A eleição de Severino
Feb
17 2005
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Jornal Agora
Jornal Agora, 17/02/2005
A eleição de Severino
O governo sofreu sua maior derrota no Legislativo com a eleição na madrugada de ontem de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a Presidência da Câmara dos Deputados, fato inédito na história recente, já que não há registro de vitória de um candidato de oposição numa disputa com um governista para dirigir a instituição.
Severino, que assumiu ontem como o 99º presidente da Câmara, teve 300 votos no segundo turno, 105 a mais do que Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), candidato apoiado pelo Palácio do Planalto, que obteve 195 votos. Logo em seu discurso de posse, adotou um tom conciliador ao dizer que não criará “empecilhos ao meu conterrâneo de Pernambuco [o presidente Lula]” e prometeu aumentar o salário dos deputados – de R$ 12.800 para R$ 21.500 -, o que ajudou a seduzir os seus 300 votantes.
A manifestação do Hino Nacional puxado pelos apoiadores de Severino foi assistida por perplexos petistas, que não conseguiam acreditar na quebra da tradição segundo a qual a maior bancada da Casa – no caso, o PT, com 91 deputados – indica o presidente.
A votação demorou mais de 12 horas. Começou às 18h de segunda, e o resultado foi proclamado às 6h38 de ontem. No primeiro turno, Greenhalgh venceu com 207 votos contra 124 de Severino. O candidato rebelde do PT, Virgílio Guimarães (MG), obteve 117 e ficou em terceiro. “Esse episódio foi uma explosão de uma coisa contida, de todo um sentimento anti-PT”, afirmou o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). “Votamos contra o Lula. Começamos hoje a derrotar a reeleição dele”, disse José Carlos Aleluia (BA), que também foi candidato e recebeu apenas 53 votos.
A traição foi clara, facilitada pelas votações secretas. A base governista soma 377 deputados, 73% do total de 513. “Os partidos que compõem o governo não foram leais. Senão todos, grande parte”, disse Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos vice-líderes do governo. A suspeita paira sobre PMDB, PTB e PP, que freqüentemente se dizem insatisfeitos com o atendimento dado pelo Planalto: não-liberação de verbas e não-efetivação de indicados para cargos federais.
A responsabilidade pelo fracasso também era atribuída aos ministros políticos, em especial Aldo Rebelo (Coordenação Política) e José Dirceu (Casa Civil). A derrota do Planalto se torna mais contundente porque vários ministros se empenharam por Greenhalgh. Eunício Oliveira (Comunicações), por exemplo, estava às 4h de ontem no Salão Verde da Câmara tentando assegurar a fidelidade do PMDB.
Greenhalgh cumprimentou Severino, mas não quis dar entrevistas. Virgílio afirmou que não se sente culpado pela derrota petista e disse que sempre alertou haver na Casa um sentimento de independência em relação ao Planalto.
Severino, 74, que terá mandato como presidente até fevereiro de 2007, apelidado de “presidente do sindicato dos deputados”, é defensor histórico do aumento de verbas para os deputados.