O Mercado e a socialização dos prejuízos
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[28/10/2008]
por Beto Albuquerque*
Os mercados se impuseram de forma absoluta sobre os poderes públicos nas últimas décadas. Foi um período em que se consagrou a política do “Estado mínimo”, no qual era “feio” se falar em medidas governamentais para estimular o desenvolvimento do país. Enquanto isso, ninguém poderia ousar falar dos riscos da economia virtual e a falta de controle dos integrantes do sistema financeiro mundial. E uma pergunta logo se impõe: as agências e outros organismos econômicos internacionais, que faziam previsões e submetiam nações as suas opiniões, rankings e classificações de risco, por que foram negligentes diante do estelionato que passou de banco em banco com os títulos hipotecários e as cobranças imobiliárias sem cobertura de ativos? Fato é que os gurus do capitalismo e os banqueiros montaram uma farsa invisível nos ganhos, no entanto, sentida nas suas conseqüências.
É patético ver um dos ícones do neoliberalismo, que por 18 anos foi o todo-poderoso presidente do banco central americano (Fed), Alan Greenspan , admitir que cometeu um erro ao rejeitar apelos para intervir no mercado de empréstimos imobiliários, que deflagrou a crise atual. Em depoimento no Congresso americano, afirmou que seu problema foi "presumir que os interesses próprios das organizações, especificamente dos bancos e de outros, eram o bastante para torná-los os mais capazes para a proteção de seus próprios acionistas", sem a regulação do governo.
Com a crise na economia global, talvez os poderes públicos recuperem capacidade de ação e tratem de promover uma melhor distribuição de poderes. Mas o que se está vendo, até agora, continua sendo a ditadura dos mercados. Os governos estão, neste momento, agindo e intervindo, mas o fazem, ironicamente, sob pressão dos mercados, para salvá-los. É o capitalismo socializando os prejuízos ocasionados pelo insucesso, com a conseqüente partilha dos recursos públicos entre os espertalhões fracassados. Os trabalhadores assalariados terão dificuldade de entender porque o sistema financeiro está sendo socorrido quando, muitas vezes, cadeias produtivas inteiras afundaram sem que houvesse do poder público qualquer injeção de recursos para preservação da produção e dos empregos.
Diante da queda dos países do primeiro mundo, a esperança é depositada na reação das economias dos países emergentes. Embora no Brasil muitas empresas tenham grande exposição à moeda estrangeira, a nossa economia é diversificada; o PAC introduziu o planejamento para os grandes investimentos em infra-estrutura; o país tem reservas de sobra para suavizar a crise e a agricultura foi incentivada para garantir o abastecimento. Tudo para não depender de forma exagerada das exportações e fortalecer o mercado interno, que tem muito a se expandir, incluindo milhões de brasileiros.
O governo Lula está fazendo a lição de casa desde 2003 e, por isso, enfrentaremos, com mais armas a crise de confiança e contração do crédito causada pela turbulência financeira internacional, com a responsabilidade que as nações do primeiro mundo, infelizmente, não tiveram. Intrigante é ver a oposição, e alguns setores empresariais, acusarem o nosso governo de intervencionista em razão das justas e apropriadas precauções apresentadas na MP 443, que autorizou o BB e a CEF a comprarem empresas financeiras em dificuldades.
Na real, os envergonhados porta-vozes do neoliberalismo verde-amarelo adoram o Estado desde que seja somente para pagar o pato.
*Deputado federal, vice-líder do governo na Câmara