O governo como parte da solução
- Posted by: Ass. Imprensa
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[25/05/2009]
Em outras crises internacionais, por não ter feito sua parte e nem consolidado os fundamentos econômicos, o Brasil recorria ao FMI. Agora mudou. O País adota medidas para estimular o consumo e manter o emprego mediante concessão de renúncias fiscais, pacote de estímulo habitacional e investimentos, tendo como carro-chefe as obras em energia e de infraestrutura do PAC. Em crises passadas o governo era parte do problema. Agora é parte da solução para manter o mercado aquecido.
Acabou a tese do Estado mínimo. Após o encontro em Londres do G-20 espera-se um controle mais severo dos Estados sobre o sistema econômico e financeiro, visando a recuperação da economia mundial e de estabelecimento de normas efetivas de fiscalização e transparência das operações do sistema financeiro global.
Enquanto se busca organizar o sistema econômico mundial, o Brasil precisa impor desafios estratégicos para o seu crescimento com sustentabilidade. O governo deve adotar políticas públicas para facilitar a vida dos empreendedores, estimulando a inclusão no mercado de trabalho e sugerindo que a população, tradicionalmente passiva, busque tornar-se mais inovadora.
Neste momento temos que investir nas pessoas, qualificá-las e lhes dar oportunidades. Por isso são bem-vindas as novas universidades federais e as centenas de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs), promovendo a qualificação profissionalizante e tecnológica da juventude brasileira.
As universidades devem também passar a ensinar as virtudes do empreendedorismo, principalmente nesta época de crise. Cursos superiores deveriam enfatizar a formação para os negócios e nas ligações com as indústrias. Por que não criar um curso de tecnologia de empreendedorismo e inovação?
Outra questão a ser reformulada em nosso sistema de ensino é a possibilidade de introduzir o ideal da meritocracia, na qual se premia com mais verbas os melhores institutos de pesquisa e seus pesquisadores.
Os negócios são cada vez mais dependentes do conhecimento, particularmente do técnico. Aproximadamente 85% dos negócios de alto crescimento criados nos Estados Unidos nos últimos 20 anos foram montados por diplomados de nível superior. É preciso, para tanto, que os departamentos de pesquisa das universidades ajudem a estimular a inovação em todas as áreas, do design e da saúde ao entretenimento.
Temos que criar agências de desenvolvimento regional, principalmente na região amazônica, e incentivar as já existentes para criar ambientes locais que permitam o florescimento do empreendedorismo, de novos produtos e processos. Ou seja, é preciso criar um ambiente favorável para que surjam pessoas capazes de oferecer uma solução inovadora para um problema.
Neste momento em que somos afetados pela crise internacional precisamos tirar proveito da situação. A crise pode permitir a liberação de capital e trabalho de setores já desaquecidos, permitindo aos recém-chegados recombiná-los de maneiras novas e imaginativas.
A era da informação torna cada vez mais fácil às pessoas comuns começarem seus negócios e mais difícil para os já estabelecidos defenderem seu território. As economias avançadas são caracterizadas por uma mudança de foco da manufatura para os serviços. As empresas de serviços são geralmente menores do que as manufatureiras e tem menos barreiras para entrar no mercado. Cabe aos governos terem a percepção dessa nova realidade para incentivar este setor de serviços que prospera.
Tudo leva a crer que a economia mundial não será mais a mesma. Os países emergentes do Brics terão papel preponderante no novo cenário. Para que o Brasil possa medir forças com a China e Índia terá que se converter a uma boa dose de empreendedorismo, especialmente introduzindo inovação em setores estratégicos, como da telefonia móvel, mídia digital, bioengenharia, meio ambiente, tecnologia limpa e purificação da água. Nossa tarefa é multiplicarmos a construção de incubadoras tecnológicas e Centros Vocacionais Tecnológicos (CVT), via Ministério da Ciência e Tecnologia.
Somente a pequena Israel tem mais de 4 mil companhias de alta tecnologia, mais de cem fundos de capital de risco e uma crescente indústria de serviço de saúde. Comparativamente, num continente como o Brasil, há muito ainda a ser feito. Para tanto, o governo precisa qualificar sua gestão e oferecer um planejamento que projete o nosso país para o futuro.
Beto Albuquerque
deputado federal e vice-líder do governo Lula
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