempos muitos difAi??ceis em que o PSB nA?o fez o voo solo e esteve solidA?rio.
ZH ai??i?? O senhor Ai?? conhecido apenas no Nordeste. Como vai fazer para ser conhecido nos grandes centros?
Campos – Essa nA?o Ai?? uma questA?o que estA? posta para este ano. O PSB estA? crescendo, se consolidando como um partido que tem sabido governar ouvindo a sociedade. Ai?? claro que o PSB tem o desejo de seguir crescendo, de ter responsabilidades maiores com o paAi??s. Mas ainda nA?o reunimos o partido para tomar essa decisA?o.
ZH ai??i?? O crescimento do PSB nas A?ltimas eleiAi??Ai??es entusiasma?
Campos – Claro que o crescimento anima muito os nossos companheiros para que o PSB esteja (com candidatura prA?pria) em 2014. Ai?? natural. O PT teve candidato prA?prio Ai?? PresidA?ncia da RepA?blica quando era muito menor do que o PSB Ai?? hoje. Mas nA?o Ai?? essa discussA?o que queremos fazer. Queremos fazer a discussA?o de conteA?do.
ZH ai??i?? De que forma?
Campos ai??i?? A sociedade nA?o quer disputa, nA?o quer a briga entre partidos. Ai?? o emprego das pessoas que estA? em risco. Ai?? hora de espelhar na polAi??tica brasileira um novo pacto social. As pessoas sA? estA?o vendo que milhAi??es de pessoas ascenderam Ai?? classe C e estA?o tendo acesso ao crAi??dito. Mas as pessoas nA?o querem ter sA? acesso ao crAi??dito.
ZH ai??i?? O senhor nA?o tem receio de ficar com o mesmo discurso da oposiAi??A?o?
Campos – De forma nenhuma. Estivemos ajudando na construAi??A?o desse projeto, quando foi fA?cil e quando foi difAi??cil. A nossa bancada do Congresso Ai?? uma das mais solidA?rias nas votaAi??Ai??es importantes da presidente Dilma. E a nossa forma de contribuir com o governo nA?o Ai?? dizer sA? o que agrada ao governo.
ZH ai??i?? O debate eleitoral estA? antecipado mesmo contra a vontade?
Campos – De uma hora pra outra, o debate sucessA?rio entrou na pauta. Eu nunca vi governo antecipar debate eleitoral. A vida inteira eu vi governo retardar, porque governo tem que se preocupar em governar. Quem antecipa debate eleitoral Ai?? oposiAi??A?o. Ai?? natural que eu, na condiAi??A?o de presidente de um partido, que foi o partido que mais cresceu, seja procurado por muita gente. Mas sA? Ai?? notAi??cia quando eu sou procurado por aqueles que estA?o distantes do governo. Quando eu sou procurado por Marcelo Deda, por Jaques Wagner, pelo PT, nA?o Ai?? notAi??cia. Ai?? notAi??cia quando Ai?? alguAi??m insatisfeito com o governo. Quando o AAi??cio tira uma foto comigo Ai?? notAi??cia.
ZH ai??i?? O senhor tem feito crAi??ticas aos rumos da economia, mas o governo tem tomado algumas medidas, como desoneraAi??Ai??es, concessAi??es. Na sua avaliaAi??A?o, onde estA? o erro?
Campos – Tivemos um freio, a meu ver, em 2011 que foi maior que a conta. Entrou 2012 com esse freio segurando o crescimento. Em determinado momento, todo o receituA?rio utilizado pelo governo Lula, pelo governo FH, em momentos de crise ai??i?? desoneraAi??A?o para setores expressivo da nossa indA?stria, estAi??mulo ao crAi??dito, uma sAi??rie de coisas ai??i??, nA?o surtiram efeitos que em outros momentos nA?s vimos surtir. Desta vez, houve a perda da receita e nA?o houve o ganho do crescimento econA?mico. EntA?o, se criou dois ambientes de crise. Ou seja, nA?o tem o crescimento da economia e tem restriAi??A?o das finanAi??as pA?blicas.
ZH ai??i?? O senhor avalia que falta diA?logo por parte do governo?
Campos – Sim. Falta diA?logo com os setores econA?micos, com o prA?prio pacto federativo. Se vocA? vai mudar o marco dos portos, por exemplo. Somos a favor de melhorar e modernizar os portos. E nA?s vimos mudar essa norma numa medida provisA?ria, em que nenhum governador que tem porto, e que tem ajudado a melhorar os portos, foi ouvido.
ZH ai??i?? Mas o ministro dos Portos, LeA?nidas Cristino, Ai?? do seu partido, o PSB.
Campos – Exatamente. Mas ele disse a mim que nA?o foi permitido a ele que se discutisse a medida provisA?ria. Falei com ele. NA?o fomos nem comunicados. NA?o fomos chamados para fazer esse debate. NinguAi??m nos chamou.
ZH ai??i?? O que o senhor acha da candidatura de AAi??cio Neves?
Campos ai??i?? Ai?? legAi??timo que o PSDB, um partido que jA? governou o paAi??s, que governa Estados importantes, que tem uma grande bancada, discuta a candidatura de um polAi??tico que tem experiA?ncia e tradiAi??A?o como o AAi??cio Neves.
ZH ai??i?? O senhor tem conversado com o presidente Lula?
Campos – A A?ltima vez foi por telefone, no final do ano passado.
ZH ai??i?? Como o senhor vA? a alianAi??a PT-PMDB?
Campos – Eu acho, sinceramente, que essa alianAi??a Ai?? mais do que estratAi??gica. Mas nA?o guarda sinergia com o pacto social. Outras forAi??as polAi??ticas ficaram na periferia do governo. Hoje, o centro do governo Ai?? ocupado pelo PT e pelo PMDB. Todos os outros partidos, que estiveram historicamente nessa alianAi??a (com o PT), nA?o estA?o no centro do governo. Essa Ai?? uma observaAi??A?o que os partidos tA?m feito. Eu jA? disse isso Ai?? presidente. Mas nA?o Ai?? de hoje. Isso jA? vinha desde o governo Lula. O PT faz as escolhas que acha certas. E vai ser julgado por isso. E o PSB, sinceramente, observa tudo isso.
ZH ai??i?? Muita gente estA? atribuindo Ai?? sua participaAi??A?o no FA?rum da Liberdade a largada para candidatura.
Campos – Eu vou participar do debate sobre conjuntura econA?mica, desafios da economia brasileira. NA?o vou ter preocupaAi??A?o de limitar a minha participaAi??A?o no debate polAi??tico, com o dever que eu tenho como militante, como presidente do partido.
ZH ai??i?? O PSB terA? candidato prA?prio no RS?
Campos – O PSB gosta de ter candidato e gosta quando o partido cresce, atravAi??s das nossas lideranAi??as. Mas nA?s tambAi??m sabemos apoiar. Temos alegria em apoiar tambAi??m candidaturas que nA?o sejam do PSB. NA?s nA?o somos daqueles que achamos que sA? Ai?? bom se for do PSB.
ZH ai??i?? Com essa alfinetada, o senhor estA? dizendo que o PT nA?o sabe apoiar?
Campos – Eu nA?o disse isso. Se eu achasse isso, eu diria.
ZH ai??i?? E esse pAi??riplo que a presidente Dilma estA? fazendo pelo Nordeste? Ela vem aparecendo sempre ao lado de governadores do PSB.
Campos – Ai?? completamente natural que a presidente visite uma regiA?o onde ela teve 10 milhAi??es de votos a mais. Onde ela teve uma vitA?ria. Eu acho que talvez chame mais a atenAi??A?o quando ela faz uma atividade com um governador do PSB pela conjuntura.
ZH ai??i?? Ai?? essa sua visibilidade que estA? fazendo a presidente se mexer?
Campos ai??i?? Ah, aAi?? vocA? tem que perguntar isso para ela.
ZH ai??i?? O senhor se sente preparado para ser candidato ao Planalto?
Campos – Me sinto completamente tranquilo de fazer esse debate. Tenho uma vida pA?blica, tenho experiA?ncia, jA? vivi momentos semelhantes a esse, e em outros, cumprindo um determinado papel, distinto do que ocupo hoje. JA? fui secretA?rio de Estado vA?rias vezes, deputado estadual, dirigente estadual do PSB, deputado federal, ministro, lAi??der de bancada na oposiAi??A?o, lAi??der de bancada na situaAi??A?o, governador duas vezes, jA? vi muitas eleiAi??Ai??es. E sei quando Ai?? o tempo de decidir. JA? sei exatamente que a crianAi??a sA? nasce bem, na maioria das vezes, quando nasce no tempo certo, maduro, tem aqueles nove meses. E acho que nA?s nA?o estamos no tempo.
ZH ai??i?? O que o senhor acha que estA? mal? E o que estA? bem no governo?
Campos – Acho que uma coisa importante tem sido a opAi??A?o de encarar o desafio social, de consolidar polAi??ticas pA?blicas que resgatem a pobreza no paAi??s. O que preocupa Ai?? a economia. Temos que fazer um grande esforAi??o de manter o que construAi??mos: a inflaAi??A?o sob controle e o Brasil crescendo, distribuindo renda. Ai?? esse o desafio.
ZH ai??i?? Se o senhor for candidato, a economia vai pautar seu discurso?
Campos – Todo partido precisa ter debate profundo sobre a questA?o econA?mica. Mas nA?o Ai?? sA? o debate sobre a economia que deve presidir o debate sobre o futuro do paAi??s. Temos um debate estratAi??gico. Como nA?s vamos aumentar o nA?mero de anos de estudo do brasileiro? Como Ai?? que a gente vai melhorar a educaAi??A?o? Como Ai?? que a gente vai melhorar e consolidar o SUS, que vive uma grande crise de financiamento? Como Ai?? que nos vamos encarar a questA?o da seguranAi??a pA?blica, que ainda nA?o foi encarada, a meu ver, como deve ser pelo governo. E que Ai?? um desafio porque hoje todos os mapas indicam violA?ncia crescente. Semana passada, por exemplo, saiu levantamento mostrando que hA? interiorizaAi??A?o do homicAi??dio, uma ida da violA?ncia para cidades de porte mAi??dio. HA? uma epidemia do crack. No Nordeste todos os Estados cresceram os homicAi??dios, exceto Pernambuco, onde houve reduAi??A?o. Esse debate nA?o vai ser feito?
ZH ai??i?? O senhor acha que tem espaAi??o para uma candidatura fora da polarizaAi??A?o PT-PSDB?
Campos – Nas A?ltimas trA?s eleiAi??Ai??es, tivemos a eleiAi??A?o indo para o segundo turno. E por que ela foi para o segundo turno? Porque alguAi??m fora dos dois primeiros lugares teve uma expressA?o de votos que levou a eleiAi??A?o para o segundo turno. Ou seja, quem vai dizer isso sA?o as circunstA?ncias polAi??ticas de 2014. E elas nA?o estA?o dadas ainda.
ZH ai??i?? O senhor vem conversando com DEM, alguns ruralistas? O senhor nA?o teme ficar com a pecha de uma candidatura conservadora e nA?o de terceira via?
Campos ai??i?? VocA?s sabem muito bem qual Ai?? a visA?o do PSB. Os compromissos que o nosso partido tem com mudanAi??a, com transformaAi??A?o. E a tradiAi??A?o que me trouxe atAi?? aqui, do ponto de vista polAi??tico. Uma tradiAi??A?o de quem tem compromisso com o povo, com mudanAi??a, com organizaAi??A?o dos trabalhadores. Agora, nA?s aprendemos sempre a dialogar. Essa Ai?? uma marca do meu partido e da minha formaAi??A?o polAi??tica. Eu no parlamento sempre fiz o exercAi??cio do bom debate.
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