“A esquerda nA?o pode vacilar. E o PT vacilou”

Nov 08 2015
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CARTA CAPITAL – BRASIL

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Rompido com o governo desde 2013, o PSB liderou na quinta-feira 5, no Rio de Janeiro, um encontro da CoordenaAi??A?o Socialista Latinoamericana, organizaAi??A?o internacional composta por 12 partidos que funciona como um contraponto ao Foro de SA?o Paulo, do qual o partido tambAi??m faz parte. O evento, cujo tema centrou-se no combate Ai?? corrupAi??A?o e em mecanismos para promoAi??A?o da transparA?ncia, foi marcado por crAi??ticas indiretas ao PT por parte das principais lideranAi??as pessebistas.
Em entrevista a CartaCapital, o vice-presidente do PSB, Beto Albuquerque, diz que o descolamento do PT de suas bandeiras histA?ricas, como a defesa da Ai??tica e do combate Ai?? corrupAi??A?o, contribuiu para o avanAi??o conservador em diversos setores da sociedade, principalmente no Congresso Nacional.
Para Albuquerque, que foi candidato a vice de Marina Silva em 2014 e pode encabeAi??ar a chapa do PSB em 2018, seu partido deve buscar romper a polarizaAi??A?o PT-PSDB a partir de um programa de progressista. “Precisamos afirmar nossos princAi??pios, nA?o nos rendermos a juros como estamos fazendo, alegrando a banca. As polAi??ticas tA?m que ser pela esquerda. A crAi??tica Ai?? pela esquerda”, diz.
Confira a Ai??ntegra:
CartaCapital: Muitos afirmam que 2015 deixa a impressA?o de que as disputas e polarizaAi??Ai??es inerentes Ai??s eleiAi??Ai??es de 2014 ainda estA?o vivas, como se 2014 nA?o tivesse acabado. O senhor concorda com essa anA?lise?
Beto Albuquerque: O Brasil vive de uma polarizaAi??A?o hA? 20 anos, entre tucanos e petistas. Isso agudizou a divisA?o, as disputas, os enfrentamentos e hoje um e outro teoricamente se odeiam em funAi??A?o da tentativa de voltar ou permanecer no poder. Tem-se discutido mais a polarizaAi??A?o do que os interesses brasileiros. Vivemos um momento muito difAi??cil politicamente, mas sobretudo economicamente. Alertamos desde 2012 o governo da presidenta Dilma de que o mundo mudava sua direAi??A?o econA?mica e que era preciso que o Brasil revisse suas decisAi??es econA?micas. SaAi??mos do governo porque nA?o fomos ouvidos. O governo preferiu manter a sua velha e conservadora alianAi??a em vez de ouvir o partido que foi desde a sua origem um parceiro leal. Hoje, vejo a heranAi??a nA?o sA? de um conflito polAi??tico, mas as consequA?ncias das decisAi??es errA?ticas que o governo continuou tomando em 2013 e em 2014.
CC: Em 2015 hA? uma mudanAi??a na conduAi??A?o da polAi??tica econA?mica…
BA: Os erros poderiam ter sido corrigidos sob auspAi??cio de uma visA?o progressista, nA?o de uma visA?o neoliberal como estA? se fazendo. Esse plano de ajuste que a Dilma junto ao (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy conduz no Brasil Ai?? o que temos de mais conservador: restringe crAi??dito, emprego, desenvolvimento e aumenta absurdamente o dispA?ndio com os juros. Um governo que gasta meio trilhA?o de reais sA? para remunerar juros da dAi??vida esqueceu de fazer o dever de casa. Sem desenvolvimento, sem equilAi??brio econA?mico, vocA? nA?o consegue avanAi??ar nas polAi??ticas sociais. Hoje temos o desemprego crescendo, a inflaAi??A?o corroendo o bolso principalmente dos mais pobres. Quem sempre quem paga o preAi??o dos equAi??vocos de um governo, especialmente um governo de esquerda, como deveria ser o governo da presidenta Dilma, e que nA?o Ai?? mais, pelo menos do ponto de vista econA?mico, sA?o os mais pobres do PaAi??s.
CC: Na abertura do evento, o senhor afirmou que quando um partido de esquerda falha em criar mecanismos de combate Ai?? corrupAi??A?o abre espaAi??os para forAi??as conservadoras. O PT falhou nesse sentido?
BA: Isso Ai?? uma fala que repete o que jA? vimos no mundo todo. A esquerda lutou por democracia, liberdade, criticou governos que conviveram com corrupAi??A?o impunemente, com ausA?ncia de fiscalizaAi??A?o. ConstruAi??mos esse ideA?rio. As pessoas confiaram na esquerda, porque falA?vamos de Ai??tica, de decA?ncia, de gestA?o competente, de compromissos sociais. Quando a esquerda assume e comeAi??a a ser ineficiente nesse sentido, a fazer alianAi??a interessada em suas particularidades, as velhas raposas da polAi??tica hoje governam, indicam cargos importantes. Quando que eu vou imaginar que um governo do PT dA? dois cargos para o (senador Fernando) Collor indicar? O que eu espero disso? Que o Collor tenha se redimido da corrupAi??A?o?
CC: Mas por dez anos o PSB fez parte do governo…
BA: Sim, fizemos. NA?o estou me eximindo. Mas sempre fomos perifAi??ricos (dentro do governo). O PSB nunca esteve em ministAi??rios-chaves. E talvez tenhamos sido o primeiro partido a entregar os seus cargos por discordar do governo, por seus erros, por suas alianAi??as. Quando se convive com esse tipo de realidade, mancha-se a imagem da esquerda. E a esquerda nA?o Ai?? corrupta. Agora, se um governo de esquerda permitiu que a corrupAi??A?o invadisse a principal empresa transnacional, a Petrobras, ele tem que ter responsabilidade. A responsabilidade Ai?? do partido hegemA?nico, Ai?? do PT. NA?o podemos lavar as mA?os ou achar que se os outros foram corruptos nA?s tambAi??m podemos ser. Essa conversa Ai?? uma conversa que a sociedade brasileira nA?o aguenta mais.
E em todos os momentos da histA?ria em que a esquerda fraquejou administrativamente, no seu compromisso com a Ai??tica ou com seu compromisso com as liberdades dentro de uma democracia, contribuAi??mos para a volta do discurso conservador. NA?o podemos vacilar. E eu acho que aqui no Brasil o PT, que sempre foi o partido hegemA?nico da esquerda, vacilou. Todo esse tipo de pauta conservadora que tramita hoje no Congresso tem a ver com o fracasso da esquerda.
CC: Por falar em Congresso, hoje a CA?mara dos Deputados vive um momento complicado, principalmente em relaAi??A?o ao seu presidente. Qual Ai?? sua posiAi??A?o em relaAi??A?o a Eduardo Cunha?
BA: A situaAi??A?o dele estA? cada vez mais insustentA?vel. Os camaradas que presidem o Senado e a CA?mara, alvos de suspeitas. E no caso do Eduardo Cunha de suspeitas que nA?o parecem mais suspeitas. Tem o nome, tem a digital, tem o passaporte, o nome da famAi??lia, e o cara diz: ai???eu nA?o tenho contaai??i??…
CC: Se de fato Eduardo Cunha nA?o ocupar mais seu cargo, o PSB pretende voltar a lanAi??ar um candidato Ai?? presidA?ncia da CA?mara?
BA: Temos que fazer um esforAi??o na hipA?tese da substituiAi??A?o, que eu espero que ocorra, mais do que nos centrar em disputas partidA?rias. Porque o Cunha Ai?? resultado tambAi??m do PT, que nA?o teve humildade de apoiar o candidato do PSB (JA?lio Delgado), o mais viA?vel para ganhar aquela eleiAi??A?o. Preferiu lanAi??ar um terceiro (Arlindo Chinagllia) e isso dividiu o campo de oposiAi??A?o e rendeu a PresidA?ncia da CA?mara a Cunha. Devemos identificar na CA?mara parlamentares que tenham trajetA?rias que possam compensar todos esses erros. Cito, por exemplo, o deputado Jarbas Vasconcelos, do PMDB, um homem de esquerda, que tem um histA?rico relevante, que poderia trazer de novo a CA?mara dos Deputados ao centro da Ai??tica e nA?o da luta fratricida de interesses nA?o tA?o honrados como vemos hoje.
CC: Mas o PSB pretende lanAi??ar novamente um candidato prA?prio? Repetir a alianAi??a com o PSDB, com o DEM, como na disputa em janeiro?
BA: Vamos tentar encontrar alguAi??m que unifique os princAi??pios e valores nA?o necessariamente de direita ou de esquerda, nA?o Ai?? essa a discussA?o que eu estou fazendo, mas valores histA?ricos, de ilibada conduta e trajetA?ria.
CC: No ano passado, o senhor foi candidato a vice na chapa da Marina Silva, que recentemente fundou a Rede. VocA?s ainda mantA?m contato?
BA: Eu tenho uma relaAi??A?o pessoal e polAi??tica com a Marina. Ai?? uma pessoa que eu aprendi a admirar e com quem eu convivi nos 45 dias mais importantes dos meus 30 anos de polAi??tica, que foi a campanha presidencial. SabAi??amos que ela tomaria um rumo, que ela sA? seria abrigada pelo PSB na condiAi??A?o de poder fazer seu partido. Desejamos sucesso Ai?? Rede, mas para 2018 o PSB pensa em candidatura prA?pria. Nem tucano, nem petista, mas candidatura prA?pria.
Marina Silva e Beto Albuquerque
Marina Silva e Beto Albuquerque em outubro de 2014: alianAi??a nA?o serA? repetida no primeiro turno de 2018, diz ele
CC: NA?o se pretende uma alianAi??a com a Rede em 2018?
BA: NA?o. Pensamos em propugnar o PSB. Perdemos a nossa maior lideranAi??a nas eleiAi??Ai??es de 2014, o Eduardo Campos. Levamos 24 anos para formar esse lAi??der e, infelizmente, na hora H da disputa, o perdemos para uma tragAi??dia ainda injustificA?vel para todos nA?s. EntA?o, o PSB nA?o pode perder seu protagonismo. Ele pode demorar a ter um outro Eduardo, mas Ai?? possAi??vel…
CC: O nome do senhor chegou a ser aventado para a candidatura…
BA: Temos Ai?? que continuar exercendo a disputa. O Lula nA?o perdeu trA?s eleiAi??Ai??es para ganhar a quarta? O PSB tem que seguir no primeiro turno das eleiAi??Ai??es, Ai?? para isso que serve para cada partido expor suas convicAi??Ai??es, suas ideias. O PSB terA? candidato. Mas essa nA?o Ai?? a hora de discutir qual seria o nome. Temos tempo para encontrar outros nomes ou talvez adotar essa soluAi??A?o em torno do meu nome. Vamos ter 15 candidatos prA?prios em capitais (em 2016). Esses jA? sA?o passos dados de um partido que em 2018 quer ser uma alternativa a essa polarizaAi??A?o que preside o A?dio e o A?dio nA?o preside soluAi??A?o nenhuma.
CC: A ideia Ai?? de uma oposiAi??A?o Ai?? esquerda?
BA: A nossa pauta foi uma afirmaAi??A?o de que a soluAi??A?o para o Brasil nA?o Ai?? essa guinada Ai?? direita que a Dilma e o Levy estA?o dando. Precisamos afirmar nossos princAi??pios, nA?o nos rendermos a juros como estamos fazendo alegrando a banca. As polAi??ticas tA?m que ser pela esquerda. A crAi??tica Ai?? pela esquerda.
CC: Mas o PSB tem aliados que nA?o estA?o necessariamente Ai?? esquerda do PT…

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BA: VocA? estA? se referindo a SA?o Paulo?
CC: Sim.
BA: Mas Ai?? uma alianAi??a. O Brasil tem muitos Brasis dentro dele. As realidades regionais sA?o muito distintas. Agora, no plano nacional hA? um horizonte sA?. Quem fez a escolha de governar com conservadores e de permitir com seus erros a volta do discurso conservador Ai?? o PT que estA? no comando do PaAi??s hA? 13 anos e nA?o efetivou nenhuma reforma profundamente estrutural que todos nA?s precisA?vamos.

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