A culpa é dos outros
- Posted by: Ass. Imprensa
- Posted in Artigos
- Tags:
[08/07/2008]
*Escrito por Angelito Cassol
A tolerância zero ao álcool no trânsito é um dos assuntos mais discutidos atualmente no país. O debate é importante para mobilizarmos a sociedade, eu, você, todos nós motoristas, em torno do combate às 100 mortes diárias no trânsito brasileiro, que atingem principalmente os jovens. A tendência é sempre acharmos que estamos imunes à violência e culparmos os outros pela motivos das tragédias.
Um dos efeitos da nova lei é provocar uma mudança de atitude de todos nós no volante, de forma semelhante a aplicação das leis que tornaram obrigatório o uso do cinto de segurança (inclusive no banco traseiro) e a obrigatoriedade do uso do capacete nos motociclistas. Por que, por exemplo, seria proibido dirigir utilizando o telefone celular e permitido beber e dirigir? Ambas as situações são igualmente graves, por provocarem total desatenção e perda do poder de reação do condutor.
A alcoolemia zero, defendida pelos especialistas da Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet), torna mais clara e objetiva as de campanhas educativas de trânsito. Não é possível mais tergiversar e fazer falsos cálculos de limites de doses de bebida, nunca respeitados. Ademais, não há mais dúvida científica de que a ingestão de bebida alcoólica, mesmo em pequenas doses, reduz a acuidade da direção veicular e que os efeitos de uma mesma dose de álcool variam de pessoa a pessoa, dependendo do sexo, peso e altura de cada indivíduo.
Ocorre que não se está proibindo ninguém de beber – apenas se pede às pessoas que, se beberem, não dirijam. Infelizmente, nós motoristas só vamos evitar ingerir bebidas se tivermos a certeza de que poderemos ser abordados pela fiscalização. A questão é divulgarmos ao máximo a nova lei e proporcionarmos os recursos para uma ampla campanha de educação e fiscalização de trânsito, como ocorre nos países de primeiro mundo. Afinal, o direito de dirigir é um direito precário. É uma concessão do Estado, mediante o cumprimento de requisitos: ter carteira de motorista, aptidão física e psicológica e cumprir as leis de trânsito. Portanto, a lei nº 11.705 vai dentro desta lógica: a de que o interesse da sociedade se sobrepõe a um pretenso direito individual.
Sejamos realistas, somos todos sobreviventes desta guerra no trânsito que tem afetado cada vez mais nossos amigos e familiares. Nosso comportamento precisa mudar. O trânsito das cidades recebe cada vez mais carros e motocicletas, além dos pedestres, que requerem atenção redobrada. As noites e madrugadas tem sido um pesadelo para os hospitais e pronto-socorros no atendimento de vítimas. Esta situação, já se transformou em problema de saúde pública, com custos exorbitantes. Por fim, destaco as palavras da escritora Marta Medeiros, em sua coluna no Jornal O Globo: “vamos parar de só julgar aquela turma chamada “eles”, aqueles lá fora que aparentemente fazem tudo errado, e passemos a olhar para “nós”, que somos ótimas pessoas e que nos sentimos abençoados pelo destino pela simples razão de termos as melhores intenções do mundo. Bebeu, a intenção mudou. Acabou a inocência, acabou o “não tive culpa”.
* Advogado