Trânsito na Contramão

Jun 07 2007
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Diário do Comércio/MG, 5/6/2007

Informa o Ministério da Saúde que as mortes no trânsito em Minas Gerais cresceram 45,9% em cinco anos, saltando de 2.285 no ano 2000 para 3.334 em 2005.

Em números, o mesmo que a queda, com perdas totais, em um ano, de quinze aviões de médio porte. Mortes silenciosas, que ao contrário de acidentes aéreos não chamam atenção mas que o ministério acredita que deveriam ser tratadas como grave problema de saúde pública. Até porque estima-se que para cada vida perdida em acidentes de trânsito outras duas são definitivamente incapacitadas.

Informam também as estatísticas que a maioria dos acidentes fatais é conseqüência do abuso de velocidade, quase sempre associado ao consumo de bebidas alcoólicas ou drogas. O crescimento da frota de veículos automotores e, quase sempre, as más condições das vias, assim como a falta de fiscalização também devem ser fatores correlacionados.

O país, considerada a relação entre o número de veículos em circulação e a população, figura entre os que apresentam as mais altas taxas de acidentes. E, paradoxalmente, figura também entre os que possuem as mais rigorosas legislações de trânsito. Legislação – Código Nacional de Trânsito – que, em vigor desde 1998, foi à época de sua promulgação apontada como capaz de modificar, para melhor, este quadro.

Certamente não foi o que aconteceu e, essencialmente, porque um aparato policial capaz de fazer com que as novas determinações fossem cumpridas nem mesmo chegou a ser implantado. Pior, verifica-se agora, na prática, que está havendo uma regressão, bem explicitada na recente decisão do Conselho Nacional de Trânsito estabelecendo que medidores de velocidade (radares) instalados em vias públicas terão que ser identificados. Na tentativa de acabar com uma suposta indústria de multas tomou-se o pior atalho. Motoristas serão bem comportados quando passarem pelos radares mas, longe deles – e sabendo disso – estarão à vontade para cometer abusos, mesmo colocando em risco a própria vida. Algo como se um ladrão pudesse roubar à vontade, devendo parar apenas quando diante da porta da delegacia.

Quando tudo aponta da direção da necessidade de mais rigor e fiscalização efetiva, as autoridades fazem exatamente o contrário, ignorando os dramas humanos que a violência do trânsito provoca e desconsiderando também que as perdas materiais são de enormes proporções, inclusive para a Previdência Social.