Os biocombustíveis e a fome

Apr 25 2008
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[25/04/2008]

O álcool e os biocombustíveis viraram o bode expiatório da fome no mundo, segundo o Banco Mundial e ONU. Não há, nesta manifestação, palavra sobre subsídios agrícolas dos países ricos, que detonaram durante décadas a produção de alimentos em países pobres. Nem sobre subsídios americanos à produção do ineficiente álcool de milho.

Acredito que a preocupação em torno dos biocombustíveis não se aplica ao Brasil, mas à Europa e aos Estados Unidos. O Brasil é altamente competitivo em biocombustível, sem deixar de produzir alimentos. Até porque, ao contrário de muitos países, tem área plantável disponível. O Brasil é a última fronteira agrícola do mundo. É o único país com uma safra de mais de 100 milhões de toneladas de grãos e uma área livre para plantar de 90 milhões de hectares. Em termos de produção agrícola, somos o maior produtor mundial de açúcar, etanol, café, suco de laranja e tabaco e ocupamos a segunda posição em bovinos, soja e farelo de soja. Somos o terceiro produtor mundial de frangos. Novos produtos também surgiram na pauta de exportações agrícolas brasileiras, para mais de 100 países – hortícolas, frutícolas, vegetais, flores e plantas ornamentais – cresceram 10% ao ano.

O Brasil já possui 33 anos de experiência com biocombustíveis. O Proálcool foi lançado em 1975. O etanol de cana não compete com a produção de alimentos. Apenas 10% da área agrícola brasileira é ocupada por canaviais – e o Brasil ainda dispõe de imensas reservas de terras aráveis para crescer. Além disso, o governo recém está definindo o zoneamento agrícola para o cultivo de cana que irá determinar as áreas mais propícias para a produção da cultura. Caso do Rio Grande do Sul, que começa a intensificar o cultivo, especialmente no noroeste do estado.

Já o biodiesel, potencial substituto do diesel convencional, precisa corrigir alguns rumos para se tornar competitivo. A soja precisa ser esmagada em território nacional para aproveitamento do óleo como biocombustível e para a exportação do farelo. Isto é agregar valor a uma commoditie. A pesquisa precisa avançar na viabilidade de novas oleaginosas, como é o caso da canola, cultivada no período de inverno quando poucas alternativas existem. Muitas áreas de cultivo no RS estão ociosas neste período. O próprio trigo, cereal de inverno indispensável à alimentação humana precisa urgente de incentivo ao seu cultivo, com tecnologia, financiamento e garantia de preço justo ao agricultor. Infelizmente, o Brasil é dependente, quase na totalidade, da importação deste produto.

É preciso, cada vez mais, incentivar os agricultores e ao agronegócio a investirem no setor de alimentos processados, semiprocessados e alimentos industrializados. O crescimento da produtividade pode ser um indutor das agroindústrias, criando uma cadeia de valor adicionado ao agronegócio e até à agricultura familiar brasileira.

O Brasil é uma potência bioenergética em construção, que dispõe de muitas alternativas para aumentar a sua produção e exportar alimentos para o mundo. Ainda precisa corrigir as suas deficiências logísticas de estradas, ferrovias e portos.

A superação de todos os obstáculos dependerá de um projeto de país, inteligência estratégica, maturidade, um projeto de empresa agroindustrial e um cenário econômico que incentive os investimentos produtivos no agronegócio brasileiro.

Deputado federal, vice-líder do governo na Câmara dos Deputados