2010: o ano da eleição sem Lula

Dec 31 2009
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O Nacional – Passo Fundo, 31/12 a 3/1/2009

Para avaliar o ano que termina, com opinião
sobre os governos Lula e Yeda Crusius e ainda
para analisar o panorama das eleições 2010,
ON entrevista o cientista político Antônio
Kurtz Amantino. Ele considera que tanto Lula
quanto Yeda deixarão heranças positivas para
os futuros governantes e que o embate eleitoral
será dos “não carismáticos” em Brasília
(referência a Serra e Dilma), e de “gre-nal
político” no Rio Grande do Sul, com o velho
duelo PMDB x PT.

Para Amantino, Lula ficará marcado na
história política brasileira como o presidente
que contribuiu de forma decisiva para a
consolidação da democracia no país. “Lula foi
um marco na política nacional, pelo fato de ter
sido eleito e governado sem oferecer nenhuma
ameaça de ruptura da nossa ordem constitucional.”
Segundo o estudioso, Lula teve papel
decisivo nessa consolidação porque não
insistiu, ao contrário de outros governantes
latino-americanos, em violar a Constituição
para poder ficar mais tempo no poder, por
meio de uma reeleição. “Isso é algo que até os
adversários ideológicos do presidente teriam de
reconhecer”, avalia.
Amantino destaca ainda a política econômica
adotada pelo governo Lula, marcada pela
continuidade do modelo instituído por Fernando
Henrique Cardoso. Isso se deu, segundo o
cientista, pelo fato de que a esquerda inteligente,
chamada também de “esquerda vegetariana”,
percebeu que o regime comunista e a
economia socialista não funcionam.”Durante
muito tempo o PT e a esquerda defendiam um
plano econômico totalmente diferente do plano
FHC. Queriam, por exemplo, reestatizar as
empresas que haviam sido privatizadas, não
reconhecer a dívida externa, não se preocupavam
com a estabilidade monetária, enfim. Mas
o Lula é um político pragmático, percebeu que
a melhor maneira de se manter no poder é
manter aquela estrutura monetária, é preciso
manter o valor da moeda”, explica Amantino.

Os “não carismáticos”

A expectativa de Amantino é de que não
haverá grandes mudanças estruturais e
econômicas no país, seja quem for o eleito,
Serra ou Dilma, os chamados “não carismáticos”.
“Isso devido ao momento histórico
que estamos vivendo. Os governantes brasileiros
enfim se deram conta de algo que se
sabe desde a Idade Média: a função principal
do governante é manter o valor da moeda,
isso é vital. Mantendo-se o valor da moeda, é
meio caminho andado para que a sociedade
produza riqueza”, salienta.
Sobre Dilma, Amantino acredita que ela já
demonstrou, como secretária de governo e
ministra da Casa Civil, ser uma boa administradora.
“Eu tenho ouvido muita gente
falando no nome de Henrique Meirelles para
vice da Dilma Roussef. Ele já se filiou ao
PMDB e pode aparecer na disputa. Vejo isso
como um recado do PT ao mercado financeiro:
a Dilma é uma ex-guerrilheira, mas ela
não vai fazer aventura econômica.”
Sobre José Serra, o cientista considera que
ele leva vantagem por ser um homem bastante
conhecido, com boa biografia e sem nenhuma
mancha política. “Trata-se de um social
democrata de carteirinha. É um bom administrador,
um político com ilibada biografia. O
que se diz é que não é carismático e isso em
política pode ser decisivo. Às vezes, um bom
administrador e bom cidadão não vai bem
porque não é carismático. Aliás, a própria
Dilma é nada carismática”, avalia.

Crise na direita

Outro fator destacado pelo cientista é que as
disputas ao Piratini e ao Planalto estão demonstrando
mais uma vez a crise nos partidos
de direita no país. “Tanto PT quanto PSDB
são partidos de centro-esquerda. As forças que
dominam o PT são sociaisdemocratas. E onde
está a direita? O antigo PFL, agora DEM, está
enterrado depois da crise em Brasília e o PP é
um partido que não tem viabilidade eleitoral
para a Presidência”, analisa.

Yeda Crusius

Na análise de Amantino, a governadora
Yeda Crusius teve um grande mandato sob o
ponto de vista da política econômica. “Essa
será a grande herança do governo Yeda, e
talvez os gaúchos serão gratos a isso por
muitos anos. Ela alcançou o déficit nas
contas do Estado. Isso significa dizer que os
próximos governantes, se tiverem sabedoria,
poderão se beneficiar de uma situação financeira
favorável. Porque tradicionalmente os
antigos governantes iam empurrando o déficit
sempre com a barriga”, considera. Para o
estudioso, o problema do governo Yeda, que
deve marcar negativamente a sua passagem
pelo Piratini, foram a questão política. “Do
ponto de vista político o governo foi um
desastre”, resume Amantino.

Gre-Nal político

Amantino considera que a eleição no Estado
será marcada por um “encontro clássico, quase
que um gre-nal político: PT contra PMDB”. Para
ele, é muito difícil arriscar um palpite de quem
será o vencedor, ainda mais existindo outros
políticos importantes na disputa, como a própria
governadora Yeda e possivelmente o deputado
federal passo-fundense Beto Albuquerque.