PSB admite ceder ao PCdoB ou PDT candidatura na Capital

Jul 10 2007
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[10/07/2007]

Em entrevista ao Jornal do Comércio de Porto Alegre, o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque, falou sobre a reforma política, as eleições municipais do próximo ano, o segundo mandato do presidente Lula e sobre os avanços obtidos em programas sociais e de desenvolvimento econômico como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O vice-líder também avaliou os primeiros meses da gestão de Yeda Crusius. Confira a entrevista:

Jornal do Comércio, 09/7/2007

por Milton Gerson

Acreditando que é possível, com desprendimento e boas projeções de desempenho, reproduzir, em Porto Alegre e em outros importantes municípios do Estado, nas eleições municipais de 2008, a aliança construída nacionalmente entre PSB, PDT e PCdoB, o deputado federal Beto Albuquerque afirma que não será empecilho para a composição de uma chapa majoritária a ser lançada pelas três legendas na Capital. Na entrevista especial a seguir, Beto mantém cautela ao avaliar a gestão de Yeda Crusius, entendendo ser pouco o tempo de governo tucano no Estado. Beto acredita no sucesso do segundo mandato de Lula, apesar da sucessão de crises políticas e escândalos de corrupção que respingam em aliados do Planalto. Ele comenta os avanços obtidos em programas sociais e de desenvolvimento econômico como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Jornal do Comércio – O senhor se posicionou contrário à adoção da lista fechada na reforma política. O que o senhor achou da rejeição desse item pela Câmara?

Beto Albuquerque – O Brasil tem uma democracia muito prematura, estamos votando há 25 anos de forma ininterrupta. Essa solução de lista, teoricamente, é fantástica. Mas se considerar a realidade do País, ou seja, nosso contexto e as atuais estruturas políticas, constataríamos que a adoção da lista seria a substituição do eleitor por estruturas partidárias, muitas vezes, cheias de vícios. Assim não altera em nada o resultado das urnas.

JC – O senhor acredita que o País não estaria preparado?

Beto – Temos pouco tempo de exercício democrático. O cidadão ainda deve ter a oportunidade, apesar dos seus erros ou acertos, de corrigir muitas coisas. Sempre cito o exemplo de Severino Cavalcanti, que foi presidente da Câmara e perdeu o mandato. Pelas urnas não voltou para a Câmara, mas pela lista seria o primeiro em Pernambuco. O que precisamos é do pleno exercício da democracia pelo voto. Essa é a única ferramenta capaz de banir a corrupção e corrigir a política com o claro recado aos partidos. É o direito que ele tem de protestar e mandar embora aqueles que não satisfazem a confiança depositada através do voto. Falo muito à vontade sobre esse assunto porque as listas já começariam eivadas do vício político atual, dando privilégios aos atuais parlamentares.

JC – Que outros aspectos da reforma política o senhor acredita que ainda poderão ser discutidos no Congresso?

Beto – Defendo, por exemplo, acabar com as coligações nas proporcionais, estabelecer regras de fidelidade de mandatos aos seus partidos, talvez tenhamos que recuperar a cláusula de desempenho dos partidos políticos que vigorou até o ano passado e, infelizmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) levou dez anos assistindo a vigência dessa lei. Um outro assunto de médio prazo que fica de lado na Câmara, pois os parlamentares apostam em fórmulas mágicas, é a unificação das eleições, ou seja, pleitos de cinco em cinco anos. Gastamos menos com isso e o Brasil vai trabalhar mais, pois a cada quatro anos trabalhamos três já que de dois em dois temos eleições. Teríamos mandatos de cinco anos sem reeleição e com um detalhe importante, afinal essa seria a forma de construir partidos políticos uniformes. Pois quando se separam as eleições um partido em um município muda o tom buscando muitas vezes coligações com partidos que nacionalmente representam oposição a eles. A única forma de acabar com essa prática que é muito recorrente no Rio Grande do Sul é fazendo eleições de vereador a presidente.

JC – Como o senhor interpreta essa aliança em curso na Câmara Federal dessa frente integrada pelo PCdoB, PSB e PDT?

Beto – Essa frente de esquerda busca a reafirmação de princípios. Fico muito feliz de ver os deputados estaduais dos três partidos promovendo a troca de idéias. Somos partidos com origens diferentes, mas com identidade em princípios e lutas históricas. Esta aliança está sendo eficiente e acredito que chegaremos em 2008 com um desejo muito grande em todos os partidos de estarmos próximos no maior número possível de municípios. É um esforço que faremos que não impede o diálogo com os demais partidos. Os três partidos juntos podem no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e no Brasil dizer que temos perspectivas reais de poder e de vitória, o que não ocorre se atuarmos de forma separada.

JC – Para a prefeitura de Porto Alegre, especificamente, há três nomes muito fortes e o seu é um deles. A deputada Manuela D’Avila surpreendeu na eleição passada com uma votação expressiva, além do deputado Vieira da Cunha. Como fazer essa composição diante de nomes tão fortes?

Beto – O segredo é conversar bastante. Todos devemos conhecer melhor os partidos do bloco. Buscando, inclusive, esse mesmo diálogo com outros partidos políticos para que possamos entrar no debate de nomes. Particularmente, serei um homem empenhado na construção dessa aliança e não teria nenhum problema o PSB ficar fora da eleição majoritária em Porto Alegre para viabilizar uma aliança PCdoB-PDT com apoio dos socialistas. Juntos temos perspectivas reais de retomar o governo de Porto Alegre, na sucessão de José Fogaça, vencer as eleições para o governo do Estado e fazer uma disputa presidencial no próximo pleito. É preciso tolerância, afinal, somos partidos diferentes e temos nossas idiossincrasias e existem pessoas com bom potencial em todos os partidos políticos, mas muito em particular nestes três. Mas precisamos trabalhar o diálogo, quem sabe o próprio PT não se dá conta de que precisa retomar o seu olhar para um bloco de esquerda mais efetivamente em nível nacional e no próprio Estado.

JC – Nessas conversas em Brasília e, especialmente os deputados federais desses três partidos aqui no Estado, já começaram a conversar sobre a eleição de 2008?

Beto – Sim, mas é natural que o bloco não seja apenas parlamentar. Assim como é natural que cresça o sentimento no Congresso da possibilidade de estarmos juntos nas eleições. Mas aprecio muito a idéia de dialogar com o PTB e PP, pois somos partidos com uma cultura muito forte de identificação com o Rio Grande. Como estamos hoje na base do governo Lula, não haveria problema de conversarmos.

JC – Há uma vontade em disputar a prefeitura da Capital gaúcha?

Beto – A minha prioridade é viabilizar no máximo de lugares a nossa unidade. Mesmo que em alguns casos isso implique sacrifício de um ou de outro. Em Porto Alegre, meu nome pode estar fora se isso representar a unidade do PCdoB, PDT e PSB em uma chapa majoritária. A eleição em 2008 é uma preliminar importante de 2010. É preciso compreender esse nosso movimento. O PSB é um partido que pretende eleger 25 prefeitos, o PDT tem uma centena de prefeitos, assim é preciso ter reciprocamente apoios dos nossos interesses para sairmos das eleições fortalecidos.

JC – O governo Yeda completou seis meses de gestão. Acredita que houve algum tipo de avanço, qual é a sua avaliação do período?

Beto – Yeda está enfrentando uma dificuldade estrutural que é conhecida por todos. Este mérito não pode ser desconhecido, ainda que possamos discordar. Há um mérito nesse esforço de reestruturação para um Estado que acumula há décadas déficits orçamentários. É um balanço que existe e, em nível federal, estamos construindo com o governo possibilidades de reestruturação da dívida. Ainda que com autorização precária de financiamento internacional, porque, de fato, a situação orçamentária e estrutural do Estado é a pior do Brasil. Ocupamos o 27° lugar em termos de estruturação administrativa. Esse é um balanço que reflete o esforço. Contudo, os resultados são ainda poucos e, em uma circunstância dessas, é preciso aguardar a conclusão do primeiro ano de governo. Nem cem dias, nem seis meses, mas um ano é preciso para compreensão e avaliação, dando a chance de emitir um juízo de valor mais apurado e responsável sobre o que está acontecendo.

JC – Neste segundo mandato do presidente Lula, o senhor acredita que a coalizão tem mostrado resultados positivos?

Beto – Governar com maioria deixa o desafio sempre mais fácil. Mas o desafio de nosso governo é sempre muito maior que o primeiro, caso contrário, não haveria sentido em ter disputado e vencido a reeleição. Acho que o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) é extremamente importante e precisamos trabalhar para viabilizá-lo. É uma injeção de R$ 503 bilhões na economia através de obras de infra-estrutura, portanto, uma alavanca de empregos e de desenvolvimento. Para o Rio Grande do Sul o PAC é muito importante, seja para duplicar a BR-101, seja para alongar os molhes do porto do Rio Grande ou ainda para duplicar a BR-392. São obras que dialogam muito com os interesses do Estado e o PAC é um caminho de investimentos. O Rio Grande do Sul está tendo um volume muito grande de obras em estradas, ao exemplo do que vem sendo feito nas BRs 470, 285 e 101. O governo Lula viabilizou possibilidades para que o Estado seja uma porta escancarada à política de semicondutores no Brasil para a TV Digital com a construção do Ceitec. Já temos nesse governo R$ 140 milhões em investimentos na área. Essas são as respostas, além da ampliação das vagas no ensino superior com o ProUni, a Unipampa, o aumento das escolas técnicas do ensino profissional. Em recente visita que fiz a centros de pesquisa nos Estados Unidos pude perceber que há uma unanimidade lá de que o Brasil é uma economia que terá up-grade para a injeção de investimentos produtivos de grandes empresas do mundo desenvolvido e ultrapassaremos a taxa de crescimento de 5%. Temos uma economia estável, um governo com responsabilidade fiscal e controle de inflação. Não podemos perder a oportunidade de fazer esse País crescer, pois não haverá outra oportunidade com esse dinheiro voando sobre o mundo e querendo âncoras seguras para investimentos como esse. Acredito que somos esse porto seguro. Inclusive vivemos contradições de economias fortes A questão do câmbio é uma prova disso. Economia forte é sinônimo de moeda forte. Alguns setores acabam impactados, pois não se adequaram ao passo que a economia nacional vinha dando. O País exporta muito e com isso mais dólar entra na economia e assim menos ele vale. Isso afeta outros segmentos econômicos exigindo inventividade, profissionalismo, tecnologia e outros mais.

JC – O PSB ficou satisfeito com os dois ministérios recebidos? O fato de ter perdido a Integração Nacional recebendo em troca a Secretaria dos Portos estava dentro do previsto?

Beto – O PSB está muito satisfeito em continuar na condução do Ministério de Ciência e Tecnologia, estratégico e decisivo para o crescimento e desenvolvimento do Brasil. Estamos investindo muito em políticas de inclusão digital e ampliamos bolsas de formação de pesquisadores. Serão R$ 3,5 bilhões, até 2010, em investimentos no setor. Estamos contentes em dar prosseguimento a isso nas obras do Ceitec que passam por esta política. Entretanto, confesso que não fiquei satisfeito por inteiro com a criação da Secretaria dos Portos, ainda mais atendendo somente portos marítimos. É uma decisão politicamente correta do governo ter um “olho” que cuide desse setor, que responde por 90% da política de exportação do Brasil. Mas as coisas teriam ficado mais adequadas se ela abrangesse não só os portos marítimos, como também os fluviais, hidrovias e aeroportos. Mas de qualquer forma é uma decisão administrativa da qual não posso me furtar. Acho que o PSB cresceu muito nacionalmente, tem representação de 30 deputados federais e três senadores, três governadores de estados importantes como Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

JC – Na posição de vice-líder do governo, como o senhor vê as crises no Senado, envolvendo o presidente Renan Calheiros e o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz?

Beto – Vejo este momento de crise, sob o ponto de vista ético, quando chega na Câmara, no Senado, no Judiciário, no meio empresarial ou até mesmo nas estruturas policiais com um olhar mais otimista do que muita gente vê em momentos de crise. Vejo uma polícia livre para atuar. Foram 307 grandes operações da Polícia Federal durante o governo Lula sem qualquer restrição. Assim também como a Advocacia-Geral da União e a Procuradoria-Geral da República nunca tiveram restrições para agir. O governo Lula está procurando debelar a podridão, mesmo que muitas vezes isso implique geração de crises. Estamos preparados para denunciar a corrupção e os corruptos. Está havendo uma explosão de uma ferida que há muitos anos andava no silêncio corroendo as estruturas do País. Fico feliz de participar de um governo que tem permitido que isso venha à tona. Claro que é preciso fazer uma resguarda de que a pressa que temos em combater corruptos não pode apagar de nossa memória o fato de vivermos em um País que tem estado de direito, regras a serem observadas e cumpridas e o amplo direito à defesa que não pode ser deixado de lado. Aumentar o combate à corrupção sem, contudo, manifestar um pensamento totalitário, como se bastasse a prisão feita pela Polícia Federal para o indivíduo ser condenado. A prisão é importante, mas depois há um estado de direito a ser respeitado, ou seja, do inquérito do processo até o julgamento definitivo de todas as pessoas. Já foram presas 6.900 pessoas envolvidas em crimes desde o início do governo Lula. É um saldo importante. Meus olhos são mais generosos e muito menos pessimistas que o da maioria das pessoas.