Telecomunicações: se não fosse bom ninguém comprava

Nov 01 1997
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[01/11/1997]

 

 

As telecomunicações, juntamente com a energia, microeletrônica, química fina, ciência dos materiais, mecânica de precisão, indústria aeroespacial, biotecnologia e engenharia genética, constituem em segmentos considerados áreas de primeiro grupo, no que diz respeito ao desenvolvimento. Basicamente, porque associam a pesquisa básica com a pesquisa aplicada, determinando a criação de conhecimento novo, riqueza do futuro.

 

Especificamente, no que se refere às telecomunicações, há consenso sobre a sua importância neste momento histórico, presente e futuro. Estamos vivendo a fase da revolução tecnológica e de informática. Ter a propriedade do sistema de telecomunicações hoje, diferente do passado, é ter a certeza de interagir decisivamente na política de desenvolvimento, de garantir atividades científicas e de conhecimento, absolutamente imprescindíveis para quem desejar optar por uma inserção soberana na globalização. É poder controlar as decisões no setor e assegurar fluxos de capitais contínuos ao longo do tempo, com direta interferência no funcionamento das atividades econômicas, além de manter um alto negócio, de espetacular rentabilidade, sem qualquer parâmetro com o passado.

 

A venda do sistema de telecomunicações implicará na transferência do poder de decisões políticas, a descapitalização e despatrimonialização do Estado, e, principalmente, o não atendimento às regiões de menor retorno econômico (em relação ao capital investido), o encarecimento de tarifas, assegurando a lógica do privado, de retorno rápido e altos lucros, e a certeza da monopolização privada.

O lamentável é que poucos estão dando-se conta que, na verdade, o que se faz com a privatização de setores, ora em diante tão rentáveis, é apenas resolver o problema de caixa dos governos eventuais. Certo é que logo acabará o dinheiro, os problemas permanecerão, os investimentos na área social continuarão só no discurso, mas aí, infelizmente, o patrimônio já se foi.

 

Aqui no RS, para exemplificar, até a data da eleição o governador Britto insistia em propagandear que jamais privatizaria a CRT. Traiu sua palavra! Sob a justificativa, até o ano passado, de que precisava de um sócio estratégico, e que tudo estaria resolvido, realizou a privatização parcial.

 

Agora, 1997, promove a entrega total. Traiu de novo!

 

Se estivesse preocupado em melhorar as telecomunicações, teria investido no próprio setor todos os recursos advindos da venda parcial da CRT, e com isto, já neste ano, a demanda estaria atendida. preferiu dar à GM. A população esperará até dezembro de 1998. Contudo, fato é que as tarifas já foram aumentadas em mais de 270% o tempo básico de utilização foi reduzido, e o número mínimo de ligações igualmente!

 

Por tudo isto, impõe-se um questionamento agora, com as tarifas atualizadas, com as adequações tecnológicas aplicadas, com a emergência das telefonias móveis e digitais, a ampliação da comunicação de dados e a Internet, enfim, com a massificação do consumo de seus serviços e a explosão do número de usuários e assinantes, quando seria chegada a hora do Estado usufruir e obter significativos retornos econômicos, capazes de possibilitar-lhe o atendimento rápido e eficiente de todas as demandas, será prudente e responsável a entrega de seu patrimônio, seu potencial financeiro e a renúncia ao papel estratégico na área de comunicações?

As telecomunicações são um excepcional negócio para quem compra. Tão bom que merece a disputa internacional e o pagamento de altíssimo ágio.