A partir da divulgação da implantação da inspeção veicular no Brasil, estima-se que esse negócio movimentará anualmente R$ 1,5 bilhões, ao qual deverá ser acrescido o faturamento de R$ 5 bilhões para o mercado de autopeças. Seu custo será de R$ 40 a R$ 80 por inspeção, com periodicidade anual ou bianual, sendo que a aplicação de uma ou outra dessas alternativas depende do tipo de veículo. Como o contribuinte brasileiro suportará mais esse fardo, além da sobrecarga de aumento substancial da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira); além do adicional de imposto sobre combustíveis que substituirá ou complementará a CPMF; além de uma elevação de contribuição ao INSS que atingirá até mesmo os aposentados? Pelo modelo adotado pelo Brasil, para a inspeção veicular, 85% dos recursos previstos, de R$ 1,5 bilhão, irão para as oficina de inspeção.
O que não foi oficialmente esclarecido é que grande parte dessa quantia será repassada a empresas internacionais que fornecerão os equipamentos de know-how para a inspeção. Nossas universidades, por meio de seus centros tecnológicos, estão perfeitamente capacitadas para apoiar as empresas nacionais que se dispuserem a assumir essas tarefas. Por que não dar à instituição universitária condições de exercer uma de suas funções básicas, isto é, desenvolver e absorver tecnologia, bem como repassá-las, formando mão-de-obra especializada no país em seus diversos segmentos?
No modelo apresentado para a inspeção diz-se que, do R$ 1,5 bilhão de volume de negócios, 10% ficarão com os Estados, leia-se também Abdetran, que por meio dos Detrans recebe 2% pagos pelos contribuintes pelo seguro obrigatório de seus veículos. O Código de Trânsito Brasileiro estipula a inspeção veicular, mas deixa a critério dos órgãos responsáveis sua suplementação. O certo seria discutir com as prefeituras que já pagam o ônus com o trânsito. Recorrendo à famosa sentença de Shakespeare, pode-se dizer que há algo de podre no reino da Dinamarca.
